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Trump poderia ser primeiro a reeleger-se depois de processo de impeachment

O fato do americano ainda gozar de suficiente apoio, apesar da longa lista de possíveis delitos revelados na investigação em curso é quase incrível
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

A um ano das eleições presidenciais, se as atuais tendências de apoio político e desempenho econômico se mantiverem e não houver magnas surpresas, o prognóstico é que Donald Trump poderia ser o primeiro presidente formalmente acusado de delitos pelos quais poderia ser destituído – ou seja, que foi “impeached” – que consegue sua reeleição. 

Mas um ano, em termos eleitorais, é uma eternidade, e se a história é guia, os processos de investigação sobre comportamento criminoso de um presidente que merece um julgamento político costumam revelar outros delitos e/ou escândalos ainda não detectados, ou reações extremas que resultam em um outro delito mais – tal como obstrução de justiça – enquanto que, por outro lado, os melhores economistas quase nunca conseguiram prognosticar as crises.  

No entanto, o fato de Trump ainda gozar de suficiente apoio, apesar da longa lista de possíveis delitos revelados na investigação em curso, junto com o que se revelou durante a indagação prévia por um promotor especial, mais os incessantes ataques presidenciais contra as normas e instituições do governo, as acusações de corrupção, suas mais de 13 mil afirmações falsas ou enganosas documentadas, sem falar das mais de 60 mulheres que denunciaram assédio e abuso sexual, entre tantas coisas mais, é quase incrível.

O fato do americano ainda gozar de suficiente apoio, apesar da longa lista de possíveis delitos revelados na investigação em curso é quase incrível

The White House
Outro dia mais no paraíso democrático estadunidense.

Segundo estrategistas republicanos, para que Trump sobreviva ao processo de impeachment e seja reeleito, são requeridas duas coisas: unidade firme entre republicanos – tanto na classe política como no eleitorado – e uma economia que continue registrando resultados positivos em emprego e ganhos, reporta Axios.  

Ambas as coisas, por agora, estão assim. Trump, ainda depois das revelações das últimas semanas sobre a Ucrânia, não só ainda tem mais de 85% de apoio das filas republicanas, enquanto nem um só deputado de seu partido rompeu filas ao votar contra o processo de impeachment na câmara baixa na semana passada. Ainda mais, analistas registram que por agora Trump mantém suficiente apoio nos estados chaves do mapa eleitoral para conseguir sua reeleição. 

Batalhas

O processo de impeachment prosseguiu hoje com quatro altos funcionários da Casa Branca se recusando a comparecer diante dos três comitês da câmara baixa encarregados da investigação, tal como ordenou Trump. Não se sabe se outros que estão citados nesta semana farão o mesmo. 

Se for assim, isto poderia detonar outra controvérsia legal, com legisladores democratas formulando acusações de “obstrução ao Congresso” – da mesma forma que se fez há meio século com Richard Nixon.

Por sua parte, Trump e seus aliados republicanos continuaram desqualificando tanto os mensageiros como a mensagem. 

Uma vez mais o presidente intensificou sua pressão para que se revele a identidade do denunciante que detonou o processo do impeachment ao reportar por canais oficiais que no telefonema entre Trump e seu homólogo ucraniano, o estadunidense o instou a começar uma investigação contra seus rivais democratas, assim invitando a interferência de um poder estrangeiro no processo eleitoral estadunidense de 2020. 

Sob a lei, o denunciante – que só foi identificado como um oficial de inteligência designado para a Casa Branca – tem o direito de se manter anônimo para proteger sua própria segurança pessoal. No entanto, Trump tem insinuado que sabe quem é, e o acusou de ser peça dos democratas, e tuitou hoje que “o denunciante ofereceu informação falsa & e se manejou com o político corrupto Schiff”, em referência ao presidente do Comitê de Inteligência, o representante democrata Adam Schiff.

Enquanto isso, hoje a câmara começou a divulgar as transcrições das declarações de algumas das testemunhas que se apresentaram durante esta fase a portas fechadas da indagação. 

Este mês se antecipa o início da fase pública da investigação na câmara que, se supõe, culminará com a aprovação de acusações formais contra Trump – com o que ele será considerado como “impeached”.

Essas acusações oficiais são enviadas ao Senado onde se realiza o julgamento político para determinar se será ou não destituído, algo que por ora se descarta pelo apoio quase total ao presidente da maioria republicana. 

No entanto, o impeachment não é a única batalha política que o presidente enfrenta.  

Hoje um tribunal federal de apelações recusou a solicitação dos advogados de Trump e ordenou que ele tem que entregar seus documentos fiscais a um procurador estatal em Nova York. Espera-se que Trump leve o caso à Suprema Corte.

Por outro lado, o Departamento de Justiça está advertindo o autor anônimo que diz ser, ou ter sido, um funcionário da Casa Branca que seu livro a ser publicado este mês poderia estar violando acordos oficiais de não divulgação.  

E uma colunista de conselhos, E. Jean Carroll, que acusou a Trump de um ataque sexual nos anos noventa apresentou uma denúncia legal por difamação contra ele.

Outro dia mais no paraíso democrático estadunidense.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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