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Derrota do PSDB, resiliência do PT e fascismo do PSL: Para onde vão deixar que levem o país?

Confronto do segundo turno será entre uma seita fascista e um partido político. Apenas democracia e soberania poderão salvar a nação
Paulo Cannabrava Filho

Tradução:

Agora chegou a hora da verdade. Eleição não é pesquisa. Embora a consideremos uma farsa, o resultado é real e as consequências também são e serão reais.

Colunista do Estadão, de grande prestígio Eliane Catanhêde diz que agora se confrontam duas seitas. Que simplismo! Raciocínio como este só contribuem para o processo de destruição da democracia que está em curso.

O confronto real é entre uma seita (pois fascismo tem tudo para ser qualificado de seita) e um partido político, com estatuto e programa — quer gostem ou não os áulicos de neoliberalismo — que é o maior partido do país, estruturado desde a base.

Não sou petista, nem nunca fui, mas, como jornalista e observador contumaz da cena política cabocla, tenho que tirar o chapéu à comprovação da força desse partido. Há décadas estão tentando destruí-lo. Ainda no governo do ex-presidente Lula (2003-2011), liquidaram com sua direção executiva, cassando e prendendo seu presidente (José Genuíno), secretário-geral (José Dirceu) e tesoureiro (Delúbio Soares). O partido continuou a crescer.

Confronto do segundo turno será entre uma seita fascista e um partido político. Apenas democracia e soberania poderão salvar a nação

Reprodução Charge Laerte
No Rio de Janeiro, ocupado militarmente, em pleno dia, milícias ilegais se enfrentam a bandos também ilegais assustando a população.

A Lava Jato cometeu todo tipo de arbitrariedade com a cumplicidade de supremos juízes. Tal o tsunami midiático de denúncias e demonização do partido que até alguns quadros tremeram nas bases e desembarcaram. O partido perdeu prefeituras, deputados e governadores, mas resistiu.

Prenderam o Lula e, para pasmo da imprensa e governos de todo o mundo, cassaram seu direito de disputar a eleição. Foram anos de trabalho para demonizar o líder e o partido sem que isso abalasse sua permanência na preferência do eleitorado.  Era preciso tirá-lo do páreo para ganhar a eleição no tapetão.

Fato inusitado. O Brasil nunca chamou tanta atenção mundial — a não ser em Copa do Mundo — como nestes tempos de prisão de Lula e da farsa eleitoral com um facínora ameaçando ganhar a eleição. O capitão Jair Bolsonaro, mais que homofóbico, pregou abertamente a tortura e assassinato de adversários políticos.

De onde veio tanto dinheiro?

Quem o conhecia fora das fronteiras do Rio de Janeiro? Como é que de repente começa a crescer e com um discurso infundindo o ódio? O certo é que esse candidato nunca teria chegado aos índices de preferência que chegou se não fosse a intensa doutrinação dos meios de comunicação e das igrejas neopentecostais. Doutrinação, alienação e medo…

E vieram com todo o dinheiro do mundo para conseguir colocar na disputa o pior dos candidatos que poderiam ter. Não importa quem seja. O que se elege não é uma pessoa: é uma mentira, é uma emoção, uma reação a um medo infundado, mas profundamente enraizado.

É aceitável que um meio de comunicação assuma posição contrária dos candidatos reformistas e prestigiem os conservadores. Afinal, historicamente nunca aceitaram as reformas de base e menos ainda depois de prisioneiros do pensamento único imposto pela ditadura do capital financeiro.

Não se pode confundir liberdade de imprensa com cumplicidade com a política de ódio. Não se pode confundir liberdade de expressão com difusão do ódio e do medo. A história cobrará responsabilidade por esse crime.

A população foi pega desprevenida, pois ninguém esperava que isso seria uma guerra. E as lideranças partidárias fizeram ouvidos moucos às advertências que vieram de todas as partes do mundo de que estamos sendo vítimas de uma guerra de quarta geração.

O que fizeram nas redes sociais foi uma operação de guerra, e esse é grande obstáculo a superar. Não estamos preparados para isso. Temos que ir no corpo-a-corpo, no boca-a-boca, ganhar a consciência das pessoas, despertá-las da letargia hipnótica.

