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Foto: Center for American Progress

Colômbia: Uribe pode ser condenado a 12 anos de prisão em julgamento por suborno e fraude

Caso de Uribe “significa um avanço da democratização da justiça e da sociedade colombiana”, afirma Iván Cepeda, senador pelo Pacto Histórico
Jorge Enrique Botero
La Jornada
Bogotá

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Na última sexta-feira (17), teve início o esperado e muito divulgado julgamento do ex-presidente da Colômbia Álvaro Uribe (2002-2010), o primeiro ex-mandatário na história do país a ser processado nos tribunais.

Sandra Heredia, juíza 44 do circuito desta capital, declarou o início do julgamento às 8:30 da manhã, em meio a um grande alarde midiático e extrema atenção da sociedade colombiana, que acompanhou ao longo do dia as exposições da acusação e da defesa do ex-presidente, acusado de manipular testemunhas e cometer fraude processual.

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No começo da audiência, o promotor responsável pelo caso, Gilberto Villarreal, conseguiu que fosse incluído também o crime de suborno de testemunhas, enquanto a defesa de Uribe, a cargo do polêmico advogado Jaime Granados, solicitou em vão que fosse declarada a nulidade de todo o processo, alegando que houve violação ao devido processo legal e ao direito à defesa.

“Vítima” de sua própria estratégia

Uribe, que segundo especialistas em temas legais foi vítima de sua própria estratégia, ao tentar que se abrisse uma investigação penal contra o senador Iván Cepeda por, supostamente, induzir alguns cidadãos privados de liberdade a testemunharem contra o ex-presidente, acabou processado pelo mesmo delito, no que muitos juristas qualificam como “efeito bumerangue”.

Poucas horas antes do início do julgamento, o próprio Cepeda disse que este episódio deve ser motivo de celebração, pois “significa um avanço da democratização da justiça e da sociedade colombiana”, destacando que era a primeira vez que um ex-presidente da República teve que se apresentar perante os tribunais na condição de acusado.

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A declaração do senador do Pacto Histórico, coalizão de governo que levou Gustavo Petro à presidência em 2022, coincidiu com um extenso discurso do ex-chefe de Estado diante de um enxame de microfones e câmeras dos meios de comunicação.

Queixas

A partir de uma de suas propriedades, na cidade de Rionegro, Uribe se queixou: “parece que as garantias não se aplicam para mim”. Depois criticou duramente todos os magistrados que estiveram envolvidos nas investigações que o levaram ante os tribunais.

Segundo o ex-presidente, funcionários da justiça vazaram peças desconexas para alguns meios de comunicação, gerando a imagem de sua culpabilidade antes de ir a julgamento. “Acreditaram em um preso condenado a 40 anos de prisão”, disse Uribe em alusão a Juan Guillermo Monsalve, principal testemunha do caso. Em tom enérgico, mas argumentando como uma vítima, o ex-mandatário disse que seus antagonistas políticos terminaram se tornando verdugos judiciais e – sem mencionar nomes – assegurou que muitos deles foram cúmplices e aliados das extintas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC).

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“Jamais enganei a justiça e minha vida pública não conhece a mentira”, assegurou Uribe uma hora antes do início do julgamento contra ele. Advogados especialistas consideram que o processo judicial contra Uribe foi meticuloso e conta com um abundante arsenal probatório, baseado principalmente em testemunhos.

Se for considerado culpado, o ex-presidente poderia ser condenado a até doze anos de privação de liberdade, pena prevista pelos códigos para os delitos de fraude processual e manipulação de testemunhas.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Jorge Enrique Botero Jornalista, escritor, documentarista e correspondente do La Jornada na Colômbia, trabalha há 40 anos em mídia escrita, rádio e televisão. Também foi repórter da Prensa Latina e fundador do Canal Telesur, em 2005. Publicou cinco livros: “Espérame en el cielo, capitán”, “Últimas Noticias de la Guerra”, “Hostage Nation”, “La vida no es fácil, papi” y “Simón Trinidad, el hombre de hierro”. Obteve, entre outros, os prêmios Rei da Espanha (1997); Nuevo Periodismo-Cemex (2003) e Melhor Livro Colombiano, concedido pela fundação Libros y Letras (2005).

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