Sem a atenção da imprensa que mereceria, o governo de Honduras vem cumprindo uma agenda política que situa a nação centro-americana como centro de referência continental diante dos desafios do mundo global.
Com a chegada à presidência de Xiomara Castro em 2021, depois de quinze anos de resistência à “narcoditadura”, fruto do cruento golpe de Estado contra o então presidente Manuel “Mel” Zelaya em 2009, Honduras prepara, pensa e projeta uma proposta genuína em um mundo onde reina a complexidade e a contradição.
Desde o primeiro minuto de sua gestão, Xiomara Castro dedicou todos os seus esforços a refundar uma nação afetada profundamente pela pobreza, saqueada em seus recursos e mergulhada na dependência política e econômica aos Estados Unidos.
No último período de seu mandato, a primeira presidenta da história de Honduras não só lançou uma guerra sem tréguas contra a corrupção da anterior administração, como realizou uma série de reformas sociais, priorizando os investimentos e melhorias nos sistemas de saúde e educação pública. Em um mesmo sentido, teceu uma política exterior independente e com forte vocação latino-americana.
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A presidenta hondurenha questiona os efeitos negativos do neoliberalismo e em contraposição levanta as bandeiras da soberania e da independência econômica na construção de um modelo que chama de “socialismo democrático”.
Cabe destacar que Xiomara Castro é a presidenta pro-tempore da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac) e do Sistema de Integração Centro-americana (SICA).
No fim de junho, Tegucigalpa foi o cenário predileto da esquerda, do progressismo e dos movimentos populares de nosso continente, onde ocorreram os encontros da 2ª Cúpula Social da Celac, do Foro de São Paulo, da Internacional Progressista e do Grupo de Puebla, além da rememoração com forte repúdio do 15º aniversário do golpe de Estado contra Mel Zelaya.
A poucos dias desta “maratona” de atividades, Honduras enviou um grande grupo de observadores internacionais (composto por legisladores, jornalistas, funcionários, comunicadores e referências sociais, entre outros) para as eleições que se realizaram na Venezuela em 28 de julho último.
Xiomara Castro, Honduras e a relação com a China
Em 13 de agosto, a vice-chanceler da China, Hua Chunying, visitou Tegucigalpa, onde se reuniu com as máximas autoridades da Chancelaria hondurenha, tendo realizado uma reunião bilateral com a chefe de Estado. Segundo foi divulgado sobre a visita à capital hondurenha, a representante do denominado “gigante asiático” não só chegou para consolidar os laços de amizade entre ambas as nações e abordar a agenda Celac-China, como para ultimar os detalhes de um Tratado de Livre Comércio (TLC) que busca beneficiar os produtores hondurenhos de todos os níveis.
Um avanço significativo nesta área é a implementação do acordo da colheita precoce, que permite a exportação de produtos como o camarão hondurenho para a China sem pagamento de taxas, como é o caso das seis mil toneladas deste produto do mar que ingressou no mercado do país asiático.
Outros dos pontos alcançados foram um financiamento para o desenvolvimento em diversas instituições educativas hondurenhas, por meio da realização de trabalhos de apoio em 375 escolas em todo o país, e a inclusão desta nação centro-americana como um destino turístico prioritário para grupos de turistas chineses.
Em 21 de agosto, a ex-presidente do Chile em duas oportunidades (2006-2010 e 2014-2018), Michelle Bachellet foi recebida pelo vice-chanceler hondurenho, Gerardo Torres e pela secretária de Assuntos da Mulher, Doris García Paredes.
Bachelet se reuniu com a mandatária centro-americana e manteve uma série de encontros para estimular a participação política das mulheres e lutar contra a violência de gênero. Também realizou uma atividade com prefeitas, auspiciada pela Associação de Municípios de Honduras (AMHon).
Junto com todas estas atividades, o mesmo vice-chanceler Torres anunciou, por meio de suas redes sociais, que Tegucigalpa será sede da primeira Cúpula das Juventudes da Celac, em 10, 11 e 12 de setembro próximos.
O mesmo alto funcionário da Chancelaria hondurenha também anunciou que seu país manterá a agenda Birregional da Celac durante a 79° Assembleia Geral das Nações Unidas, que se realizará de 24 a 26 de setembro em Nova York.
“Vamos ter uma reunião da Celac com a União Europeia, na sequência do que foi a Cúpula Presidencial do ano passado em Bruxelas; também teremos pela primeira vez uma reunião da Celac com a União Africana; será um momento histórico muito importante para ambas as regiões”, informou Torres em um vídeo divulgado no TikTok, Twitter e Facebook.
No encerramento de sua vídeo-alocução, o vice-chanceler informou: “Temos reuniões com países que são aliados estratégicos: da Celac com a China, Turquia e Índia, e teremos outra reunião com a organização de países do Golfo Pérsico”.
Honduras se torna assim um ator destacado para os interesses do Sul Global e das nações que exigem uma mudança de paradigma neste convulso orbe.
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