Os partidos não são partidos

A situação do país estava ruim, depuseram a Dilma para consertar. Ficou pior a emenda do que o soneto. Desindustrialização e desnacionalização aceleradas, descapitalização com a venda de ativos, corrupção descarada, judicialização da política e financeirização da economia.

Os artífices de tudo isso foram os partidos políticos que não honram seu povo nem a história pátria. Partidos golpistas.

O PMDB vendo despencar a passos rápidos seu cacife eleitoral, mudou de nome para MDB a ver se conseguia navegar no prestígio da antiga frente democrática que ajudou a derrotar a ditadura. Não conseguiu. De maior partido da República de 1988 assiste hoje à sua menor performance eleitoral. Nunca teve tão pouco voto como neste 2018.

Como chamar de movimento democrático um partido que precisou dar um golpe em um governo legitimamente  eleito para conquistar o poder? Foi o partido que perpetrou todas as maldades contra os trabalhadores, sucateando as estatais e os serviços públicos essenciais como saúde e educação.

Que socialdemocracia é essa?

E o PSDB, como ousa titular-se de Partido da Social Democracia Brasileira? Partido que não aceita a derrota de seu candidato e se alia ao golpe pode ser democrático?

O primeiro estelionato eleitoral contra os eleitores brasileiros foi praticado pelo PSDB. Usurpou o nome da socialdemocracia para capturar o voto em um momento histórico em que era moda ser de esquerda. Vivia-se a euforia das campanhas pela anistia, pelas eleições diretas, pela constituinte, e reconstrução dos partidos políticos.

As pessoas não procuraram saber quem era Fernando Henrique Cardoso. Preferiram ser enganados e o resultado foi que, com a legenda da socialdemocracia, Fernando Henrique executou o mais entreguista dos programas neoliberais.

Aécio Neves perdeu a eleição para Dilma Rousseff por 3,5 milhões de votos, algo como 3%. Ele achou que estava dentro da margem de erro e contestou a validade do pleito. Só que não era pesquisa, era voto na urna. Prometeu fazer da vida de Dilma um inferno e fez.

O PSDB cometeu o segundo estelionato ao apoiar o golpe para derrubar um governo constitucionalmente eleito e se aliar à ala mais corrupta do PMDB e do Baixo Clero. Três tucanos no ministério do ilegítimo Temer: José Serra, no Itamarati, substituído por Aloísio NunesBruno Araújo, no das Cidades e Luislinda Valois, no dos Direitos Humanos.

Aécio Neves quis fazer uma nova capital nos arredores de Belo Horizonte e está sendo investigado por ter roubado bastante dinheiro. Está metido na construção ilícita de aeroporto, no caso do helicóptero com 400 toneladas de cocaína (ninguém mais falou nisso), de receber dinheiro da Odebrecht e dos Irmãos Batista. Não está preso e elegeu-se deputado federal.

Beto Richa, ex-governador do Paraná, está preso; Reinaldo Azambuja, do Mato Grosso do Sul, preso; Alckmin terá que responder à denúncia de falcatruas no Metrô e no Rodo (Rouba) Anel.

De estelionato a estelionato…

O candidato do PSDB, Geraldo Alckmin teve todo o tempo de televisão do mundo (mais que a soma dos demais) e não conseguiu alcançar sequer os dois dígitos!

Fraqueza do candidato ou do partido? O Geraldinho perdeu de 15 a 60% para o Bolsonaro na sua própria terra, Pindamonhangaba, no interior de São Paulo. Quer vexame maior que esse?

O problema, já foi dito aqui, é que o PSDB é um partido de direita e quis passar por partido de centro. O entreguismo, aliado ao golpismo, fez o resto. É como se o tiro tivesse saído pela culatra. Quis acabar com o PT, sem categoria nenhuma, acabou com o próprio partido e empurrou a direita para o fascismo. Beleza de papel para ficar na história!

Vão criar vergonha ou vão continuar na trilha da fascistização?

O candidato ao governo do estado de São Paulo João Doria atuou por conta própria ou foi estratégia do partido declarar voto em Bolsonaro? Quem inventou o Dória?

Doria foi eleito junto com outros 803 prefeitos, cem a mais do que na eleição anterior. Quem são esses caras? Socialdemocratas, seguramente, não são.

