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EUA: extremistas pró Trump escalam violência a eleitores e políticos às vésperas da eleição

No último dia 28, em um incidente que sacudiu a classe política, um fanático ultradireitista trompista atacou a marteladas o esposo de Nancy Pelosi
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Ante milhares de ameaças de violência contra políticos, investigações criminais por tentativas de golpe de Estado e sequestros políticos, com uma maioria de candidatos republicanos declarando que não reconhecem o triunfo do democrata Joe Biden há dois anos, e alguns afirmando que não reconhecerão outro resultado além do que desejam nas eleições intermediárias programadas para esta terça-feira (8), o próprio sistema democrático está em jogo nos Estados Unidos.

Agrupamentos de ultradireitistas incluindo de paramilitares armados estão intimidando eleitores perto de unidades com urnas onde se pode depositar votos adiantados, provocando disputas legais, enquanto em vários estados autoridades conservadoras estão abertamente implementando medidas para suprimir o voto de seus opositores.

Autoridades eleitorais em vários estados estão se preparando para uma onda de disputas enquanto abundam abusos contra oficiais e outras entidades eleitorais. Vários funcionários eleitorais locais renunciaram diante de ameaças de violência ou outros ataques que continuaram desde a eleição presidencial de 2020.

Enquanto isso, se multiplicaram as ameaças de violência política contra legisladores através do país. Segundo a polícia do Capitólio, registraram-se mais de 9.625 ameaças contra legisladores em 2021, um incremento de 10 vezes mais desde a eleição de Donald Trump, em 2016.

Neoliberalismo vigente há 40 anos, não Trump, é responsável por ruína da democracia nos EUA

No último dia 28, em um incidente que sacudiu a classe política, um fanático ultradireitista trompista atacou a marteladas o esposo de Nancy Pelosi, a presidenta da câmara baixa federal e segunda na linha de sucessão à presidência, em sua casa em São Francisco, gritando “onde está Nancy?” (ela se encontrava em Washington).

Esse era o mesmo grito que gritaram em coro direitistas quando assaltaram o Capitólio em 6 de janeiro de 2020, como parte de uma tentativa de golpe de Estado impulsionado por Donald Trump e seus cúmplices. Agências federais repetem que a maior ameaça à segurança nacional do país provém de agrupamentos direitistas extremistas, e circulam alertas sobre a possibilidade de atos violentos por eles durante esta conjuntura eleitoral.

Este é o contexto em que se realizam as eleições intermediárias nas quais estão em jogo todas as 435 cadeiras da Câmara de Representantes, 35 das cadeiras do Senado e 36 (do total de 50) governanças estaduais e outros postos locais e estaduais. Por ora, os democratas controlam a câmara baixa – com uma maioria de 222 contra 213 – e o Senado – onde há um empate a 50, mas a vice-presidente tem o voto para romper empates e, neste caso, é democrata. No nível estadual, os democratas governam 22 estados contra 28 dos republicanos. No entanto, não está em disputa só o equilíbrio do poder entre ambos os partidos nacionais, mas segundo o presidente, ex-presidentes e outros líderes políticos, a existência do sistema democrático. 

Na semana passada, o presidente Joe Biden declarou que “a democracia em si” está em jogo nesta eleição. Condenou “a violência política e a intimidação dos eleitores” e ante as expressões de candidatos republicanos que recusam a se comprometer a reconhecer os resultados, declarou que “não se pode amar seu país só quando ganha”.

No último dia 28, em um incidente que sacudiu a classe política, um fanático ultradireitista trompista atacou a marteladas o esposo de Nancy Pelosi

Tyler Merbler – Flickr

65% dos eleitores republicanos ainda percebem como ilegítima a presidência de Biden, segundo uma enquete recente da NBC News

Ao visitar três estados para promover o voto, o ex-presidente Barack Obama também enfatizou que a democracia estadunidense enfrenta um momento existencial nestas eleições, declarando no Arizona que lá “a democracia tal como a conhecemos” poderia morrer se ganharem os que recusam a legitimidade de resultados eleitorais durante os últimos dois anos. 

Mesmo que se consiga superar todos os obstáculos e conflitos no processo eleitoral, vários republicanos deixaram claro que continuarão empregando a tática de Trump de simplesmente recusar resultados adversos e questionar a integridade da eleição.

Quando Kari Lake, candidata republicana trumpista a governadora do estado do Arizona foi perguntada pela CNN se aceitará o resultado se perder, respondeu que “ganharei a reeleição e aceitarei esse resultado”. Ela é uma promotora da “grande mentira” de Trump de que o triunfo lhe foi roubado em 2020 por fraude realizada pela “esquerda radical” democrata.

O que Trump cultivou desde então resultou que 65% dos eleitores republicanos ainda percebem como ilegítima a presidência de Biden, segundo uma enquete recente da NBC News. A maioria dos candidatos republicanos nesta eleição – 291 – continuam recusando o resultado das eleições de 2020, segundo o Washington Post.

Robert Reich, analista e ex-secretário do trabalho, diz que esta eleição é diferente a todas as que testemunhou: “a maior pergunta que enfrentamos como nação em 1860 ao deslizarmos para uma Guerra Civil trágica é sobre se perdurará nossa democracia”.

David Brooks | Especial para o La Jornada, direto de Nova York.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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