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Foto: Kiril Kallinikov / Sputnik

Dinheiro pago a terroristas do ataque a Moscou saiu da Ucrânia, afirma Rússia

Segundo Comitê de Investigação da Rússia (CIR), criminosos receberam grandes somas de dinheiro e transferências em criptomoedas
Juan Pablo Duch
La Jornada
Moscou

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Os responsáveis pela investigação do recente atentado em Moscou divulgaram, ono último dia 29, um novo comunicado que, aos poucos, contém outra porção do que o Kremlin poderia apresentar como versão definitiva ao implicar diretamente a Ucrânia.

O Comitê de Investigação da Rússia (CIR), a entidade encarregada, por instruções da presidência russa, de esclarecer essa tragédia, apontou que os responsáveis pelo massacre no Crocus City Hall, há uma semana, “estavam coordenados em todos os momentos – durante os preparativos, o próprio ataque e depois na tentativa de fuga – por um mesmo indivíduo que se identificou com um nome falso e os estava guiando em direção à fronteira com a Ucrânia”.

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Segundo o CIR, o indivíduo que liderava os terroristas lhes dava instruções por meio de mensagens de voz na rede social Telegram. Após cometerem o assassinato em massa, o coordenador pediu aos terroristas que se dirigissem a um local específico na fronteira com a Ucrânia com o objetivo de atravessá-la para poder ir a Kiev e cobrar a recompensa prometida.

Isso teria sido o que confessaram nos últimos dias, após intenso trabalho com os detidos, em palavras textuais do comunicado do CIR. Os oito suspeitos são cidadãos do Tajiquistão, república centro-asiática vizinha ao Afeganistão, governada pelo movimento talibã, que está em confronto com o grupo autodenominado Estado Islâmico.

Prisões preventivas

Enquanto isso, um tribunal de Moscou decretou, também em 29 de março, a prisão preventiva do nono envolvido no atentado, de acordo com o CIR.

Trata-se de outro tajique que já estava cumprindo uma pena administrativa de duas semanas de privação de liberdade por insultar e desobedecer à polícia.

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No dia seguinte ao atentado, este desempregado de 24 anos tentou entrar em outra parte do Crocus City Hall e se recusou a mostrar um documento de identidade à exigência da polícia, que começou a vigiar os prédios que pertencem ao enorme centro de lazer. Houve relatos de um tumulto. Agora ele é um dos envolvidos no massacre, mas ainda não foi definida sua participação. Também não foi informado o que aconteceu com o financiador que foi detido em 28/03 que, segundo os investigadores, teve grande envolvimento na rede de apoio ao atentado por meio de grandes somas de dinheiro e transferências de criptomoedas da Ucrânia.

No Tajiquistão, cujo governo inicialmente negou qualquer envolvimento de seus cidadãos e depois afirmou que os terroristas não têm nacionalidade, pátria ou religião, foi anunciado que seus serviços secretos detiveram pelo menos nove pessoas por sua suposta colaboração com o grupo de atacantes em Moscou, mas não foram fornecidos mais detalhes.

Responsáveis por ataque receberam dinheiro da Ucrânia, afirma Rússia

O Comitê de Investigação da Rússia (CIR), encarregado da investigação do recente massacre na sala de concertos da capital russa, afirmou em 28 de março, em comunicado, que possui dados confirmando que os terroristas receberam grandes somas de dinheiro e transferências em criptomoedas da Ucrânia que foram usadas para preparar o atentado.

O CIR fez esse anúncio ao informar que identificou e deteve um novo suspeito que participou do esquema de financiamento dos terroristas e que, após trabalhar com os detidos e analisar os equipamentos apreendidos, foram obtidas provas de seus vínculos com nacionalistas ucranianos.

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A entidade dirigida por Aleksandr Bastrykin, colega de estudos do presidente Vladimir Putin na Faculdade de Direito da Universidade de São Petersburgo, não especificou o nome do financiador nem quem são esses nacionalistas ucranianos.