Eis aqui um novo estelionato eleitoral perpetrado pelos tucanos. Aceitar a filiação e lançar a candidatura de João Doria à Prefeitura paulistana. Denunciamos, na ocasião, que era um fascista. Não demorou para mostrar as garras da traição contra seu próprio padrinho, Alckmin, e tampouco para declarar o voto a Bolsonaro, do PSL.

Entrementes, na capital de São Paulo, o diretório municipal do PSDB expulsou 17 de seus quadros — personalidades históricas do partido, como o ex-governador Alberto Goldman. É o bolsonarismo explícito da turma do João Doria que quer ser a todo custo governador de São Paulo.

Os próceres tucanos pensavam que estavam em campanha política. Não se deram conta de que isto é uma guerra.

Como os tucanos vão explicar isto?

Agora você tem como candidato o protótipo da violência, vítima da própria violência que apregoa. Quase morreu esfaqueado e faz burla apontando os dedos como quem dispara uma arma. Pago pela indústria armamentista, apregoa que vai armar a população para que reaja à violência.

Como ele prega claramente que se deveria matar todos os adversários políticos, alguém seguindo sua recomendação tentou matá-lo. Na Bahia, obediente às suas recomendações, um de seus eleitores matou um mestre capoeira só porque disse que votaria no PT.

No Rio de Janeiro, ocupado militarmente, em pleno dia, milícias ilegais se enfrentam a bandos também ilegais assustando a população. Gente, o que se está acontecendo no Rio de Janeiro é uma guerra civil. De janeiro a agosto deste ano eleitoral, já foram assassinadas 4.039 pessoas, 916 pelas forças militares.

Quantos mais morrerão depois que a população puder se armar?

Os resultados do modelo neoliberal são mostrados nas pesquisas do IBGE: de 2014 a 2017, a extrema pobreza aumentou consideravelmente em 25 estados da União e mais ainda em nove do Nordeste. Desemprego, subemprego e desalentados já superam os 40 milhões de votos.

Como voltar à normalidade?

A força evangélica

Em 1980 eram 6,6% da população; em 2000, 15,4%; em 2010, 22,2%, algo como 40 milhões de eleitores, a maioria no Sudeste. Na última pesquisa do Ibope, tinham 40% das intenções de votos. O suficiente para decidir uma eleição.

Isabel Veloso, do Centro de Justiça e Sociedade da FGV (revista Época 8/10/18), doutora em ciência política pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), esclarece que “para o evangélico, o que é prioritário é a pauta conservadora, o combate ao aborto, à união LGBT e à própria esquerda, dada a leitura que fazem do socialismo e do comunismo (…) ter um candidato que possa defender um Brasil mais próximo da Bíblia, um Brasil que priorize a família (…) os evangélicos imaginam que a esquerda é o comunismo e o comunismo é ateu, contrário à família”.

Marina, da Rede, que já teve o voto evangélico por pertencer à grei, perdeu barbaridade de votos porque, como candidata, disse que se eleita convocaria um plebiscito para decidir sobre a polêmica do aborto e do casamento homoafetivo. Eles queriam uma posição assertiva. Marina, de eleição em eleição, só construiu sua autodestruição como líder de um partido que só não foi extinto porque quatro senadores se elegeram. Quem são esses caras?

Centro de Estudos e Opinião Pública (Cesop), da Unicamp, em seu Estudo Eleitoral Brasileiro (Eseb), constatou que 83% dos crentes evangélicos frequentam o templo e contribuem, enquanto dos católicos romanos são 36% os que frequentam, 49% dos espíritas e 89% dos neopentecostais.

Os três filhos do capitão Bolsonaro foram batizados no Rio Jordão, em Israel, nas águas que batizaram Jesus, levados pelo pastor Everaldo, líder do PSL. Políticos, todos eles, usam a mesma palavra de ordem do pai “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”.

Muito dinheiro e muito poder de convencimento. Além do mais, uma poderosa máquina de espalhar boatos, mentiras, intrigas, com uma velocidade de trem bala.

A frente parlamentar evangélica, com 199 deputados e quatro senadores declarou oficialmente, na quinta-feira (4), antes da votação, seu apoio ao candidato do PSL. Mais da metade dessa bancada foi reeleita com o apoio dado por Edir Macedo e R. Soares, da Universal e do PRB, que elegeu 30 deputados, influenciando no voto dos neopentecostais ao candidato do PSL.

