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ONU produz eventos sobre o clima, mas deixa que acordo entre países caia no esquecimento

O desmatamento nos leva a enfrentar situações catastróficas como as tempestades de areia que acompanhamos nos últimos meses
Claúdio di Mauro
Diálogos do Sul
Uberlândia (MG)

Tradução:

Este Resumo se refere à síntese de leituras em bibliografias específicas, observações de realidades de campo, durante décadas de trabalho do pesquisador autor. Essas observações culminaram nestes meses de setembro de outubro de 2021 quando fatos geográficos assumiram situações catastróficas.

Nestas semanas dos meses referidos foram registrados eventos climáticos que mostram o perfil para o qual estamos conduzindo as realidades do Planeta Terra.

As nuvens de poeira com tempestades de materiais tóxicos encobriram diversos territórios com destaques para regiões urbanizadas, no Triângulo Mineiro, no Centro e Oeste do Estado de São Paulo, Sul e sudeste do Estado do Mato Grosso do Sul e até mesmo em Goiás, chegando na capital Goiânia. 

Observa-se que os Estados mais acometidos tem sido São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás. Justamente nas áreas que se referem ao Planaltos e Bacias Sedimentares, onde o Cerrado tem sido devastado para a entrada da ganância do agronegócio capitalista. São áreas sujeitas à exploração por atividades canavieiras e da pecuária.

O desmatamento nos leva a enfrentar situações catastróficas como as tempestades de areia que acompanhamos nos últimos meses

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Os impactos das mudanças climáticas já podem ser sentidas no mundo

Se até pouco tempo nos cabia a dúvida sobre as causas desses acontecimentos, agora há elementos que demonstram a disponibilidade de solos revolvidos e desprovidos de cobertura vegetal. O Cerrado sempre teve funções muito importantes de preservação dos solos e rochas, reduzindo os impactos diretos das gotas de águas das chuvas, favorecendo a infiltração das águas pluviais, alimentando os aquíferos livres e subterrâneos.

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A mudança no comportamento da distribuição de chuvas também tem acelerado os processos erosivos. Há um crescimento da pluviosidade de maneira concentrada em períodos de tempo curtos. São episódios torrenciais. Ou seja, as mesmas quantidades de chuvas que se distribuíam no tempo para se precipitar, agora se concentram e chovem em períodos de temporais mais curtos. Aí está caracterizada a torrencialidade.

Veja o documento: 

Solos revolvidos e desnudados da cobertura vegetal original são submetidos a aceleração de processos erosivos. Formação e aceleração nos processos de formação e evolução de vossorocas, além da lavagem das camadas superficiais dos solos favorecendo a condução de sedimentos que assoreiam rios e entulham reservatórios de água. Isso tudo está acontecendo cada vez de maneira mais acelerada. 

Se anteriormente eram registrados os chamados “rodamoinhos” de ventos, a cada dia eles se transformam de maneira crescente em nuvens de poeiras e vendavais com areias, misturadas com componentes químicos, adubos, aplicados nos solos e agrotóxicos usados para evitar ou eliminar pragas e doenças no processo produtivo pelo agronegócio capitalista. O sucesso do agronegócio capitalista tem sido baseado na utilização desses componentes de alta contaminação.

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Nas áreas “urbanizadas”, a forma predatória de produção dos territórios, com ocupação de áreas sujeitas a inundações e alagadas resulta em enchentes cada vez mais desproporcionais ao que seria desejável para o modo de viver. Populações, especialmente as mais empobrecidas, mas não apenas elas, ficam sujeitas às inundações que submergem pessoas, casas e bens. Em ruas e avenidas, veículos são transformados em “barcos”, sendo levados pelas águas do escoamento superficial.   Aumentam as catástrofes afetando populações que habitam e circulam por essas áreas vulneráveis, sujeitas a riscos. Ainda pior, pela maneira displicente como são tratados os esgotos e os efluentes vindos de industrias, granjas e outros usos das águas, essas substâncias fazem parte do líquido que escoa superficialmente e afeta as populações. Tal mistura líquida levada pelos rios nem pode ser considerada como água.

Durante muito tempo houve o debate para se ter o convencimento de especialistas que teimavam em não aceitar que as ações antrópicas e principalmente praticadas com fins econômicos, no país, eram aceleradoras de mudanças climáticas. O argumento que defendiam, dentro da orientação e visão capitaneada por argumentos estadosunidense é que as interferências climáticas das ações humanas, especialmente produzidas pelas práticas econômicas só afetavam condições pontuais, locais. Aos poucos foram sendo admitidas as variações climáticas em cidades com a alimentação e geração de microclimas urbanos. Contudo, com o passar dos tempos e por falta absoluta de argumentos de contradição, conclui-se que os chamados “rios voadores” produzidos a partir da evapotranspiração na Amazônia regavam o sudeste brasileiros. Tais “rios voadores” têm ficado reduzidos em suas interferências pelo fato de que o desmatamento na Amazônia reduz a intensidade da evapotranspiração de vegetais e animais, reduzindo também a disponibilidade hídrica na atmosfera. Assim é que a princípio se admitiu que o regime das chuvas no sudeste dependia da preservação da Amazônia. Agora não há dúvidas que os desmatamentos e as queimadas praticados com fins econômicos são responsáveis pela redução nas precipitações pluviais no sudeste brasileiro.

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No cotidiano, as realidades vividas demonstram com mais contundência  função nefasta produzida por esse tipo de economia praticado nos diversos espaços territoriais do Brasil e suas interferências nas mudanças climáticas. A cada dia o Planeta estará mais submetido às vulnerabilidades e riscos de catástrofes em função das ações do clima. Significa dizer que ou são estabelecidos pactos de mudanças nas formas de produzir nos campos e nas cidades ou a humanidade está sendo conduzida para verdadeira catástrofe com dimensões planetárias.

As mudanças de postura em relação ao sistema de produzir no campo e nas cidades passam obrigatoriamente pela recomposição imediata de significativa parcela das coberturas vegetais, com base em espécies nativas; praticar uso e ocupação dos solos rurais, obedecendo critérios de conservação, favorecendo a infiltração das águas das chuvas visando alimentar os aquíferos livres e subterrâneos; cuidar e revegetar as nascentes dos córregos;  reduzir drasticamente o uso de agrotóxicos e fertilizantes nas atividades agropecuárias; cuidar dos esgotos de granjas e criadouros. Estes são alguns procedimentos indispensáveis e urgentes.

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Nas cidades torna-se indispensável a redução dos níveis de consumo de energia, água e produtos industrializados. É necessária a revisão do modelo de construção das cidades, do uso e ocupação dos espaços urbanizados e em urbanização. 

Nos dois casos, ou seja, nas áreas urbanizadas e nas áreas rurais há que se garantir o cumprimento da função social da propriedade dos solos, das edificações e da própria cidade.

Ressalta-se a realidade que existem componentes tecnológicos capazes de reduzir os efeitos sobre as degradações ambientais e seus impactos nas condições climáticas. Contudo, essas providências ficam na dependência de decisões políticas para serem implementadas. Os eventos internacionais produzidos pelas Nações Unidas têm assumido compromissos para essas mudanças nos procedimentos das nações. Mas, em geral caem no esquecimento, após assinatura de protocolos por parte dos Países participantes.  É muito difícil o crédito de que os mesmos países que mantem tais sistemas de depredação socioambiental sejam signatários de compromissos para mudanças no modo de operar. 


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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