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ToggleNeste sábado (25), a poucas horas de começar os atos comemorativos da data pátria de 25 de maio de 1810, na Argentina, a semana terminava com uma severa crise econômica. Enquanto isso, no gabinete presidencial, o presidente ultradireitista Javier Milei se preparava para viajar a Córdoba, apesar de não ter conseguido um pacto com os governadores. O país está em chamas com a rebelião social na província de Misiones há mais de uma semana, e o governo só teve como única intervenção a repressão mediante forças de segurança enviadas pelo Ministério de Segurança Nacional.
Na quinta-feira (23), essas forças atuaram contra os docentes, trabalhadores da saúde e outros setores que realizaram uma marcha multitudinária e chegaram até a casa do governador Hugo Passalacqua, e agora é cada vez maior a quantidade de descontentes que participam dos acampamentos e marchas. Na sexta, manifestantes que tentavam chegar ao prédio onde os legisladores locais estavam em sessão foram novamente reprimidos com gás de pimenta e outros meios, o que causou mais indignação; por isso, mesmo sob chuva, os acampamentos continuam, sob barracas e guarda-chuvas na Avenida Uruguai, em Posadas, capital de Misiones. Ao protesto se somaram os trabalhadores do sindicato de Luz e Força, realizando assembleias nos locais da empresa de energia da província (EMSA).
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Um dos problemas é o assombroso aumento das tarifas de luz, impossíveis de pagar com os baixíssimos salários, enquanto o governo nacional continua sem enviar o dinheiro de coparticipação que lhe corresponde. Os manifestantes advertiram que poderiam realizar novas medidas de protesto. Até a noite de sexta, os representantes dos policiais locais continuavam negociando com o governo. Há movimentos similares em outras províncias do país, inclusive Córdoba, cuja capital foi virtualmente militarizada para impedir os protestos sindicais anunciados em rejeição à visita presidencial.
Retenção de alimentos e outras crises
Se a situação já era grave nesta capital – onde depois da paralisação nacional dos estudantes, professores e pessoal superior das universidades, houve paralisações, marchas e panelaços populares – a indignação chegou ao limite quando as organizações sociais souberam (graças à investigação do portal Destape) que o governo de Milei e a ministra de Capital Humano, Sandra Pettovello, retiveram cinco mil toneladas de alimentos secos, deixados pelo governo anterior e que deveriam ser distribuídos em bairros e refeitórios desde o fim de dezembro de 2023.
O próprio governo confirmou esta situação que, segundo Pettovello, “era para prevenir, caso houvesse uma catástrofe”. Mais de cinco meses se passaram desde que o governo Milei assumiu, e deixou de enviar alimentos para mais de 40 mil refeitórios populares no país, supostamente para “auditá-los” por “possibilidades” de “corrupção”, o que provocou que milhares de pessoas indigentes, ou cada vez mais empobrecidas, a maioria crianças, não consigam comer sequer uma vez ao dia, o que também afetou os refeitórios escolares.
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Na semana passada, todos os preços aumentaram e o consumo em supermercados caiu mais de 30%. As mobilizações, greves e reclamações contra o ajuste “criminoso” imposto pelo presidente Milei mostraram uma imagem muito diferente da apresentada pelo governante, que se autodenomina o mais “importante libertário do mundo”.
Em meio à decisão do governo contra os meios públicos como a televisão, a Rádio Nacional e a Agência Nacional de notícias Télam, diante de cujo prédio, os funcionários acampam diante do edifício onde funcionava a redação e a sala de transmissão. Também foram afetadas todas as províncias às quais chegavam tanto a TV pública quanto a Rádio Nacional e a Télam, e tenta-se acabar com a programação do tão reconhecido programa infantil Paka Paka ou do canal cultural e educativo Encontro, em um avanço total para destruir a cultura nacional.
Por outro lado, sindicatos como o de Pneumáticos (Sutna) decidiram fazer um lentejada solidário (cozinhar lentilhas em cozinhas solidárias) em frente às fábricas Fate e Pirelli, diante do que consideram um brutal ataque do governo e apelando à unidade e à solidariedade da classe trabalhadora. Serão acompanhados por grupos musicais.
Pior semana
Os analistas da situação econômica consideram que esta é a pior semana financeira desde que Milei chegou ao poder, agravada pelo aumento do dólar e novos aumentos, além de estar ocorrendo uma forte crise interna no governo, com a queda de altos funcionários do gabinete nos próximos dias, incluindo rumores sobre o ministro da Economia, Luis Caputo. A indignação diante das viagens presidenciais, por razões partidárias, e o ato no Luna Park, entre outras atuações, tem piorado a difícil situação e alimentado o enojo e a indignação, inclusive entre seus seguidores.
Uma boa parte do público em um ato de Milei na quarta-feira (22) era evangélica, da Igreja Universal do Reino de Deus, que prega que a terra prometida é Israel.
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