O líder da frente, Hidekazu Takayama (PSC-PR), afirmou que o capitão é o que mais expressa as pautas defendidas por seus integrantes. Contudo, não conseguiu se reeleger.

Os evangélicos elegeram 34 deputados federais com várias legendas em 19 estados. O senador Magno Malta não se reelegeu, mas foram eleitos seis senadores e, entre os mais votados, está Flávio Bolsonaro, filho do candidato presidencial e também do PSL. Outra recordista de votos, a jornalista da igreja Batista, Joice Hasselmann, do mesmo partido, teve mais de um milhão de votos para a Câmara Federal.

Progressismo é esquerda? E o trabalhismo?

Já dissemos, em nota anterior, mas vale reiterar, que como o PSDB sendo de direita fez-se passar por centro e escafedeu, o PT sendo de centro fez-se passar por esquerda e deu no que deu.

Não serviu de nada a lição da história. O trabalhismo reformista de Getúlio Vargas e João Goulart, sem nunca pretender ser mais do que um partido reformista, foi taxado de comunista e demonizado até ser apeado do poder.

Essa doutrinação anticomunista, de taxar tudo o que não seja manutenção do status quo e dos privilégios de comunismo, começou nos anos 1950. E não se produziu nenhum antídoto para isso, por isso chegamos onde estamos, que nem lugar para o centro há mais na política. Puro fascismo.

Não há dúvida de que o PT nasceu com uma vocação reformista, com a presença de quadros da teologia da libertação e intelectuais com legítima vocação socialista, como Florestan Fernandes, Rafael Martinelli, Frei Beto, entre tantos.

Ao tomar posse em 2002, o PT preferiu pactuar com a ditadura do capital financeiro em vez de aproveitar a maré da euforia popular com a vitória para fazer as reformas que estavam no programa do partido.

Boa parte dessa esquerda petista foi suplantada pelos sindicalistas de resultado que assumiram uma agenda neoliberal, matizada por programas de alcance social. Talvez fosse uma estratégia, pois ao privilegiar os recursos do petróleo para a reindustrialização do país, apontava para uma via de desenvolvimento e inclusão social.

Esquerda é ser socialista de corpo e alma, ou seja, na teoria e na prática, querer mudar o modelo econômico e político.

Sem pretender nenhuma mudança substancial no modelo, ao receber o carimbo de esquerda, de socialista, foi logo demonizado como comunista, chavista, fidelista… o que não corresponde à realidade.

Não obstante, na militância do PT ainda há muita gente que acredita militar num partido de esquerda. É essa gente que está construindo o partido, fazendo o partido crescer na maior adversidade, contra vento e maré dos meios de comunicação, dos bancos e financeiras, do agronegócio e mineração predadores.

Não justifica que o PT tenha perdido voto e redutos tradicionais como o ABC e a Zona Sul de São Paulo. Abandonou o trabalho de massa e colheu frutos da derrota. Tem que começar tudo de novo.

Tem tudo para ser reconstruído e ser o grande partido de massa, reformista, desenvolvimentista e nacionalista como foi o trabalhismo de Vargas.

O PDT, com Ciro Gomes, também deu uma grande demonstração de força e de coerência e fidelidade às bandeiras do neo-trabalhismo de Leonel Brizola, Darcy Ribeiro, Abdias Nascimento. Empunhou com galhardia a bandeira de luta pelo desenvolvimento com soberania.  

Igualmente o PSOL mostrou muita garra nessa eleição. Guilherme Boulos levou a mensagem certa e com clareza na campanha e conseguiu aumentar a bancada federal de seis para dez deputados.

Essas são as bandeiras que devem compor uma frente de salvação nacional para o segundo turno.

Alguns partidos vão desaparecer

Em 3 de outubro de 2017 o Senado aprovou a cláusula de barreira a partir da eleição de 2018. Para ter acesso ao fundo partidário e ao tempo de propaganda eleitoral tem que ter pelo menos 1,5% dos votos válidos em pelo menos 1/3 (nove) unidades da federação. Ou se tiver nove eleitos em nove estados.

A partir da eleição seguinte, 2022, terá que ter 2% dos votos válidos em 1/3 dos estados ou 11 deputados em 9 estados. Para 2027 e 2030 aumentam as dificuldades: 2,5% e 3% respectivamente, dos votos válidos para ter acesso ao fundo partidário e ao tempo na propaganda eleitoral.

