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Imagens: Reprodução / Facebook

Nem exilado, nem banido: González fugiu da Venezuela pois percebeu que golpe fracassou

González tomou decisão sem dar explicações a Corina nem aos seus eleitores, um sinal de enorme fraqueza frente ao governo de Nicolás Maduro
Redação Misión Verdad
Misión Verdad
Caracas

Tradução:

Guilherme Ribeiro

Na noite de 7 de setembro, a vice-presidenta executiva da República, Delcy Rodríguez, informou que Edmundo González, ex-candidato presidencial da oposição, deixou o país em direção à Espanha após um pedido pessoal e voluntário de asilo político. Segundo Rodríguez, González havia se refugiado “voluntariamente na embaixada do Reino da Espanha há vários dias”.

O governo venezuelano, diante do pedido, concedeu “os devidos salvo-condutos em prol da tranquilidade e paz política do país” e reafirmou “o respeito pelo direito que tem prevalecido nas ações da República Bolivariana da Venezuela na comunidade internacional”.

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Posteriormente, o chanceler espanhol, José Manuel Albares, confirmou a informação, assegurando que o ex-candidato, “a seu pedido, está voando para a Espanha em um avião das Forças Aéreas espanholas”. Essa decisão encerra um breve, porém barulhento, capítulo de especulação nas redes sociais sobre a veracidade do que havia sido informado pela vice-presidenta venezuelana.

A situação gerou alvoroço na opinião pública nacional e internacional, sendo um evento que altera estrategicamente o cenário político da Venezuela. A saída de González pegou todos de surpresa e, inicialmente, representou um golpe profundo no ânimo e moral da oposição venezuelana liderada por María Corina Machado, que até o dia anterior não questionava o compromisso do ex-candidato com a estratégia de “Até o fim”: forçar uma mudança de regime por vias extraconstitucionais antes de 10 de janeiro de 2025.

Não há “exílio” ou “banimento”

O choque político e informativo foi tamanho que, em diversos setores da oposição, uma narrativa de controle de danos foi impulsionada para limitar o golpe à credibilidade do ex-candidato. Esse discurso tem se centrado em projetar a saída de González do país como resultado de uma negociação entre os governos da Espanha e da Venezuela ou, alternativamente, entre a PUD e o governo nacional.

Contudo, vários elementos práticos confirmam a fragilidade desse relato. Em primeiro lugar, a declaração do chanceler espanhol. Albares insistiu que a solicitação de González foi voluntária, de caráter pessoal, em linha com o informado por Delcy Rodríguez à noite. Consequentemente, o suposto “exílio” não foi um fato acordado. González colocou seu interesse pessoal e familiar em primeiro lugar, o que motivou o pedido de asilo concedido pelo governo espanhol.

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Em segundo lugar, a informação sobre o avião. O jornal El País e outros meios de comunicação espanhóis revelaram que o pedido de asilo já estava em trâmite há dias e que o avião que o transportou à Espanha aguardava na República Dominicana, enquanto se aguardava o resultado do pedido, no qual o ex-presidente José Luis Rodríguez Zapatero atuou como mediador.

O ministro das Relações Exteriores dos Países Baixos, Caspar Veldkamp, revelou que González estava abrigado na embaixada do reino em Caracas desde 29 de julho. Segundo Veldkamp, o ex-candidato manifestou unilateralmente sua intenção de mudar de residência e deixar o país no início de setembro.

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Em suma, tudo indica que sua decisão já estava tomada há algum tempo, sem depender de negociações entre os governos venezuelano e espanhol ou com os partidos da PUD. Para González, o cálculo pessoal e familiar prevaleceu sobre o cálculo político, muito provavelmente prevendo que a suposta “transição” que ele estava destinado a liderar estava em um beco sem saída, sem nenhuma capacidade concreta de sucesso.

Mentiras premeditadas e o golpe a María Corina Machado

Desde que surgiu no contexto da inscrição de candidaturas presidenciais, sempre se alertou que Edmundo González seguia os padrões da oposição tradicional venezuelana, onde prevalece o cálculo cínico, o jogo de aparências e a busca por cenários de conveniência pessoal como um fim em si mesmo. Ele não era um outsider, mas sim um insider da velha guarda anti-chavista: um político mais próximo do pragmatismo de Rosales do que do dogmatismo fanático de María Corina Machado.

