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Milei e Boluarte têm muito em comum: ambos estão dispostos a matar para ficar

Mandatária convidou novo presidente argentino a ir ao Peru para lhe transmitir um pouco das “boas vibrações” que ele acumulou nos últimos meses
Gustavo Espinoza M.
Diálogos do Sul Global
Lima

Tradução:

Feliz, exultante, jubilosa, mostrou-se a ultradireita peruana pelo triunfo de Javier Milei nas recentes eleições argentinas. Envoltos em cifras e porcentagens, se sentiram na glória Phillip Butter, Francisco de Piérola e Cecilia Valenzuela. Mas quem se mostrou particularmente efusiva foi Dina Boluarte.

A dama, a partir de um conluio com o argentino, lhe fez chegar uma emotiva mensagem na segunda-feira, dia 20. No dia seguinte, chamou-o por telefone para “senti-lo perto” e, além disso, convidá-lo a vir ao Peru para transmitir-lhe um pouco das “boas vibrações” que ele acumulou nos últimos meses.

Palavras de alívio: cenário na Argentina não é nossa culpa

Ao “perfilar imagem” no cenário exterior e “ganhar algo” para alcançar relevo e romper a solidão que a atormenta, fez com que a precária inquilina do Palácio busque obsessivamente amparo, apoio e enlaces em qualquer dos cenários externos, a fim de compensar sua exígua popularidade local, que apenas registra 9% de aceitação cidadã.

Talvez ela não saiba, mas alguém de seu entorno devia dizer-lhe que esse não era um bom passo. Afinal, o senhor Milei não é só um político com sorte. É também o embrião de um fenômeno letal que busca adquirir força e que logo semeará terror e morte nesta área do mundo. 

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Logo, aqueles que se alegram hoje por sua vitória se verão na necessidade de apagar suas palavras, ocultar sua alegria e assobiar escondido. 

Na Argentina, e em outros países, a ultradireita tem tendência a encobrir suas confusões pondo como parapeito a palavra “liberdade”.

Mandatária convidou novo presidente argentino a ir ao Peru para lhe transmitir um pouco das “boas vibrações” que ele acumulou nos últimos meses

Fotos: Reprodução/X
Talvez, para ambos, o “amor pelo sangue” (alheio, evidentemente) é o que os faz sorrir




“Revolução Libertadora”

Em 1955, quando o generalato argentino derrubou o governo de Perón, seus expoentes – Lonardi, Aramburu e Rojas – cunharam o termo “Revolução Libertadora” para apresentar sua aventura golpista. Anos depois tomou o lugar do general Juan Carlos Onganía, e mais tarde Carlos Rafael Videla, que terminou seus dias pendurado numa cela.

Mas, esse capricho não teve só militares. Também civis, como Carlos Saúl Menem e Mauricio Macri sustentaram a mesma ideia. No fundo, o que querem era liberar-se do “drama” de viver em um país em que o Peronismo havia dado voz aos secularmente oprimidos, “os de baixo”. Não suportavam mais os “cabecinhas negras”. 

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Vargas Llosa, o espanhol por adoção, tampouco suporta as populações originárias. Isso explica seu menosprezo por José María Arguedas, mas também que tenha formado com seus fãs da América essa estranha “Aliança pela Liberdade”, que hoje saúda o franguinho nazista catapultado à Casa Rosada. 

É preciso dizer, então, que estes personagens não são novos. Vieram antes também e se apresentaram como os militares brasileiros de 64, que derrubaram Goulart; como os uruguaios de junho do 73, com Bordaberry: como Pinochet e seu comparsa Contreras, com sua própria e sinistra DINA (que coincidência!) incluída.

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Em que terminaram todos esses processos? Resolveram os problemas dos povos? Promoveram e alentaram o auge, o progresso e o desenvolvimento de seus países? Encararam exitosamente os desafios da modernidade? Absolutamente não. 

Ficaram apenas como um traste na história, como ocorrera com os generais Valkov, Zhankov e o Almirante Horthy, que há mais de 100 anos assomaram como os “precursores” do fascismo.


Visão curta

Tem uma mirada muito curta Dina Boluarte ao entusiasmar-se com Milei. Finalmente uma e outra terão o mesmo destino. Ela vive já em um inferno, isto é, no mundo do desprezo que lhe devota seu povo. E o outro, cairá logo, tão pronto os argentinos percebam o fedor de sua derrota. 

Hoje a ultradireita peruana usa a propaganda de Milei como uma cortina de fumaça para distrair a cidadania a fim de que não perceba suas reais intenções.

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De imediato, persiste em aprovar a criação do Senado e a reeleição parlamentar, impedir a inscrição de novos partidos para “fechar” o cenário eleitoral, impedir a participação dos movimentos regionais e locais em proveito das cúpulas partidárias existentes e bloquear as eleições internas para democratizar a nominação de candidatos. 

De todo modo, Milei e Dina têm um elemento em comum: estão dispostos a matar para ficar. Ela já o demonstrou, e acaba de trazer direto dos Estados Unidos seu recente Ministro do Interior em substituição do censurado. E o argentino anunciou que o fará recorrendo ao braço armado do Estado para “impedir distúrbios”.

Sobre isso, tem lições aprendidas, e colocou em sua mira as Mães da Praça de Maio e o Lugar da Memória, começando pela ESMA. É claro: quer voltar pelo rastro que deixou o Terrorismo de Estado.  

Talvez isso, seu “amor pelo sangue” (alheio, claro) é o que os faz sorrir, a partir de um conluio.

Gustavo Espinoza M. | Colunista na Diálogos do Sul direto de Lima, Peru.
Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Gustavo Espinoza M. Jornalista e colaborador da Diálogos de Sul em Lima, Peru, é diretor da edição peruana da Resumen Latinoamericano e professor universitário de língua e literatura. Em sua trajetória de lutas, foi líder da Federação de Estudantes do Peru e da Confederação Geral do Trabalho do Peru. Escreveu “Mariátegui y nuestro tiempo” e “Memorias de un comunista peruano”, entre outras obras. Acompanhou e militou contra o golpe de Estado no Chile e a ditadura de Pinochet.

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