Segundo esses critérios, o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP), estima que por não atingirem 1,5%, ou nove deputados em nove estados estarão barrados para as próximas eleições: Novo, Rede, PTC, PMN, PRP, PV, Avante, PSTU, PCB, PRTB, DC, PCO, PPl, Patriota, Pros e PMB.

O Centrão (PP, DEM, PR, PRB, SD), reduziu seu tamanho de 164 para 141, contrariando as estimativas do Diap de que se ampliaria.

As lições dadas pelo pleito

A primeira lição que se tira do resultado da eleição é que esse modelo de democracia representativa já se esgotou. Televisão, marketing político às antigas, nada parece funcionar mais.

É preciso urgente uma reforma do sistema político em que se exija que partidos sejam instrumento de organização da sociedade em torno de uma proposta político-ideológica e um programa de governo.

A continuarem os partidos meros  balcões de negócio e escala de ascensão social, jamais teremos governabilidade e menos ainda democracia. Vamos ter sempre uma partidocracia a serviço de uma plutocracia, ou seja, de ricos empresários que pouco se importam com o resto da população.

A governabilidade que já era impossível com 25 partidos, será possível na próxima legislatura com 513 deputados federais de 30 diferentes partidos? Só 240 conseguiram se reeleger.

Uma grande festa da democracia representativa. Partidos se engalfinhando, partidos se vendendo pela maior oferta, partidos completamente fora de rumo.

Como duvidar da responsabilidade do PSDB pela maior votação do capitão Bolsonaro e sua ida ao segundo turno? Não só Doria manifestou o voto ao capitão, Tasso Jereissati chegou a advertir contra a insensatez, mas as vestais do tucanato queriam derrotar o PT ainda que fosse entregando a alma ao diabo. E estão prestes a entregar a nação inteira para os quintos dos infernos.

Ou será que criarão juízo?

O papel das redes sociais

A web se firmou como o meio de comunicação e interação interpessoal dominando a vida das pessoas. É algo realmente maravilhosamente fantástico, e também algo demasiadamente perigoso.

Tem muita informação em velocidade excessiva e tornou-se obsessiva em amplos setores da sociedade. Fazem até piada de casais que convidados para jantar, sentam-se à mesa e se comunicam entre si pelo zap-zap do celular. Exagero?

Essa obsessão tira as pessoas da realidade. O que importa é seguir a turma e, seguir a turma é irreflexivo, leva a atitudes puramente emocionais, irracionais, ou seja, agir por impulso. Comprar por impulso, votar por impulso. E isso é um problema muito sério. Não se pode votar irrefletidamente.

Como entender que o Rio de Janeiro tenha sido o maior reduto eleitoral de quem faz a apologia da violência? Não é só isso. Como entender que o candidato que estava com 6%, ao declarar seu voto ao Bolsonaro foi para o segundo turno com quase 40%, derrotando caciques tradicionais bem avaliados pelo eleitorado?

O voto tem que ser pensado, refletido, porque não é o dia seguinte que está em jogo e que pode ser decidido numa eleição. É o futuro que está em jogo. Que país vamos deixar para nossos netos, para as gerações futuras?

E agora, José? O que vai ser no dia 28?

A palavra de ordem lançada é a de Unir os Democratas.

Quem são os democratas?

O DEM já provou que não é, nem o MDB. Será que ainda há democratas no PSDB? Nesse imbróglio partidário vai ser difícil encontrar democratas, ou melhor, os antifascistas, para formar uma frente.

Dia 12, sexta-feira, começa a propaganda de rádio e TV e vai até o dia 26, antevéspera do segundo turno. Decidirá a Presidência da República e 14 governadores de estado. Cada candidato a presidente terá dois blocos de 10 minutos cada um para expor seus planos de governo.

O que vão fazer com esse tempo e com as redes sociais virtuais é o que importa agora. E pelo visto vão baixar o nível ainda mais. Vão ser agressivos, infundir medo e confusão.

Os adeptos do capitão já disseram como vai ser: “É porrada. O confronto vai ser direto com o PT, não vai ter conversa. Vamos com força, não vamos ter piedade com os erros do PT”, declarou Gustavo Bebiano, da coordenação da campanha.

