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Registro de ação da Minustah em Porto Príncipe em 20 de janeiro de 2010 (Imagem ilustrativa: Sophia Paris / ONU)

Haiti: jornalistas criam “escudo humano” contra violência e repressão nas ruas

Coletivo M2P ergue muralha informativa e física contra a brutalidade tanto das gangues quanto das forças policias, responsáveis por violações sistemáticas aos direitos humanos no Haiti
Redação Correo del Alba
Correo del Alba
Porto Príncipe

Tradução:

Ana Corbisier

Em meio a uma crescente onda de protestos no Haiti contra a insegurança e a crise política, o movimento Mariage Population et Presse (M2P – Casamento entre População e Imprensa, em tradução literal) tomou uma posição firme em defesa do povo. Diante da brutal repressão policial contra manifestantes pacíficos e da impunidade das gangues armadas, um grupo de jornalistas decidiu agir, formando um verdadeiro escudo humano para proteger os cidadãos do abuso das forças de segurança, assim como das gangues armadas.

O movimento, criado pelo jornalista Louko Désir e sua equipe do Matin Débat, nasceu com o objetivo de aproximar a imprensa das problemáticas sociais e dar voz aos setores mais vulneráveis. No entanto, nas recentes manifestações, o M2P deixou de ser apenas uma ponte entre a população e os meios de comunicação para se tornar um ator-chave na defesa dos direitos humanos nas ruas.

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“Nós, como jornalistas, não estamos aqui apenas para informar; também temos a responsabilidade de denunciar a injustiça e proteger nossa gente quando o Estado e sua extensão (as gangues armadas) exercem violência contra ela”, declarou Désir em uma intervenção recente.

Diferentemente do cordão sanitário na Europa, que busca isolar a extrema-direita, no Haiti o M2P se ergue como uma muralha informativa e física contra a brutalidade das gangues criminosas e das forças da ordem que foram cúmplices de violações sistemáticas dos direitos humanos. “Não podemos ser neutros quando o povo é assassinado nas ruas. A imprensa não é apenas uma testemunha, é uma força de resistência”, declarou Louko Désir, líder da iniciativa.

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O jornalista Louko Désir e sua equipe do Matin Débat foram fundamentais para a consolidação desse movimento, que evoluiu de uma plataforma de denúncia para um ator protagonista na defesa dos direitos humanos nas ruas. “No Haiti, a repressão não apenas silencia os manifestantes pacíficos, mas também os jornalistas. Se não tomarmos uma posição ativa, a imprensa perderá sua razão de ser”, declarou Désir em uma recente transmissão.

Os jornalistas também são vítimas

A iniciativa do M2P pode ter um forte impacto dentro e fora do Haiti. Relatórios da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) e do Escritório da Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos alertaram sobre o alarmante aumento da violência contra jornalistas no país. Desde 2023, pelo menos três repórteres foram assassinados, enquanto outros sofreram sequestros e agressões durante a cobertura de manifestações. (Noticia SIN)

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No entanto, longe de se intimidar, o M2P fortaleceu seu compromisso. A organização começou a receber apoio de meios digitais e alternativos, que veem nessa união uma oportunidade para revitalizar o jornalismo haitiano. O desafio agora é manter-se firme diante da pressão das gangues armadas e da repressão estatal, que buscarão desacreditar a imprensa independente e frear a mobilização popular.

Cabe destacar que, recentemente, em um vídeo nas redes sociais, o líder do M2P recebeu publicamente ameaças e intimidações do chefe das gangues armadas federadas sob a denominação G9, Jimmy Cherizier, conhecido como Barbecue.

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Um novo modelo de imprensa militante?

O MP2 no Haiti atua diretamente no terreno, protegendo os manifestantes e enfrentando a censura com informação. Em um país onde a violência e a desinformação foram utilizadas como instrumentos de controle, este movimento levanta uma pergunta crucial: pode o jornalismo ser um ator direto na luta pela democracia e pelos direitos humanos?

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Com um número crescente de meios de comunicação se somando à iniciativa, o M2P pode se tornar uma referência regional de resistência jornalística e ativismo cidadão. A luta está apenas começando, e a imprensa haitiana decidiu não permanecer na trincheira da neutralidade, mas sim sair às ruas para defender a verdade.

Esse pode ser o início de uma nova era para o jornalismo haitiano, em que o trabalho informativo se combine com a luta ativa pela justiça social.

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O impacto do M2P se expandiu rapidamente graças à adesão de meios alternativos e digitais que encontraram no movimento uma plataforma de articulação e denúncia. Em um contexto em que o assassinato, a perseguição e a censura de jornalistas aumentaram, a solidariedade entre comunicadores se tornou uma necessidade urgente.

O nascimento do M2P marca um ponto de inflexão na imprensa haitiana. Seu modelo de jornalismo comprometido remete a experiências internacionais em que a mídia desempenhou um papel-chave na luta contra regimes autoritários e a violência estatal.

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Um jornalismo que não se cala

“Não podemos ser simples observadores quando o Estado reprime com impunidade. A imprensa deve ser um ator de resistência”, afirmou Louko Désir, cofundador do M2P e líder do programa Matin Débat.

Essa posição desafia o modelo tradicional de imprensa “neutra”, que, em muitas ocasiões, serviu para encobrir ou minimizar a violência estatal. Para o M2P, o jornalismo deve ser objetivo, mas isso não significa ser indiferente às injustiças. Documentar e denunciar os abusos é uma responsabilidade ética e política.

Poderá esta iniciativa se consolidar e transformar o panorama midiático haitiano? Enquanto as ameaças aumentam, a resistência jornalística também cresce, deixando claro que, no Haiti, o jornalismo já não é apenas um ofício, mas um ato de luta.

O grande debate agora é se este movimento poderá se consolidar como uma força estrutural na sociedade haitiana ou se enfrentará maiores tentativas de censura e repressão. O que está claro é que a neutralidade não é uma opção em um país onde a violência faz parte do sistema. O M2P não apenas informa: age, protege e resiste.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Redação Correo del Alba

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