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Não foi a China: Coronavírus pode ter sido criado pelos EUA, dizem renomados cientistas

Sob olhar de Jeffrey Sachs e Neil L. Harrison, pesquisa afasta ideia de conspiração, enquanto Washington busca abafar investigações
Antonio Martins
Outras Palavras
São Paulo (SP)

Tradução:

Uma hipótese incômoda voltou a se insinuar, nas últimas semanas, nos meios científicos mundiais – em especial os da infectologia e biologia molecular. O coronavírus, que em pouco mais de dois anos e meio matou 6,3 milhões de pessoas, devastou as antigas formas de socialização e provocou ondas de crise econômica cuja expansão não terminou, seria uma criação humana.

Ele não teria se espalhando a partir de “salto entre espécies” – dos morcegos para o homo sapiensResultaria de um desenvolvimento em laboratório. E seriam os Estados Unidos – não a China, ao contrário do que se afirmou com insistência, no início da pandemia – o poder empenhado em ocultar os rastros desta criação.

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Para que a teoria não pareça conspiratória vale apresentar, de partida, seus dois formuladores principais. O mais destacado é Jeffrey Sachs. Economista liberal, ele ganhou notoriedade no final dos anos 1990, quando assessorou a transição da Rússia e da Polônia, até então regidas pelo planejamento estatal, para as lógicas de mercado. Assim como outros teóricos empenhados em tarefas semelhantes, Sachs reviu parcialmente suas posições, nos anos seguintes.

Engajou-se então na assessoria direta a projetos como os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU e na denúncia da pobreza extrema, em especial na África. Seu prestígio acadêmico (dirige o Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Colúmbia) levou-o a presidir a comissão para a covid 19 da revista de divulgação científica Lancet. Fundada há 199 anos, e com edições semanais, Lancet é uma das publicações mais respeitadas em seu gênero, no Ocidente. Ao formular as hipóteses sobre o surgimento da covid, Sachs tem trabalhado em conjunto com Neil L. Harrison, professor de Farmacologia Molecular também na Universidade de Columbia.

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Em 19 de maio último, Sachs e Harrison publicaram em conjunto, na revista científica norte-americana PNAS [Proceedings of National Academy of Sciences, algo como “Iniciativas da Academia Nacional de Ciências”] um artigo teórico em que pedem, pela primeira vez, a abertura de um inquérito independente sobre as origens do vírus denominado Sars-CoV-2, causador da covid-19 e popularmente conhecido como o “novo coronavírus”.

Os dois autores sugerem, no texto, que: a) Desde que a pandemia eclodiu, suas origens têm sido objeto de especulação intensa; b) Após uma série de controvérsias, acabou predominando a hipótese de uma eclosão “natural” do vírus; c) No entanto, a chamada “comunidade de informações” dos EUA trabalha também com outra teoria – a da criação em laboratório; d) Estas considerações têm sido ocultadas do público. Dada a importância crucial do tema, e o risco de que novos incidentes do mesmo tipo se repitam, é necessário romper tal sigilo.

No mesmo texto, Sachs e Harrison defendem, inclusive com demonstrações gráficas, uma hipótese extremamente grave, que não será possível reproduzir adequadamente neste espaço – mas que os conhecedores do tema poderão avaliar melhor. Eles dizem, em essência, que a particularidade do Sars-CoV-2 é sua enorme capacidade de contágio; que esta é ampliada por uma sequência de doze aminoácidos na proteína spike do vírus; e que tal sequência era objeto de estudo e de manipulações, desde 2006, por laboratórios biológicos norte-americanos.

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Fato de EUA negarem-se a uma investigação pública indica que, também no campo das biotecnologias, crise civilizatória traz ameaças inéditas

Semanas mais tarde, os mesmos Sachs e Harrison voltaram à carga, desta vez em dois artigos de viés mais político que acadêmico, publicados na versão norte-americana de The Intercept e em Project SyndicateNos dois textos, os autores argumentam, oferecendo inúmeras demonstrações, que a tentativa de criar em laboratório um vírus com a capacidade de contágio do Sars-CoV-2 foi proposta explicitamente ao Departamento de Defesa dos EUA.

Sachs e Harrison sugerem estar certos de que esta criação se deu. Dizem não saber onde: se nos próprios EUA, ou se no laboratório biotecnológico de Wuhan, na China – que em algum momento parece ter colaborado com as pesquisas norte-americanas. Mas asseveram suspeitar que, em qualquer caso, a tecnologia empregada foi a desenvolvida nos EUA.

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Mas Sachs é ainda mais explícito, numa palestra mais recente (oferecida em 17/6) ao Gate Center – um think tank sediado em Madri – ao qual falou em companhia do ex-primeiro-ministro espanhol José Luis Zapatero. Seu tema é a atitude supremacista dos Estados Unidos diante dos problemas globais (veja em especial a partir de 11m20s).

Num breve parêntesis, ele alude à emergência do coronavírus e a apresenta como resultado desta postura soberba. Suas palavras são eloquentes: “Eu presidi a comissão para a covid-19 da Lancet. Estou totalmente convencido de que [o vírus] surgiu de um laboratório biotecnológico dos EUA, não da natureza. Não há certeza absoluta, mas nada está sendo investigado”.

Talvez o mais grave seja o que vem a seguir. Sachs e Harrison argumentam, em seus artigos, que a criação artificial de vírus é prática aceita nos EUA, a pretexto de desenvolver vacinas e medicamentos que combatam as doenças provocadas por estes patógenos. Argumentam que as legislações que regulam essas atividades são extremamente frouxas, o que dá margem a uma vasta gama de riscos e manipulações. Pedem que Washington conduza um inquérito a respeito. Para tanto, frisam, não há necessidade alguma de ir à China.

O exame de “sequências virais, trocas de e-mails, registros dos laboratórios e dados de sequenciamento disponíveis no país” permitiria dar passos decisivos. A hipótese de criação do coronavírus em laboratório – por intenção ou acidente – não é de todo nova. Já em junho de 2020 o filósofo Maurício Abadalla (UFES) e o biólogo Máximo Sandín (Universidade Autônoma de Madri) publicaram artigo alertando para os experimentos desregulados dos laboratórios biotecnológicos ligados à indústria farmacêutica.

O fato de os EUA negarem-se a uma investigação pública indica que, também no campo das biotecnologias, a crise civilizatória traz ameaças inéditas. Mas também revela algo importante: pouco a pouco vai ficando claro que interesses é preciso derrotar, para que outro mundo seja possível.

Antonio Martins é editor do Portal Outras Palavras


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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