Diante dessa revelação, um repórter da fonte presidencial perguntou ao porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov: “É possível afirmar com certeza que a pista ucraniana (no atentado) está confirmada?”

“Não, não se apresse tanto” – respondeu ao repórter do Izvestia, que publicou em seu site o trecho de sua conversa – “como pode ver, ainda não foi divulgada uma versão oficial. Por isso, é preciso esperar que isso aconteça. Os serviços de segurança estão trabalhando para reforçar as versões que estão sendo manejadas e mais tarde selecionar apenas uma”.

Número de vítimas continua aumentando

O número de vítimas na tragédia ocorrida no Crocus City Hall continuou aumentando e atingiu a marca de 144 mortos e 360 feridos.

Não se sabe, no entanto, das 95 pessoas que estão desaparecidas, que tinham ingresso comprado para o show da banda de rock Picnic; elas não voltaram para casa há quase uma semana e não se comunicaram desde então, de acordo com a lista elaborada nas redes sociais a partir dos depoimentos dos familiares que, após buscá-las em hospitais e necrotérios da cidade, imploram por alguma informação.

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Também não se sabe mais sobre os interrogatórios dos quatro islâmicos radicais que participaram diretamente do atentado. Quando foram apresentados a um juiz para que fosse decretada a prisão preventiva, ao verem o estado em que se encontravam os detidos (um não conseguia andar, foi levado em uma cadeira de rodas e não conseguia nem abrir os olhos), até Tatiana Moskalkova, comissária para os direitos humanos, órgão dependente da presidência russa, declarou que é inadmissível obter confissões sob tortura.

Confissões sob tortura

Moskalkova referia-se ao fato de que os próprios serviços de segurança que prenderam os agressores gravaram e divulgaram, por meio dos canais de Telegram que usam para seus vazamentos, como cortaram a orelha de um e o obrigaram a comê-la ou colocaram eletrodos nos genitais de outro que estava deitado no chão com as calças abaixadas.

Em contrapartida, as autoridades estão sendo implacáveis com aqueles que se permitiram publicar comentários inadequados na internet. É o caso do empresário Nikolai Konasheka, detido em 26/03 por publicar no Facebook – que, aliás, é uma rede social proibida na Rússia: “por que o Crocus e não o Kremlin? Vocês se enganaram?”.

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Konasheka se desculpou em um vídeo distribuído pela polícia de São Petersburgo e um tribunal o condenou a 14 dias de prisão administrativa. Sua esposa, Roksana Shatunovskaya, foi obrigada a renunciar ao cargo de diretora-geral do centro de lazer Novaya Golandiya (Nova Holanda) de São Petersburgo, que ocupou nos últimos 13 anos.

A filial do Comitê de Investigação na Cidade do Neva informou que abriu um processo criminal contra Konashenka por enaltecer o terrorismo. Circulam pelo menos 11 vídeos de desculpas como o dele.

Putin não planeja atacar a Europa

Ao conversar com graduados de uma academia de pilotos do Ministério da Defesa em Torzhok, região de Tver, o presidente Vladimir Putin enfatizou que “é uma completa estupidez afirmar que, depois da Ucrânia, estamos pensando em atacar a Europa. (…) Não temos nenhuma intenção agressiva em relação a esses países (da Organização do Tratado do Atlântico Norte, OTAN). É absurdo pensar que podemos atacar a Polônia, os países bálticos ou os tchecos. É uma bobagem, o enésimo método para enganar sua população e arrancar mais dinheiro deles, para carregarem sobre seus ombros todo o peso (do gasto militar). E nada mais”.

Putin também observou que,”se a OTAN fornecer à Ucrânia aviões F-16, nós os destruiremos, como estamos fazendo com os tanques, veículos blindados e outros tipos de armamento ocidental”. E advertiu: Mas, “se esses F-16 decolarem de aeroportos da OTAN, aonde quer que estejam, serão um alvo legítimo para nós”.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Juan Pablo Duch Correspondente do La Jornada em Moscou.

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