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ToggleÉ importante começar afirmando que, em geral, a mudança de um presidente republicano por outro democrata não significa mudança alguma nas políticas imperiais dos EUA em todo o mundo e, na América Latina em particular, salvo algumas exceções, ou em alguns temas específicos. Biden, além disso, nem é da ala mais progressista do Partido Democrata, razão pela qual não há motivo para ilusões.
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Mais especificamente digamos que, no âmbito mundial, Biden significará, provavelmente, um reforço das políticas neoliberais e de globalização, o que poderia implicar numa linha mais intervencionista e limitante da soberania das nações de todo o mundo, embora também seja possível prever que exista uma maior preocupação com a questão ambiental e climática.
Quanto à América Latina, Biden poderá optar por vias mais políticas que militares, em casos críticos como Cuba, Venezuela e Nicarágua, embora seja preciso dizer que presidentes democratas, até mais “progressistas” que Biden, no passado também intervieram militarmente na região.
Se analisarmos o governo de Obama, os EUA propiciaram os golpes de Estado “brandos” em Honduras, Paraguai e Brasil, além de uma linha de desintegração da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) e da União das Nações Sul-Americanas (UNASUL), além de exercer um papel protagonista em uma OEA dependente de Washington, a que depois, sem dúvida, Trump deu sequência.
Diálogos do Sul
Uma questão positiva que se pode esperar na América Latina é que Biden retire o apoio a governos e movimentos neofascistas, de ultradireita.
Brasil
Uma questão positiva que se pode esperar na América Latina — e no mundo — é que Biden retire o apoio a governos e movimentos neofascistas, de ultradireita radical, como o de Bolsonaro.
Se este passo se concretizar, ainda que Bolsonaro não caia, pode propiciar certo ar democrático na região, embora não precisamente progressista, mas com mais tolerância, principalmente aos governos progressistas moderados da região.
Em relação ao Paraguai, é preciso começar dizendo que não são os EUA, diretamente, os que mais influem na política do país, embora não se deva menosprezar sua influência. Quem mais influi é o Brasil, há mais de meio século; a maior influência anterior, da Argentina, hoje definitivamente já não existe.
É preciso esclarecer que não é que os EUA não influam na política interna do Paraguai, mas sim que o fazem preferentemente por meio do Brasil. Como disse uma vez Henry Kissinger, “para onde se incline o Brasil inclinar-se-á a América Latina”; este princípio indiscutível se aplica com muito mais rigor no caso do Paraguai.
Em tal contexto, uma previsível redução do apoio do governo dos EUA a Jair Bolsonaro poderia ter um efeito benéfico para o Paraguai, ainda que a médio prazo. Com Biden como presidente, é menos provável que Bolsonaro possa ser reeleito no final de 2022, ou que possa ser eleita uma pessoa de características similares, e, se isso se concretizar, significará um alívio, embora só em dois anos, para as forças democráticas do Paraguai.
* Ricardo Canese é parlamentar do Mercosul pela Frente Guasu, Paraguai
Tradução de Ana Corbisier
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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