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ToggleSe pudéssemos descrever em duas palavras os traços distintivos dos que fazem gala à senhora Dina Boluarte, que exerce a Presidência da República do Peru, poderíamos dizer, sem nos equivocar, que o faz sem rubor e sem vergonha. Pareceria, em efeito, que não tem sangue na cara quando assegura que é “a mãe do Peru”, que vivemos gozando de uma excelente experiência democrática, que o país marcha sobre trilhos e que ela trabalha 24 horas do dia e 7 dias por semana, sem dormir e sem comer, para “atender as demandas dos peruanos”. Nem sequer diz que seu irmão está preso, e seu advogado também. Só falta ela.
Qualquer um poderia crer – se não vivesse aqui – que o país está em perfeita calma. Em outras palavras – e como diz a canção – que a corvina se frita sozinha, e o ceviche vem prontinha com seu limão. Nada mais longe da verdade.
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A recente renúncia do há pouco tempo titular do Interior, acaba de confirmá-lo. O senhor Walter Ortiz, depois de um mês e meio de “gestão”, foi embora como veio, cabisbaixo e em silêncio, sem atinar a dar uma explicação elementar que justifique seu afastamento. Em seu Despacho não soube o que fazer para beneficiar um governo que nem sequer sabe como se defender.
O que sabemos nós peruanos
Os peruanos sabemos, pelo menos, algumas coisas: que no que vai da gestão Boluarte, o número de pobres aumentou em 600 mil, somando já 10 milhões no país; de cada dez compatriotas, quatro não têm o que comer em todos os dias semana.
Sabemos também que a desnutrição infantil aumentou vertiginosamente, e que a delinquência cresceu por toda parte. E sabemos, além disso, que as estradas estão abandonadas e que os acidentes veiculares se repetem com uma frequência arrepiante.
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E sabemos também, que a senhora deste ofício é um joalheiro andante. Usa relógios avaliados em 16 mil dólares; pulseiras que custam 22 mil; brincos de 5 mil e anéis do mesmo preço. E nos diz que os usa “para que o Peru esteja melhor representado”. Por essa mesma razão fez um “cirurgia estética” escondida e clandestina, e que não foi negada. Arruma o nariz, mas não a cheira, para nada.
Favoritos e defensores
Como as rainhas de ontem na velha Europa, a senhora também tem dois “favoritos”. E o governador de Ayacucho – Wilfredo Oscorima – assoma como o principal. É ele quem lhe proporciona as joias. E a ele lhe agradece gozosa com suculentas e diversas partidas. Recentemente lhe girou 182 milhões de soles em um só envio. Essa soma equivale ao total de orçamento anual de Madre de Dios, onde 67% das crianças em idade escolar sofrem de desnutrição crônica e onde milhares de meninas de 12 anos são forçadas a “prestar serviços” em bordéis e casas de encontro; onde campeia o contrabando e a mineração informal, e onde – ademais – assomam os corretores da coca com singular frequência.
Se não soubéssemos que é por outra coisa, poderíamos pensar que a senhora Boluarte sai rodeada de mais de 300 policiais que fecham ruas e avenidas para que não a assaltem em cada esquina. Mas sai assim para que as pessoas que estiverem na rua não lhe expressem o repúdio que concita seu governo. Ela, tão valente para gritar atrás de um microfone, empalidece quando percebe o rechaço cidadão.
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Os ministros – os únicos que a defendem – dizem cada dia que conta com respaldo, mas sabem que tem apenas 5% de aceitação da cidadania; enquanto que os congressistas – com 7% – já não são os piores, porque dão um jeito de justificar sua cumplicidade dizendo que “não há outra saída”. Há outra saída, mas não haverão de admitir porque implicaria, para eles, ir embora também.
Luta em várias frentes
Agora a luta está colocada em várias frentes. A Máfia Neonazista liderada pelo fujimorismo vive empenhada em apoderar-se de tudo. Com o conto de enfrentar os “Caviares”, busca arrasar com a Junta Nacional de Justiça, apoderar-se do Jurado Nacional de Eleições e a ONPE, quebrar o Poder Judicial, derrotar o Ministério Público, dissolver os órgãos de fiscalização, paralisar os processos abertos contra Keiko Fujimori, Dina Boluarte e outros. Definitivamente, varrer com o país em todos seus extremos.
Como se fosse pouco, busca repor Patrícia Benavides, blindar os congressistas que têm contas pendentes com o justiça – são 87, de 130 – e manejar à vontade o cenário nacional para assegurar sua “vitória” em qualquer consulta cidadã. Eles não estão dispostos a renunciar a nada. De imediato, asseguraram seu “direito” à reeleição, sua possibilidade de acesso ao Senado. E aumentaram novamente seus ingressos argumentando, com inaudita cara-de-pau, que o fazem “pela alta dos preços”.
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Sim, postular por um partido de esquerda e depois governar com a direita. Sim, lançar um programa avançado e depois aplicar outro reacionário. Configuram uma traição, a senhora deveria saber que na “Divina Comedia”, Dante Alighieri situa no último círculo do inferno os traidores e os condena. Ali estará ela, submergida no gelo e de cabeça, calada e escondida sem reconhecer suas culpas. Não terá escapatória. Seguirá repetindo que seu governo não é débil e obrigando seu ministro da Economia a pedir perdão ao Congresso pela “tranquilidade pública”.
A mesquinhez e o servilismo são seus signos.