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Foto: European Parliament

Cabe ao Parlamento Europeu uma frente ampla para frear a extrema-direita

Macron dissolve Assembléia e antecipa eleições e primeiro ministro belga Alexander de Croo, anunciou sua renúncia. Democratas marcham por toda Europa contra o avanço da extrema-direita.
Armando G. Tejeda
La Jornada
Madri

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Diante do crescimento da extrema-direita em 18 dos 27 países que integram a União Europeia (UE), a fórmula mais provável para evitar sua influência nas políticas públicas dos próximos cinco anos é reeditar a grande coalizão que sustentou a legislatura que está terminando, apontaram analistas. Ou seja, manter-se-ia o pacto entre o Partido Popular Europeu (PPE) de direita, que somou 185 deputados, a Aliança Socialdemocrata, com 137, e os liberais de centro-direita, Renovar Europa (RE), que têm 79 cadeiras.

Dessa forma, chegariam a 401 deputados dos 720 que integram o Parlamento Europeu, uma ampla maioria para nomear os membros da Comissão e do Conselho europeus, os conselheiros, a presidência do Parlamento e o Alto Representante para Assuntos Exteriores e Política de Segurança, que atualmente é o espanhol socialista Josep Borrell. Isso também permitiria manter as políticas públicas em matéria de meio ambiente, agricultura e migração.

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Os dois grandes partidos já fizeram seus primeiros movimentos para aproximar posições e iniciar as negociações. Desde a direita tradicional europeia, se perfila como a responsável por fechar os pactos a alemã Ursula von der Leyen, atual presidenta do bloco, que aspira à reeleição. Enquanto que, desde os partidos socialistas, as negociações estarão lideradas pelo chanceler federal alemão, Olaf Scholz, e o presidente do governo da Espanha, Pedro Sánchez. A data limite para fechar um acordo é 16 de julho, dia marcado para a sessão inaugural do novo Parlamento.

Von der Leyen em cima do muro

Von der Leyen, que antes declarou sua intenção de fechar a porta “aos extremos de direita e esquerda”, afirmou ontem que “nestes tempos turbulentos, precisamos de estabilidade, precisamos de responsabilidade e precisamos de continuidade” e advertiu aos outros grupos que os perdedores das eleições não têm direito de ditar com quem falamos e com quem não.

A principal mensagem foi dirigida à primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, que anunciou que seu país está chamado a ter um “papel fundamental” na construção da “nova Europa”, depois que o grupo que lidera, os Conservadores e Reformistas Europeus (CRE), obteve 73 cadeiras; à francesa Marine Le Pen, de Identidade e Democracia (ID), que conseguiu 58 cadeiras; e ao húngaro Viktor Orbán, que não pertence a nenhum grupo específico, mas cuja formação de extrema-direita conseguiu uma vitória importante, alcançando 11 dos 21 assentos que correspondem ao seu país.

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Entre os grupos de ultradireita também houve movimentos, como o da Alternativa para Alemanha (AfD), a segunda força mais votada nesse país, que afastou de sua delegação parlamentar seu líder eleitoral, Maximilian Krah, que afirmou que “um SS não era automaticamente um criminoso”. Esta declaração provocou a expulsão do partido do grupo da ID, por isso não se descarta que agora voltem a integrá-lo.

“Protejamos nossa Europa unida!”

O presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, diante do crescimento em seu país de forças neofascistas, afirmou: “nunca esqueçamos os danos causados na Europa pelo nacionalismo e pelo ódio. Nunca esqueçamos o milagre de reconciliação que a UE conseguiu. Protejamos nossa Europa unida!”

Na França, o presidente Emmanuel Macron reafirmou sua decisão de dissolver a Assembleia Nacional e convocar eleições legislativas antecipadas: “Confio na capacidade do povo francês para tomar a decisão correta para si mesmo e para as futuras gerações”, afirmou.

