O presidente Jair Bolsonaro e os ministros Sergio Moro (Justiça) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores) protagonizaram um mico de repercussão internacional neste final de semana. Reuniram-se às pressas com a intenção de transformar a prisão de Cesare Battisti, na Bolívia, num show midiático para delírio da militância de extrema-direita e apostando que isso desgastaria a imagem da esquerda. Carlos Bolsonaro, filho do presidente, foi ao Twitter dizer que estava ansioso pela reação do PT, PSOL e PCdoB.
Para “receber” Battisti, o governo brasileiro armou um verdadeiro circo: despachou releases, mobilizou militares e imprensa e mandou um avião da Polícia Federal buscar o preso… mas os governos da Bolívia e da Itália frustraram os planos da trupe bolsonarista. Battisti seguiu direto de Santa Cruz de La Sierra para Roma.
O episódio se soma a outros vexames de repercussão internacional deste início de gestão do governo direitista, como a baixíssima presença de delegações internacionais na posse de Bolsonaro; a enxurrada de editoriais de jornais norte-americanos e europeus apontando Bolsonaro como um risco para a democracia, o criticado e risível discurso de posse do chanceler Ernesto Araújo e a saída intempestiva do Brasil do Pacto Global de Migração.
Contribuiu para acabar com a festa de tintas macabras do governo de extrema-direita a postura do presidente boliviano, Evo Morales, que se recusou a negociar com o governo brasileiro e estabeleceu uma linha direta com o governo italiano.
Brasil 247
PF mandou avião buscar Battisti para ‘show’ midiático de Bolsonaro; voltou vazio
A cúpula do governo Bolsonaro movimentou-se desde logo cedo em frenesi para arrancar seu “troféu” das mãos dos bolivianos. No domingo (13), logo cedo, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, saiu de uma reunião com Bolsonaro e outros membros da cúpula do governo no Palácio da Alvorada e garantiu que antes de seguir para a Itália, Batistti viria ao Brasil, em avião da Polícia Federal. Outros assessores do primeiro escalão do governo também saíram espalhando a “notícia” para a imprensa. A expectativa criada por estas declarações fez aumentar ainda mais o vexame bolsonarista quando se soube que Battisti iria direto para a Itália, sem passar pelo Brasil.
A própria militância bolsonarista nas redes sociais acusou o fiasco. A prisão de Cesare Battisti ocupou os primeiros lugares entre os assuntos mais comentados durante toda a manhã e tarde deste domingo (13), mas no final da tarde já não figurava nem entre os Top 10 do Twitter.
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O jornalista Marcelo Auler, do Jornalistas pela Democracia, registrou em seu blog: “A decisão do governo boliviano (…) atropelou as vontades do marketing político do governo Bolsonaro que acabou no papel ridículo de ver a aeronave da Polícia Federal retornar de Santa Cruz de La Sierra, sem o desejado troféu. Se fosse bem orientado politicamente, inclusive por seus ministros da Justiça e das Relações Exteriores, o atual governo brasileiro poderia evitar este “papel de bobo”.
Olé na Polícia Federal
Auler acrescenta: “Perdido o 'troféu', restou ao governo de Bolsonaro, na eterna busca de um marketing político, divulgar através dos jornalistas de confiança uma possível ajuda que a Polícia Federal teria dado para localizar Battisti na Bolívia. Como a narrada na reportagem do G-1 – Inteligência da PF informou autoridades bolivianas sobre fuga de Battisti para o país. Porém, a esta versão, se contrapõe outra matéria jornalística, publicada na Folha de S.Paulo, sobre o “olé” que o perseguido italiano deu na Polícia Federal, desde que desapareceu do mapa em 14 de dezembro passado.
Na reportagem Battisti deu drible na PF, que o procurou em casa de amigo de Lula e em barco no Amazonas, a jornalista Camila Mattoso narra os dribles que o italiano foragido deu nos agentes federais e levou a nova diretoria da Polícia Federal classificar como “uma das mais fracassadas operações da história do órgão”, as buscas realizadas desde a emissão do seu mandado de prisão, em dezembro passado.
Sem informações, os agentes foram procurar o italiano até na casa do advogado e amigo do ex-presidente Lula, o ex-deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh. Acrescenta ainda a matéria cuja leitura é recomendada: “Em um das mais excêntricas diligências, agentes tiveram que ir a um barco do rio Amazonas para verificar, sem sucesso, se Battisti estava presente”.