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Guatemala: para evitar colapso econômico, vale a pena voltar às aulas em plena pandemia?

Enviar os estudantes aos colégios permitiria que os pais voltassem aos seus postos de trabalho, com o que se daria o impulso necessário à produtividade
Carolina Vásquez Araya
Diálogos do Sul Global
Cidade da Guatemala

Tradução:

A infância é um dos grupos mais vulneráveis e menos beneficiados da sociedade.

A discussão em torno à volta às aulas é proposta, em geral, pelo interesse econômico, pois enquanto os pais devam ficar em casa para cuidar dos filhos, os países parecem se encontrar em uma paralisia de trabalho quase absoluta. Por isso, os governos em seu empenho por regressar a uma normalidade ainda utópica, apostam pela abertura das escolas e universidades com a ilusão de haver vencido – ou pelo menos reduzido – os efeitos da pandemia. Enviar os estudantes aos colégios permitiria que os pais voltassem aos seus postos de trabalho, com o que se daria o impulso necessário à produtividade para evitar um colapso total dos indicadores econômicos. 

No entanto, este tipo de ação afirmativa não necessariamente está baseado nos interesses prioritários da infância. Ou seja, este segmento da população é, nestes casos, um fator secundário; e os efeitos que possa sofrer ao ser exposto a situações de vulnerabilidade, costumam ser vistos como consequências marginais diante da preponderância da posta em marcha da maquinaria produtiva.

Em países como os nossos, a infraestrutura educativa é débil e carece, em geral, das condições de segurança sanitária adequadas. A maioria das escolas públicas – urbanas e rurais – onde estuda o grosso da população infantil, não dispõe de recursos para garantir o bem-estar e a saúde dos alunos, ao extremo de nem sequer contar com uma provisão segura da água potável e instalações sanitárias.

Nos países menos desenvolvidos, além disso, nem alunos nem professores contam com a tecnologia nem com os recursos para utilizar uma plataforma virtual capaz de substituir a presença física nas salas de aula, portanto, aqueles que não possam ir às aulas ficam totalmente marginalizados do sistema educativo. 

Enviar os estudantes aos colégios permitiria que os pais voltassem aos seus postos de trabalho, com o que se daria o impulso necessário à produtividade

Wikimedia Commons
Em países como os nossos, a infraestrutura educativa é débil e carece, em geral, das condições de segurança sanitária adequadas

Por outro lado, se coloca a necessidade de abrir os estabelecimentos educativos com o propósito de paliar os efeitos da violência doméstica, que se incrementou de maneira significativa como efeito do encerramento obrigatório dos últimos meses. Crianças e adolescentes se vêem expostos a um sistema de relações familiares que limita sua capacidade de defesa diante de agressões físicas, sexuais, econômicas e psicológicas no interior de seu lares.

Portanto, a volta às aulas se apresenta como uma opção interessante entre duas situações pontuais de risco: a violência versus o contágio. De acordo com os dados da World Vision e da ONU Mulheres, os níveis de violência doméstica durante a pandemia aumentaram entre 25 e 40 por cento na maioria dos países em todo o mundo, o que demonstra a extrema falta de defesa dos grupos vulneráveis: crianças, adolescentes e mulheres.

Isto que é revelado pelo ataque supressivo de uma pandemia capaz de transtornar a vida em todos os seus aspectos, é a forma como se têm marginalizado os interesses das novas gerações; até a que extremo foram convertidas em meros instrumentos de campanha política, abandonados à sua sorte uma vez que se conseguem os resultados eleitorais.

As promessas vãs de investir e priorizar os programas destinados à nutrição, saúde e educação têm condenado os setores mais desprotegidos de nossas sociedades, e, por conveniência dos grandes grupos econômicos são destinados a ser um simples viveiro de trabalhadores mal pagos.

A educação é a ferramenta mais poderosa para alcançar o desenvolvimento e garantir o bem-estar em todos os demais aspectos da vida humana. Abrir ou não? O dilema está proposto. 

As decisões sobre a infância devem estar enfocadas em seu bem-estar.

Carolina Vásquez Araya, colaboradora de Diálogos do Sul da Cidade da Guatemala

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Carolina Vásquez Araya Jornalista e editora com mais de 30 anos de experiência. Tem como temas centrais de suas reflexões cultura e educação, direitos humanos, justiça, meio ambiente, mulheres e infância

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