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Foto: Wikimedia Commons

Haiti: sem perspectiva de melhora em 2024, crise econômica bloqueia redução da pobreza

Inflação, queda nos investimentos, desemprego, emergência climática e problemas com abastecimento e distribuição de produtos petrolíferos no Haiti estão entre os principais desafios
Joel Michel Varona
Prensa Latina
Porto Príncipe

Tradução:

Ana Corbisier

A recuperação econômica do Haiti está descartada em 2024 se se leva em conta a violência que vive o país caribenho, o aumento do índice de desemprego e um decréscimo das atividades empresariais marcadas pela recessão. Nessa linha, o acadêmico haitiano Enomy Germain assegurou que o país terá pelo sexto ano consecutivo um crescimento negativo, porque, entre outros fatores, a insegurança provoca o bloqueio sistemático do comércio na nação antilhana.

O ex-professor do Centro de Técnicas de Planejamento e Economia Aplicada explicou que a contração experimentada pelo Haiti em 2023 dificultará o avanço do setor neste ano, que começou com um Produto Interno Bruto (PIB) negativo de 1,9%. Os principais desafios continuam sendo a inflação, os problemas com o abastecimento e a distribuição de produtos petrolíferos, e a depreciação da moeda nacional, combinados com um clima de insegurança persistente.

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Múltiplos fatores

Tudo isso põe em perigo a aplicação dos programas e projetos que deveriam ser desenvolvidos para alcançar os objetivos de crescimento e redução da pobreza. Outro problema que prejudica a economia do Haiti é o retrocesso dos investimentos privados e o baixo ritmo de execução do Programa de Investimento Público, elementos impedidos de serem catalizadores do crescimento.

As exportações, que representam uma média de 40% do PIB, diminuíram cerca de 21,6% nos primeiros cinco meses do ano passado. O Haiti exporta produtos têxteis, como camisetas, suéteres e camisas para o público feminino e masculino, além de cacau, café e manga; e estes produtos têm como destino final Estados Unidos, Canadá, México, Tailândia e França, entre outros. Também os fenômenos naturais derivados da mudança climática influem nos resultados econômicos.

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Hiperinflação

O Índice Geral de Preços ao Consumidor, que se situava em 373,6% em fevereiro passado, subiu a 391,3% em março, um aumento que hoje afeta a população. Segundo o Instituto Haitiano de Estatística e Informática “esse aumento mensal pode ser considerado muito grande se se consideram os +4,7% em março frente a +3,1% do mês anterior (+7,8% em dois meses)”. Tais cifras tendem a piorar a crise humanitária que vive o Haiti, pois a população pode sofrer os efeitos da hiperinflação econômica.

A fonte explicou recentemente que muitos setores que dinamizam a economia mal estão funcionando, inclusive o porto e o aeroporto; fechados, trazem consigo uma desaceleração das atividades comerciais, especialmente das importações e exportações. Em seu informe, a instituição considera que para reverter esta situação é vital obter a estabilidade política, pôr ponto final na violência das gangues, além de desbloquear as principais estradas nacionais para o transporte de mercadorias e o movimento de pessoas.

O impacto das remessas

A economia aqui tem outro aspecto a analisar e é o papel das remessas. Neste sentido o Banco da República do Haiti (BRH) considerou que o fluxo deste capital vindo da diáspora é um apoio vital para o país. Segundo um informe do BRH, o envio de dinheiro da comunidade haitiana no exterior é equivalente a 20% do Produto Interno Bruto (PIB). “Em 2023, estes envios chegaram a 3,280 bilhões de dólares estadunidenses, uma ligeira diminuição de 129,8 milhões (-3,8%) diante dos 3,410 bilhões do ano anterior”, informou o banco. Tal situação se deve a uma tímida reativação das atividades econômicas nos principais países emissores de remessas.

Os depósitos em dólares em bancos comerciais aumentaram 23,4% entre 2021 e 2023, o que reforça o vínculo entre a instabilidade política e social e a desconfiança dos agentes econômicos. Pontua o BRH que os depósitos conversíveis em moeda estrangeira entre 2021 e 2023 chegam a aproximadamente 3.600 milhões de dólares. Os que mais enviaram neste item foram os haitianos radicados no Chile e no Brasil, comentou a entidade bancária.

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A instituição chamou a atenção para a dependência de uma parte considerável da população das remessas, utilizadas para comprar comida, pagar a prestação da casa, serviços de saúde e os colégios de crianças e adolescentes. No entanto, o Instituto Haitiano de Estatística e Informática considerou que as remessas enviadas pela diáspora aliviam hoje a crise das famílias, mas não curam a que vive o Haiti. Atualmente o país caribenho realiza novos cálculos para medir o PIB, e as remessas estão abaixo de 20%, mas continuam sendo um sopro de ar fresco para seus habitantes.

As remessas proporcionam ao país quatro vezes mais finanças do que as procedentes das exportações, e quase 100 vezes mais recursos que os recebidos por meio dos investimentos estrangeiros diretos, assegurou a entidade. “O Haiti é um dos países do mundo mais dependentes das remessas da diáspora, um signo de uma economia moribunda, não dinâmica, pouco diversificada, que é incapaz de gerar riqueza e renda para seus cidadãos por si só”, assegurou o economista Etzer Emile.

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Garantem a sobrevivência das famílias beneficiárias sem muito impacto no crescimento econômico e no emprego, afirmou Emile. Em 2022, os dados do Banco Mundial indicaram que o Haiti foi o terceiro país da América Latina e do Caribe mais dependente das remessas, depois de El Salvador e Honduras.

Mergulhado na violência das gangues, em sequestros e eventos sangrentos, esta nação do Caribe experimenta uma emigração significativa, e o número de nacionais residentes no exterior continua aumentando, com cerca de mais de 1,2 milhões, principalmente nos Estados Unidos.

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Seu panorama econômico também está marcado pelo aumento do índice de desemprego, ligado a um decréscimo das atividades empresariais, que sofrem a recessão.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Joel Michel Varona

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