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Foto: Pasqual Gorriz / ONU

Recrutadas sob coação e para sobreviver, crianças são 1/3 dos grupos armados no Haiti

Grupos armados do Haiti utilizam crianças como cozinheiras, limpadoras, “esposas” e até mesmo vigias em operações
Redação IPS
IPS
Nova York

Tradução:

Ana Corbisier

A vida cotidiana abre passagem no Haiti ainda em meio ao clima de violência em que campeiam as gangues criminosas. A Unicef mostra com preocupação que são crianças, recrutadas às vezes sob coação contra suas famílias, muitos dos integrantes desses grupos armados.

Crianças submetidas a coação, abusos e exploração integram entre 30% e 50% dos grupos armados que campeiam no panorama de violência que vive o Haiti, segundo uma análise do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) divulgada em 31 de maio.

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Catherine Russell, diretora-executiva da Unicef, disse que “as crianças do Haiti estão presas em um círculo vicioso de sofrimento. Veem-se levadas a unirem-se aos grupos armados por puro desespero, que inclui uma violência espantosa, a pobreza e o colapso dos sistemas que deveriam protegê-las”.

A agência da ONU calcula que 90% da população do Haiti vive na pobreza e três milhões de crianças continuam precisando de ajuda humanitária urgente, em meio a uma persistente fragilidade social, econômica e política causada pela violência que mergulhou no caos várias zonas do país.

Violência se intensificou em 2024

A crise nesse país caribenho de 27.755 km² e 11,5 milhões de habitantes – aproximadamente mais de um milhão em Porto Príncipe, a capital – agravou-se depois do assassinato em julho de 2021 do presidente Jovenel Moïse.

Neste ano de 2024, a violência se intensificou, com mais de 2.500 pessoas mortas, feridas ou sequestradas. A ONU verificou mais de 400 violações graves contra crianças.

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As gangues – algumas agrupadas em coalizões – controlaram a maior parte da capital, acessos a estradas, áreas de províncias; assaltaram cárceres para libertar milhares de presos, e durante meses bloquearam o principal porto, assim como o aeroporto do país.

Ao mesmo tempo, as famílias continuam sendo deslocadas internamente devido à violência, e mais de 180 mil crianças se encontram agora deslocadas internamente, segundo a Unicef, intensificando a crise humanitária em que o país está mergulhado.

Situação demanda ação urgente

Agências da ONU calculam que 4,4 milhões de pessoas precisam de ajuda humanitária urgente e até 1,6 milhões enfrentam níveis de insegurança alimentar aguda. As últimas estimativas mostram que mais de meio milhão de crianças no Haiti vivem em bairros controlados por grupos armados, o que as expõe a um maior risco de violência e recrutamento infantil.

Com frequência, as crianças se veem obrigadas a unirem-se aos grupos armados como meio para manter suas famílias ou devido a ameaças contra elas mesmas ou seus familiares, segundo a Unicef. Além disso, muitas crianças se unem aos grupos depois de terem sido separadas de seus familiares, como meio de sobrevivência e proteção.

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Russell explicou que os grupos armados utilizam as crianças para diferentes tarefas, como cozinheiras, limpadoras, “esposas”, ou vigias em suas operações. “Mas o que estas crianças têm em comum é a perda da inocência e da conexão com suas comunidades. O impacto em cada criança afetada é uma tragédia que exige uma ação urgente”, acrescentou Russell.

A responsável pela Unicef enfatizou que se deve dar prioridade a sua proteção e bem-estar, o que inclui dar fim de forma segura à conexão com os grupos armados, garantir sua reintegração à sociedade e facilitar o acesso seguro a serviços e ajudas essenciais.

Grave violação aos direitos das crianças

O recrutamento e a utilização de crianças por parte de grupos armados constituem uma grave violação de seus direitos, e o alistamento de menores de qualquer idade em grupos armados é uma clara violação do direito internacional.

No Haiti, uma presidência colegiada designou nesta semana Garry Conille, que foi durante vários anos diretor regional da Unicef, como novo primeiro-ministro, um cargo que já exerceu durante alguns meses, de 2011 e 2012.

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O novo governo tem entre suas tarefas preparar o terreno para que se instale no país uma força internacional que contribua para desmontar o poder das gangues.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Redação IPS

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