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Andrés Manuel López Obrador provavelmente venceu a eleição presidencial de 2006 no México. Ganhou mas não levou, devido a fraudes eleitorais. Concorreu pelo Partido da Revolução Democrática (PRD), dissidência à esquerda do Partido da Revolução Institucional (PRI).
Wagner Iglecias*
Fato semelhante já havia acontecido na eleição de 1988, quando Cuahutémoc Cárdenas, filho do mítico Lázaro Cárdenas, concorrendo pelo mesmo PRD também ganhou, mas não levou. Foi suplantado, segundo os computadores da Justiça Eleitoral mexicana, por Carlos Salinas de Gortari, um neoliberal do PRI educado nas universidades estadunidenses.
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Salinas que assinou o North America Free Trade Agreement (NAFTA) em 1994 com os USA e o Canadá e tornou o México uma espécie de prolongamento do espaço industrial e agropecuário do país vizinho.
País vizinho que fez a primeira intervenção militar de sua história justamente no México, entre 1846 e 1848, após apoiar o movimento separatista do Texas, então um estado mexicano. Ao final do conflito, as tropas estadunidenses marcharam pelo Paseo de la Reforma, principal avenida da capital mexicana, e o país foi reduzido à metade de seu território, perdendo Texas, Novo México, Colorado, Arizona, Nevada, Utah e Califórnia para os USA.
Nesse momento de forte giro à direita em quase toda a América Latina, a eleição de López Obradoré um fio de esperança para as forças progressistas. O México hoje está mergulhado na corrupção, na violência e no desemprego, na desestruturação de seu mundo rural e na imigração involuntária para os USA. Mais da metade de sua população vive abaixo da linha da pobreza. Os principais ativos estratégicos do país foram privatizados ou estão sob controle estrangeiro há muito tempo. Nada assim tão diferente do que tem ocorrido em tantos outros países da região.
Diante da radicalidade da situação, Obrador virá a ser uma espécie de Hugo Chávez a desafiar a Casa Branca? Ou um Evo Morales, em meio a um México em ebulição cidadã a partir dos movimentos sociais, que tentarão lhe puxar para a esquerda? Talvez, quem sabe, se pareça com um Lula mesmo, acertado que já parece estar com o poderoso Conselho Mexicano de Homens de Negócios. Ou mesmo almeje fazer um governo similar ao que Rafael Correa fez no Equador, pautado na recuperação da soberania nacional. No fim das contas, dada a correlação de forças, tanto no âmbito externo quanto das conservadoras instituições políticas mexicanas, termine por fazer um governo frustrante e de poucos avanços, como o de Michelle Bachelet, no Chile. A ver..
*é doutor em Sociologia e professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP