Em situação de emergência, o Amazonas tem 2.479 diagnosticados por 1 milhão de pessoas, a segunda maior incidência do país, e tem protagonizado as cenas mais extremas da crise do novo coronavírus no Brasil. Como já noticiamos, há vídeos com corpos sendo colocados ao lado de pacientes e o governo recorreu a contêineres de frigoríficos para solucionar o problema.
Reproduzimos aqui alguns relatos dramáticos feitos em condição de anonimato por enfermeiras do sistema de saúde de Manaus para o jornal O Globo. Segundo a publicação, quatro profissionais foram ouvidos.
“Estamos tendo de escolher quem vai respirar ou não” – resume uma enfermeira do Hospital João Lúcio, onde foram gravados os vídeos de corpos deixados ao lado de pacientes com Covid-19, onde faltam materiais básicos e inclusive pessoal. Sobre o mesmo hospital, outra fala reveladora: “Na sala onde trabalho, são necessários cinco técnicos de enfermagem. Tem só um. Quando muito, dois”.
Os relatos dão conta de que materiais descartáveis, como máscaras e aventais estão sendo esterilizados e reutilizados, e não há sequer máscaras para pacientes com tosse.
Pronatec
Os relatos dão conta de que materiais descartáveis, como máscaras e aventais estão sendo esterilizados e reutilizados
Sobre a situação específica dos corpos sendo deixados ao lado dos pacientes, ela explica: “ A demanda está tão grande que o SOS Funeral, destinado a pessoas pobres, não tem condições de recolher todos os corpos. Como as famílias não têm condições financeiras de providenciar a retirada dos corpos, eles acabaram paralisados ali, ao lado de pacientes”. Após a publicação do vídeo, o governo providenciou contêineres de frigoríficos.
Um trabalhador de uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), conta que estão tendo que atender pacientes que deveriam estar em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) mas que não encontram vagas.
“O paciente fica esperando uma vaga numa UTI. Não há como mandar mais para hospital de referência. Assim, assumimos o paciente e fazemos a terapia intensiva. Todas as unidades de média complexidade estão tendo de assumir os pacientes críticos, até que se abram vagas. No meu último plantão, recebemos nove pacientes. A gente já vive um colapso.”
Outra enfermeira, também de Manaus, resume: “Sabemos que estamos em uma guerra. O problema é estar em guerra sem nenhuma arma. A gente não tem equipamento de proteção individual. Se aparece algum EPI, é de material inferior – denuncia a profissional, que tem 12 colegas infectados mas afirma que os profissionais da saúde em sua maioria não tem acesso ao teste.
Uma outra enfermeira descreve a situação do Hospital de referência no combate à Covid-19 no estado, o Delphina Aziz: “É um paciente saindo e outro entrando. Agora vão abrir mais 56 leitos, será mais um andar com UTI. Só vai para UTI quem realmente precisa. E eu não quero nem pensar na possibilidade de ter de participar de uma escolha sobre quem vai ter e quem não vai ter um leito”. E desabafa: “Eu prefiro não somar quantos pacientes morreram nos meus plantões. Teve noite que foram cinco. Em outra, sete. É uma frustração, porque ninguém quer morrer, mas a gente tem nosso limite.”.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
Veja também