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Fotos: Iraque (David Leeson - Goodfon) / Maduro (Reprodução Facebook)

Fraude nas eleições da Venezuela é o mesmo que as “armas de destruição em massa” no Iraque

A fraude foi decretada antes mesmo da votação pelos mesmos propagandistas que destruíram o Iraque em busca de petróleo. Atenção, Lula! Hoje, os EUA vão pela Venezuela; amanhã, o alvo é você
Atilio Borón
Revista Diálogos do Sul Global
Buenos Aires

Tradução:

As notícias do dia, provenientes de diversos meios de comunicação da globosfera de língua espanhola, informam que o governo brasileiro não aceitará a decisão da Câmara Eleitoral do Supremo Tribunal Constitucional da Venezuela quanto à disputa sobre os resultados das eleições. Os governos da Colômbia e do México, assim como o Chile, que adota uma postura mais beligerante, estão em uma posição semelhante.

O que essa atitude revela? Simples: a enorme eficácia do poder de chantagem do império, que, por meio de uma ofensiva midiática, diplomática e econômica sem precedentes (ainda pior do que a sofrida pelo presidente Salvador Allende no Chile, pois naquela época a mídia tinha muito menos poder de fogo e as redes sociais ainda não haviam nascido), conseguiu instalar a ideia de que a eleição de Nicolás Maduro foi fraudulenta como uma certeza irrevogável.

Essa farsa é apenas mais um exemplo do poder da propaganda produzida pelas fábricas de mentiras e notícias falsas sediadas nos Estados Unidos, que há meses vêm anunciando que haveria fraude nas eleições venezuelanas. Isso foi afirmado com a mesma irresponsabilidade e impunidade com que costumavam dizer que havia armas de destruição em massa no Iraque. Infelizmente, os governos latino-americanos parecem impotentes para neutralizar a extorsão projetada em Washington, executada por centenas de meios de comunicação e martelada por milhares de falastrões que repetem a mesma melodia: houve fraude, mostrem as atas!

No entanto, quando, na quarta-feira passada (7), a direita teve a oportunidade de mostrar as atas que comprovavam sua vitória perante a Câmara Eleitoral do Supremo Tribunal Constitucional, seus porta-vozes não apresentaram absolutamente nada. Além disso, afirmaram, e eu cito, que “não têm as atas de contagem das testemunhas nas seções eleitorais nem listas de testemunhas, alegando, além disso, que não participaram do processo de transferência e proteção de nenhum material. Também destacaram que a organização SUMATE faz parte da equipe de assessoramento técnico da Alianza Plataforma Unitária Democrática e, ao mesmo tempo, não sabiam quem havia carregado a informação das supostas atas de apuração na página web dessa organização que deu a vitória a Edmundo González Urrutia”.

Apesar de uma confissão tão contundente, o governo do presidente Lula da Silva continua a exigir que “as atas sejam mostradas”. Essa atitude não é apenas incomum e desrespeitosa em relação aos assuntos internos de um estado irmão, mas também paradoxal, pois onde estão as atas que provam que Lula venceu as eleições de 2022? Ele já as mostrou? Não, apesar das denúncias dos bolsonaristas e de Steve Bannon. Nem Joe Biden e vários outros governadores, pois não há nenhuma. O que ocorre é que, no sistema eleitoral brasileiro, que é menos confiável que o venezuelano, essas atas não existem; não há recibos em papel para confirmar os resultados eleitorais produzidos pelas máquinas de votação. Existe apenas a confiança cega e suicida de que elas não podem ser hackeadas e que o resultado eleitoral fornecido pelo dispositivo computadorizado é uma transcrição fiel da vontade dos cidadãos. Essa crença é, no mínimo, imprudente, se não absurda ou irrisória. Justamente por causa dessa falta de transparência, já que o resultado eletrônico não pode ser comparado com as cédulas de votação, países como Reino Unido, Alemanha, Finlândia, Holanda, Irlanda, Cazaquistão e Noruega proibiram o voto eletrônico. Repito: onde estão suas atas, Presidente Lula? Por que agora as exige do governo bolivariano?

O líder brasileiro e seus assessores devem ter muito claro que o que está em jogo na Venezuela não é o veredicto eleitoral, mas a apropriação pelos Estados Unidos das imensas reservas de petróleo do país. É ingenuidade pensar que todos esses estilhaços dos assassinos contratados pela mídia referem-se a alguns minutos ou a uma porcentagem de votos. “É o petróleo, estúpido”, parafraseando Bill Clinton. E a vontade de Washington de saquear não será apaziguada apenas com o roubo do petróleo venezuelano. Tome nota, Presidente Lula: eles também estão vindo para o pré-sal brasileiro, que, com seus quase 14 bilhões de barris — nada comparado aos mais de 300.000 barris que a Venezuela possui —, ainda é um petisco que excita o apetite insaciável do império. E você verá como eles também tentarão se apoderar dessa riqueza que pertence a todos os brasileiros.

Não lhe parece coincidência que a 4ª Frota dos Estados Unidos, desativada desde 1950, tenha sido reativada em 2008, poucos meses depois de o senhor anunciar a descoberta do pré-sal, saudando-a como “a segunda independência do Brasil”? Não há coincidências no mundo da geopolítica, presidente. Mas para se apoderar do petróleo e do gás do Brasil, Washington precisa primeiro romper o bloco sul-americano e fomentar a inimizade entre o Brasil e a Venezuela, impedindo que esses dois grandes países atuem em conjunto e, assim, tornando-os indefesos diante do império. Eles estão prestes a fazer isso. Esperemos que o senhor consiga se libertar da extorsão a que o império o submete com seu exército de operadores, pseudojornalistas, diplomatas contratados e políticos venais que o atacam dia e noite, e reconheça de uma vez por todas que Nicolás Maduro é o legítimo presidente da Venezuela e que as acusações da oposição são totalmente infundadas, como já foi provado em juízo. E, além disso, que seja elaborado, sem demora, um projeto conjunto no âmbito da Unasul para defender as enormes riquezas da América do Sul. Caso contrário, elas passarão para as mãos dos Estados Unidos por meio da Quarta Frota e do Comando Sul.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Atilio Borón

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