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De 1945 a 2022, 927 pessoas sofreram abusos por membros da Igreja Católica da Espanha

Trata-se do primeiro informe sobre esse tipo de crime na instituição espanhola a ser apresentado ao público
Armando G. Tejeda
La Jornada
Madri

Tradução:

A cúpula da Igreja católica espanhola apresentou um informe histórico, que intitulou “Para dar luz“, no qual presta contas sobre os abusos sexuais, em sua maioria a homens menores de idade, que foram perpetrados por seus membros ou representantes.

A Conferência Episcopal Espanhola (CEE), que congrega cardeais e bispos de todo o país, reconheceu que pelo menos 927 pessoas sofreram esse tipo de agressões desde 1945 até 2022, que foram por sua vez cometidas por 728 “victimarios” da igreja católica.

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Trata-se do primeiro informe sobre a pederastia na Igreja na Espanha que se apresenta ao público e além disso feito pela máxima diretoria da instituição religiosa, o que supõe um marco na luta pela reparação das vítimas. No informe, foi recopilada toda a informação recebida na CEE, que se pôde contrastar com as distintas fontes e que foi agrupada em sete volumes, mas que estão abertos para seguir sendo atualizados.

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Trata-se do primeiro informe sobre esse tipo de crime na instituição espanhola a ser apresentado ao público

Juanje Orío/Flickr
99% dos agressores são homens e 82,62% das vítimas também pertencem ao sexo masculino, aponta o relatório

“Para dar Luz” conta com três partes: uma documental, outra informativa e os detalhes dos casos. Na primeira, a mais volumosa, são recolhidos todos os protocolos que foram redigidos nos três últimos anos pelas instituições eclesiais de âmbito nacional, congregações religiosas e dioceses. Além disso, se detalha que detrás de cada protocolo se tem o objetivo “de evitar que os abusos possam voltar a se produzir e para que os espaços eclesiais sejam espaços seguros para os menores”.

Quanto ao apartado informativo, a CEE explica que assume “a normativa canônica para a atuação da Igreja no relativo aos abusos sexuais” e, ademais, explica também os princípios a partir dos quais se age

Quanto à terceira parte, ou seja, o dos casos concretos e que será atualizada conforme forem recebidos novos dados, concluiu-se que até hoje um total de 927 vítimas apresentaram testemunhos sobre 728 religiosos que cometeram abusos sexuais no âmbito da Igreja católica. “Em relação ao sexo, embora seus agressores sejam em mais de 99% homens, as vítimas são homens em 82,62% das casos e mulheres em 17,38%”, aponta o informe.

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O informe explica que os casos foram analisados e registrados a partir de 200 locais que “têm uma dimensão pastoral, não judicial”, pelo que se podem colher todos os testemunhos já que “não há prescrição porque a condição de vítima não prescreve”.

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Este relatório já foi entregue ao Provedor de Justiça espanhol, Ángel Gabilondo, estando ainda pendente o trâmite judicial que alguns destes casos possam ter, sobretudo em que os “agressores” estão vivos.


A esquerda espanhola está organizada para as eleições de 23 de julho

O adiantamento eleitoral na Espanha, decidido solitariamente pelo presidente do governo, o socialista Pedro Sánchez, tomou seus aliados do governo desarticulados, fragmentados e sem uma alternativa sólida. Mas a urgência da cita e a conta atrás para registrar as listas eleitorais – dez dias a partir da dissolução das Cortes – obrigou que as forças de esquerda se organizem e iniciem negociações para uma candidatura conjunta. A líder da emergente plataforma eleitoral “Sumar”, Yolanda Díaz, até agora segunda vice-presidenta do governo e ministra do Trabalho, já registrou oficialmente sua formação. 

À esquerda do Partido Socialista Obrero Espanhol (PSOE) há um magma de formações, agrupamentos, plataformas e movimentos que até há alguns anos estavam agrupados em torno do Podemos, o partido que surgiu há nove anos, aproveitando a esteira de indignação do movimento do 15M. Mas com o passar do tempo, pelas disputas e luta de poder, esta força política se fragmentou e sua força eleitoral ficou muito enfraquecida, apesar de formar parte do governo e de ter em suas fileiras cinco ministras e ministros. Nas eleições municipais e autônomas do último passado domingo (28), o Podemos desapareceu de alguns parlamentos e consistórios cruciais, entre esses o da Assembleia e Ajuntamento de Madri – precisamente na capital espanhola, onde nasceu e se expandiu. 

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A fragmentação da esquerda espanhola se vê com clareza, por exemplo, na localidade de Galapagar, onde o líder do Podemos, Pablo Iglesias, e sua companheira, a também ministra Irene Montero, compraram o polêmico chalé de luxo que provocou a primeira crise no interior da formação. Só nesta cidade, onde arrasou o direitista Partido Popular, apresentaram-se quatro siglas afins à esquerda e vinculadas ao Podemos original: Por Galapagar, Podemos-AV, Podemos IU Galapagar e MMC Galapagar. Delas, só a primeira logrou dois vereadores, enquanto que o resto ficou sem representação, o que facilitou o triunfo esmagador do PP. 

Para evitar uma situação similar no nível nacional, a líder do Sumar, Yolanda Díaz, além de registrar sua plataforma como um “partido instrumental” para apresentar-se oficialmente nas eleições, também acelerou as conversações com uma das partes do atual Unidas Podemos, que é o Esquerda Unida (IU), antes a força de referência. O líder do IU, Alberto Garzón, já anunciou seu apoio a Díaz, e só estão à espera de que se some a outra parte do partido, que até agora tem sido a mais reticente a estas alianças se eles não têm o papel protagonista. Assim, falta que os líderes que controlam o partido decidam aderir-se: Ione Belarra, Irene Montero e Pablo Iglesias.

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O objetivo da nova plataforma de coalisão é frear o avanço e o auge da direita e da extrema direita, pelo que se registraram como “um movimento europeísta, plural, com uma firme vontade de enfrentar o desafio da emergência climática e avançar para uma sociedade mais livre, mais feminista e mais igualitária”. 

No PP há euforia e até certo triunfalismo sobre as eleições de 23 de julho, nas quais partem como claros favoritos, com uma vantagem de mais de sete pontos porcentuais sobre o PSOE e o atual mandatário, Pedro Sánchez, que aspira reeditar o atual pacto de governo com o resto das formações do arco parlamentar, entre elas a da fragmentada esquerda. 

Armando G. TejedaLa Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava


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Armando G. Tejeda Mestre em Jornalismo pela Jornalismo na Universidade Autónoma de Madrid, foi colaborador do jornal El País, na seção Economia e Sociedade. Atualmente é correspondente do La Jornada na Espanha e membro do conselho editorial da revista Babab.

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