Aceitar a provocação será entrar no jogo do baixo nível e nisso eles ganham. A propaganda eleitoral deve ser assertiva, propositiva, com diagnósticos e prognósticos precisos sobre os principais problemas que afetam o país. Dizer como criar emprego é melhor do que dizer que vai gerar emprego.

Eles saturaram as redes sem que houvesse uma resposta à altura. Tem que formar um exército de internautas de alto nível técnico para atuar na contramão do adversário e na mesma velocidade que ele.

Buscar a recuperação dos desertores. Eles são imprescindíveis agora para evitar o mal maior.

Democracia e soberania. Eis os pilares da salvação nacional.

Buscar o que há de melhor no MDB e no PSDB para a formação da frente democrática de salvação nacional. Deem para o Requião o comando dessa frente. Ele tem trânsito onde o PT não tem.

O retrato da ingovernabilidade ou da governabilidade fascista

147 milhões de eleitores

Jair Bolsonaro (PSL) 46% 49.276.896
Fernando Haddad (PT) 29,33% 31.341.996
Ciro Gomes (PDT) 12,5% 13.344.353
Geraldo Alckmin (PSDB) 4,8% 5.096.341

Votos nulos e brancos, neste primeiro turno ficou dentro da média histórica e também as abstenções, o que deu 29,11%, ou seja, mais de 40 milhões de votos para o senhor Ninguém. Têm que colher nesta seara. Ser mais convincente do que foram até agora.

Os votos nulos e brancos não entram na contagem dos votos válidos, assim que praticamente não influem no resultado. Mas é um indicador de que o eleitor não se identificou com nenhum candidato ou mesmo com o pleito em si, e anulou o voto como um gesto de protesto. As abstenções também são, normalmente, gesto de desagrado com o pleito.

* Brancos 2,65%

* Nulos 6,14%

* Total 8,79% equivalentes a 10.3 milhões de votos

* Abstenções 20,32%, nada menos que uns 30 milhões de eleitores, o maior índice da série histórica.

As bancadas na Câmara Federal agora são 30. O baixo clero de baixo nível diminuiu, mas aumentou o alto clero de empresários bem sucedidos que estão lá para defender unicamente seus interesses. Até as bolsas mobiliárias reagiram pontuando em saudação à fascistização do Congresso.

partido

antes

atual

partido

antes

atual

PT

61

56

PCdoB

10

9

PSL

8

52

PSC

9

8

pp

50

37

PROS

11

8

MDB

51

34

PPS

8

8

PSD

37

34

Novo

8

PR

40

33

Avante

5

7

PSB

26

32

PHS

4

6

PRB

21

30

Patri

5

5

PSDB

49

29

PV

3

4

DEM

43

29

PMN

3

PDT

19

28

PTC

2

SD

10

13

DC

1

Pode

17

11

Rede

2

1

PTB

16

10

PPL

1

1

PSOL

6

10

As bancadas no Senado foram as que mais sofreram alterações. Foram eleitos 54 de 23 partidos diferentes. Vinte são novos na política, desconhecidos nacionalmente. Oito se reelegeram, 25 não conseguiram reeleger-se, dando lugar a gente nova e mais jovem.

Embora as velhas oligarquias regionais tenham perdido espaço, a taxa de conservadorismo continua tão ou mais alta.

O PSL do Bolsonaro elegeu 4, inclusive um filho do capitão batendo recorde de votos.

Dos eleitos pela Rede, três são agentes policiais:

  • Capitão Styvenson, polícia militar pelo Rio Grande do Norte

  • Alessandro Viera, delegado de polícia por Sergipe

  • Fabiano Contarato, delegado de polícia por Espírito Santo.

Como ficam as bancadas no senado

partido

antes

atual

partido

antes

atual

PT

61

56

PCdoB

10

9

PSL

8

52

PSC

9

8

pp

50

37

PROS

11

8

MDB

51

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PPS

8

8

PSD

37

34

Novo

8

PR

40

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Avante

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PSB

26

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PHS

4

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PRB

21

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Patri

5

5

PSDB 

49

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3

4

DEM

43

29

PMN

3

PDT

19

28

PTC

2

SD

10

13

DC

1

Pode

17

11

Rede

2

1

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PPL

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PSOL

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1957. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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