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ToggleRonald Johnson, ex-militar das forças especiais e veterano da Agência Central de Inteligência (CIA), nomeado pelo presidente Donald Trump como novo embaixador dos EUA no México, declarou a senadores que pretende trabalhar em cooperação com o governo mexicano em temas como migração, segurança e outras questões bilaterais. No entanto, se recusou a descartar a possibilidade do uso unilateral da força militar contra cartéis de narcotráfico em território mexicano.
“Penso que qualquer decisão de tomar ação contra um cartel no México, nosso primeiro desejo seria que isso ocorra em colaboração com nossos sócios mexicanos”, afirmou Johnson ao comparecer diante do Comitê de Relações Exteriores do Senado como parte de seu processo de ratificação.
“Dito isso, sei que o presidente Trump leva muito a sério sua responsabilidade de proteger a vida de cidadãos estadunidenses e, se houver um caso em que essas vidas estejam em risco, creio que todas as opções estão sobre a mesa.” Acrescentou ainda: “Não posso prever o que o comandante em chefe decidirá com base nas informações disponíveis”.
A audiência desta sexta-feira, geralmente cordial e necessária para que o comitê e, posteriormente, o plenário do Senado ratifiquem Johnson como embaixador no México, se concentrou, em grande parte, em elogios à sua carreira. Ele foi destacado tanto por sua atuação como oficial militar na América Latina quanto pelo trabalho na CIA, onde esteve ligado ao Comando Sul (Southcom) das Forças Armadas dos EUA. Também houve diversas referências ao período em que foi embaixador dos EUA em El Salvador durante o primeiro governo de Trump.
Não havia dúvida de que a maioria dos senadores votaria pela confirmação de Johnson no cargo, embora o processo ainda possa levar alguns meses.
Migração, narcotráfico e segurança
Os legisladores focaram suas perguntas em temas como migração, narcotráfico, comércio, segurança e corrupção no México. “Vejo de forma muito positiva as comunicações entre o presidente Trump e a presidenta [Claudia] Sheinbaum”, afirmou Johnson ao comitê. Ele destacou a recente extradição de 29 narcotraficantes para os EUA e afirmou que novas prisões foram realizadas no México como resultado dos interrogatórios feitos nos EUA com os extraditados.
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Johnson reiterou que Sheinbaum está no cargo há poucos meses, mas, nesse período, “observamos um fortalecimento das ações de segurança contra os cartéis pelas autoridades mexicanas”. Acrescentou que “há rumores de que alguns integrantes dos cartéis agora estão relutantes em deixar seus esconderijos”.
México como “lugar perigoso”
Vários senadores caracterizaram o México como um país perigoso, com altos índices de violência atribuídos ao narcotráfico e um governo que, segundo eles, ainda não fez o suficiente para conter a migração, o tráfico de drogas e a criminalidade. Diante dessas observações, Johnson enfatizou os avanços registrados desde que Sheinbaum assumiu a presidência e defendeu o diálogo e a cooperação como eixos fundamentais da relação bilateral.
Ao ser questionado sobre a disputa entre o governo mexicano e a empresa Vulcan Materials Company, Johnson afirmou: “A confiscação de propriedades de investimento estrangeiro no México envia um sinal negativo ao mundo, o que pode afastar potenciais investidores”. No entanto, evitou entrar em detalhes sobre o caso.
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Sobre as negociações a respeito do manejo das águas dos rios Colorado, Tijuana e Rio Grande (Rio Bravo no México), afirmou que continuará acompanhando o tema, mas ressaltou que Sheinbaum herdou o problema. Acrescentou ainda que não acredita que o México conseguirá cumprir suas obrigações dentro dos últimos meses do acordo. “Se garantirmos que a água seja entregue no prazo e conforme o acordo estabelecido, veremos uma melhoria”, pontuou.
Relações comerciais e geopolítica
Johnson também mencionou sua expectativa em relação às negociações do T-MEC e se comprometeu a garantir um tratamento justo para empresas e trabalhadores. “Fico animado ao saber que a presidenta Sheinbaum declarou que a relação com os Estados Unidos é prioridade em relação à China”, ressaltou.
Ele também mencionou a possibilidade de o México atrair novos investimentos na indústria de microprocessadores. “A maioria desses componentes são projetados nos EUA, mas testados, embalados e montados na Ásia. Há uma oportunidade para relocalizar essa cadeia produtiva em partes do México”, disse.
Preocupações com o histórico de Johnson
A experiência de Johnson como assessor militar durante a guerra civil em El Salvador, onde muitos anos depois gozou de uma boa relação com o presidente salvadorenho, Nayib Bukele, bem como seu trabalho na CIA, gerou preocupações no México. O professor Craig Deare, da Universidade Nacional de Defesa em Washington, que atuou como adido militar dos EUA no México nos anos 1990, afirmou que essa nomeação pode ser positiva na conjuntura atual da relação bilateral.
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“Estou cautelosamente otimista. Sua vantagem competitiva é seu histórico militar e de inteligência, e não sua experiência comercial. Mas, se alguém no governo dos EUA começar a falar em ação militar no México, ele pode ser um dos primeiros a dizer: ‘Não, não façam isso. Meu adido militar está trabalhando nisso e eu, como embaixador, também'”, declarou Deare ao La Jornada.
O coronel reformado do Exército dos EUA e autor de um livro sobre as relações militares entre EUA e México alertou que “para meu livro, conversei com vários ex-embaixadores no México e todos tiveram interações limitadas com as Forças Armadas mexicanas. Se Johnson não conseguir estabelecer um bom contato assim que assumir a embaixada, isso pode ser um problema”