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Enquanto isso, os partidos franceses de esquerda La France Insoumise, o Partido Socialista, os Verdes, o Partido Comunista, a Esquerda Republicana e Socialista, e o movimento Geração, anunciaram um acordo para se unir em uma frente popular contra a ultradireita de olho nas eleições, com “candidatos únicos no primeiro turno”, que será realizado em 30 de junho (mais informações a seguir). O objetivo da aliança é “levar a cabo um programa de rupturas sociais e ecológicas para construir uma alternativa a Macron e combater o projeto racista da extrema-direita”, explicaram.

Marchas contra extrema-direita

Nas ruas de cidades como Paris, Marselha e Rennes, e também em Bruxelas, registraram-se marchas de protesto para chamar a atenção sobre o crescimento da extrema-direita no continente. Um dos atos mais emocionantes ocorreu nas portas do Parlamento Europeu, em Estrasburgo, onde os manifestantes cantaram um dos hinos históricos da resistência na Itália contra o fascismo, o Bella Ciao.

Por outro lado, um dos poucos líderes internacionais que celebraram o avanço dessas forças foi o presidente da Argentina, Javier Milei, ao afirmar que “as novas direitas arrasaram nas eleições europeias e colocaram um freio em todos aqueles que empurram a Agenda 2030, uma agenda desumana desenhada por burocratas, para benefício de burocratas. Os povos da Europa falaram e revalidaram com seu voto nossa visão, apesar dos lamentos dos progressistas locais e internacionais, jornalistas e políticos que questionaram o novo posicionamento da Argentina, para disfarçar suas intenções globalistas”.

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Abalo político na França e Bélgica

Depois que a extrema-direita avançou nas eleições europeias, a França e a Bélgica sofreram uma reviravolta política. O presidente Emmanuel Macron decidiu dissolver a Assembleia Nacional francesa e convocar eleições antecipadas, enquanto o primeiro-ministro belga, Alexander de Croo, anunciou sua renúncia. Na França, o partido de extrema-direita Reagrupamento Nacional (RN), de Marine Le Pen, obteve cerca de um terço dos votos nas eleições para o Parlamento Europeu, o dobro da aliança liberal Renovar Europa, liderada pelo presidente Macron.

Diante do resultado catastrófico, o mandatário dirigiu uma mensagem à nação: “A principal lição é clara: este não é um bom resultado para os partidos que defendem a Europa. Decidi dar a vocês a opção de escolher seu futuro parlamentar. Esta decisão é difícil, mas é principalmente um ato de confiança. Ouvi a mensagem de vocês. Dentro de alguns instantes, assinarei o decreto de convocação das eleições legislativas, que ocorrerão em 30 de junho no primeiro turno”.

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Nunca antes as eleições europeias tiveram um impacto tão devastador na política doméstica de um país do bloco. Jordan Bardella, da RN, afirmou: “Macron está esta noite como um presidente enfraquecido. Estamos prontos para exercer o poder, prontos para pôr fim a essa imigração em massa, fazer do poder de compra uma prioridade e prontos para reviver a França”.

Resultado colateral

As eleições antecipadas não afetariam Macron, que permaneceria na presidência até 2027, mas poderia ter que compartilhar o poder com um governo de outra cor política pouco antes dos Jogos Olímpicos de Paris 2024, uma “coabitação que só ocorreu duas vezes entre conservadores e socialistas desde 1958”.

Centenas de pessoas se manifestaram no domingo (9) à noite na Praça da República, em Paris, contra a extrema-direita: “Fascistas às portas do poder. União já!”, lia-se em uma das faixas.

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Enquanto isso, na Bélgica, após o desastre de seu partido Open VLD, o primeiro-ministro anunciou: “Para nós é uma noite particularmente difícil, nós perdemos. A partir de amanhã, renuncio ao meu cargo de primeiro-ministro, mas os liberais são fortes e regressarão”. Ontem, os belgas votaram para eleger o Parlamento federal, regionais e membros do Parlamento Europeu.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
* Com informação de agências.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Armando G. Tejeda Mestre em Jornalismo pela Jornalismo na Universidade Autónoma de Madrid, foi colaborador do jornal El País, na seção Economia e Sociedade. Atualmente é correspondente do La Jornada na Espanha e membro do conselho editorial da revista Babab.

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