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“Veredito pode ser passo gigantesco, mas não é suficiente”, diz Biden sobre prisão do assassino de George Floyd

O policial Derek Chauvin foi declarado culpado das três acusações contra ele em um evento transmitido ao vivo desde o tribunal para todo o país
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

“Culpado”, foi o veredito do julgamento contra um ex-policial branco acusado de matar o afro-estadunidense George Floyd ao submetê-lo com o joelho sobre o pescoço durante nove minutos e 29 segundos ignorando suas súplicas “não posso respirar”, fato que detonou o talvez maior movimento de protesto da história dos Estados Unidos.

O policial Derek Chauvin, acusado de assassinato foi declarado culpado das três acusações contra ele em um evento transmitido ao vivo desde o tribunal para todo o país.

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Sua liberdade sob fiança foi revogada, foi algemado e escoltado do tribunal rumo à prisão.

Em um tribunal em Minneapolis, depois que o júri de 12 pessoas escutou ao longo de três semanas, 45 testemunhas, 39 deles da promotoria, mas onde o testemunho estrela foi um vídeo gravado numa esquina em 25 de maio do ano passado, foi lido o veredito diante dos promotores, do acusado e seus advogados e familiares em uma cidade onde as autoridades mobilizaram mais de 3 mil elementos da Guarda Nacional diante da preocupação que houvesse explosões de fúria se o veredito declarasse inocente o policial.  

A sentença será determinada pelo juiz em oito semanas e pode ser entre 12 e 40 anos de prisão

O policial Derek Chauvin foi declarado culpado das três acusações contra ele em um evento transmitido ao vivo desde o tribunal para todo o país

DiarioLibre
Com o veredito, começaram festejos em várias cidades e o resultado não foi celebrado apenas por ativistas afro-estadunidenses

“Um alívio”, declara família de Floyd

A família de Floyd declarou que o resultado foi um alívio. Um dos irmãos da vítima, Philonise Floyd, declarou que agora “já não estou lutando só pelo George. Estou lutando por todos ao redor do mundo”. Concluiu: “hoje podemos respirar de novo” em referência às últimas palavras de seu irmão antes de morrer. 

O presidente Joe Biden e a vice-presidenta Kamala Harris falaram com a família de Floyd e pouco depois ofereceram uma mensagem transmitida ao vivo para a nação.

O veredito, disse, “pode ser um passo gigantesco para a justiça nos Estados Unidos” mas advertiu que “não é suficiente” e convidou a redobrar esforços para “confrontar o racismo sistêmico” neste país.

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Harris sublinhou que os “Estados Unidos têm uma longa história de racismo sistêmico e que se requer reformar o sistema, começando com o setor judiciário. Enfatizou que a injustiça racial não é um assunto só para afro-estadunidenses, “é um problema para todo estadunidense”.

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Fora do tribunal, ao ser conhecido o veredito explodiram gritos de júbilo, lágrimas, abraços, punhos em alto, danças e consignas de que se conseguiu um pouco de justiça aqui, embora muitos tenham expressado que ainda se requerem mudanças e reformas maiores antes que se possa falar de justiça” e superar o racismo no sistema judiciário e policial estadunidense.  

O próprio promotor geral do estado de Minnesota, Keith Ellison, cujos promotores levaram o caso contra o policial, declarou que não chamaria justiça ao veredito de hoje, já que a justiça implica restauração verdadeira, mas sim uma prestação de contas – o que é o primeiro passo para a justiça”. Agregou que “o veredito nos recorda que temos que conseguir uma mudança sistemática, social, perdurável

Medidas de segurança e comemorações

Na capital como em outras cidades ao longo do país foram tomadas maiores medidas de segurança antecipando os protestos se o veredito inocentava o policial. Lojas e outros estabelecimentos comerciais cobriram duas vitrines e entradas. Em Minneapolis foi ordenado que as escolas públicas retornassem às aulas virtuais para esta semana. 

Mas com o veredito, começaram festejos em várias cidades e o resultado não foi celebrado apenas por ativistas afro-estadunidenses, mas, como o movimento pelas vidas negras, foi um mosaico multirracial.

Além de líderes de direitos civis históricos como o reverendo Al Sharpton e Jesse Jackson, também se expressaram organizações indígenas, latinas, de defesa de imigrantes, de jovens contra a violência de armas e religiosos. 

O reverendo William Barber, codiretor da Campanha dos Pobres – ressuscitando o última iniciativa do reverendo Martin Luther King – declarou que o veredito “é um ato público de prestação de contas” mas insistiu em que se requer uma legislação federal para controlar os atos de abuso de policiais e “trabalhar em cada comunidade para trasladar o investimento público de cada vez mais policiais em comunidades pobres, negras e morenas para maior justiça e igualdade para todos o povo”

Uma e outra vez, líderes do movimento, políticos e figuras de direitos civis recordaram que há um longo caminho a percorrer para conseguir justiça diante da violência policial racista neste país. 

Polícia continua matando

De fato, desde que começou o julgamento de Chauvin em 29 março, pelo menos 64 pessoas morreram nas mãos da polícia, com afro-estadunidenses e latinos representando mais da metade, com uma média de três mortes por dia nas mãos das autoridades, calculou o New York Times.

Só nos últimos dias, outro jovem afro-estadunidense, Daunte Wright, foi assassinado por uma policial por uma violação de trânsito em uma cidade a uns poucos quilômetros de onde acontecia o julgamento.

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Em Chicago foi revelado o vídeo de um menino de 13 anos, Adam Toledo, em um bairro latino, e essa lista cresce a cada dia, algo que deu origem ao movimento agora conhecido como Black Lives Matter que nasceu depois do assassinato do jovem afro-estadunidense Michael Brown em Ferguson, Missouri em 2014.

Desde 2013, a cada ano, mais de mil pessoas foram mortas por ações de agentes de segurança pública, os afro-estadunidenses e latinos estão sobre representados em proporção às suas populações. Segundo um cálculo, os afro-estadunidenses são 40% das pessoas desarmadas assassinadas pela polícia.

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A grande maioria dos policiais responsáveis são exonerados ou seus casos são negociados antes de levá-los a um julgamento. Os críticos chamam isso de impunidade. 

Alguns dias antes do veredito, Charles Blow, colunista afro-estadunidense do New York Times, escreveu que “muito pouco tem mudado”, ao fazer uma recontagem das incessantes notícias quase diárias de incidentes letais com policiais sobretudo afro-estadunidenses. “As notícias dessas mortes não são uma interrupção do normal, mas uma manifestação do normal”.

Acusou que “nossos sistemas de cumprimento de leis, justiça criminal e consciência comunal se ajustaram a um barbarismo banal. Isto produziu em mim e em muitos outros uma fúria que não se pode extinguir… Uma sociedade que trata tanta morte de afro-estadunidenses em mãos do Estado como dano colateral de uma guerra justa contra o crime não tem nenhum decoro…essa sociedade é selvagem. Agora, a raiva é o único idioma que eu tenho”

Mas vários líderes de direitos civis e ativistas de todo tipo concordaram, que este caso e as mudanças já conseguidas, até mesmo colocar o tema no centro do debate nacional, não teria chegado a este ponto sem as massivas mobilizações multirraciais.

“Agora ninguém pode dizer que os protestos não conseguem nada”, afirmou um ativista que celebrava esta noite.

David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York (EUA)

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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