Leitura das condições objetivas mais cálculo de conveniência: um princípio inflexível das velhas raposas da política nacional. No dia 30 de julho, com a desativação das principais linhas do golpe de Estado, o panorama mudou.

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A aposta suicida de María Corina Machado o expôs a uma situação de vulnerabilidade, inaceitável para alguém que fez do perfil discreto, da diplomacia e das operações nos bastidores uma obra de vida. Diante da mudança no cenário, uma mudança de atitude. O “dobrar-se para não se partir” de Ramos Allup voltando ao centro da cena.

Em sua carta enviada ao Procurador-Geral em 4 de setembro, já se podia perceber uma modificação de comportamento. Esta tribuna não falhou ao caracterizá-la como uma “virada política”. Nela, Edmundo González reconheceu as instituições venezuelanas e se desvinculou da publicação das supostas “atas”, em um claro sinal de divergência com María Corina Machado.

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Enquanto isso, seu advogado, José Vicente Haro, assumia a defesa pública do ex-candidato e afirmava, diante das dúvidas da imprensa, que ele não estava hospedado em nenhuma sede diplomática e que não tinha intenção de deixar o país. “Edmundo González vai se manter em território venezuelano”, disse Haro há poucos dias, em uma tentativa de acalmar a ansiedade no mundo opositor.

Finalmente, foi comprovado que González estava jogando o teatro das sombras. Ao mesmo tempo em que, através de Haro, enviava uma mensagem de segurança e calma para o universo opositor, negociava em silêncio seu asilo na Espanha, à vista de todos, sem consultar ou estabelecer uma negociação com a PUD e Maria Corina Machado.

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Machado foi a primeira vítima do “madrugonazo” de Edmundo. A vice-presidente Delcy Rodríguez foi quem deu a informação inicial que permitiu ao país saber da fuga de González. Horas antes, Machado estava concentrada 100% na presença policial ao redor da embaixada argentina em Caracas, onde se resguardam membros de sua equipe mais próxima. Isso indica que o movimento de González não era de seu conhecimento, nem estava entre suas prioridades de comunicação.

Através de sua conta no X, Machado tentou corrigir a situação com uma longa mensagem na qual sugere que o autoexílio de Edmundo não implica nem um fracasso, nem uma derrota política. No entanto, seu relato não conseguiu convencer completamente nem superar a desilusão, pois é um fato incontestável que González tomou sua decisão em segredo, sem dar explicações a Machado nem aos seus eleitores, em um sinal de enorme fraqueza frente ao governo de Nicolás Maduro.

Manipulação da história e o espelho Guaidó

Em termos políticos, a fuga silenciosa do país de um “líder político” que teoricamente esmagou o chavismo com uma votação histórica de 70%, e que estava em processo de conduzir uma suposta “transição” para assumir o poder em breve, só pode ser entendida como uma derrota política, com um enorme custo moral e emocional para aqueles que confiaram que a queda definitiva de Nicolás Maduro estava assegurada.

Atualmente, como forma de compensação, foi criada uma narrativa baseada na manipulação de antecedentes históricos: comparar o autoexílio de Edmundo González com a atividade política de Rómulo Betancourt no exterior voltada para a queda de Marcos Pérez Jiménez. Dessa forma, trafica-se com a ilusão de um retorno triunfante, após uma estadia em Madrid projetada como “necessária” e “decisiva” para a agenda de mudança de regime na Venezuela.

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Dificilmente esse relato pode ter substância política, uma vez que a história confirmou que existe uma correlação direta, no caso de figuras públicas opositoras, entre fugir da Venezuela e perder capital político e influência. O caso Guaidó confirma isso. No inconsciente coletivo da oposição radical, ainda está muito viva a mistura de raiva e frustração por um Guaidó que, na época, também prometeu continuar “a luta” do exterior.

De qualquer forma, a fuga de González confirma o fechamento de um capítulo político, no qual a iminência da “transição” na Venezuela se dissolve. A principal derrotada é Maria Corina Machado, que tem tentado vender cada passo em falso como parte de uma “estratégia robusta”, que continua sem ter efeitos práticos na realidade.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Redação Misión Verdad

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