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ToggleEste é o terceiro capítulo das análises e reflexões sobre as eleições presidenciais de 2018 e está focado em revelar quem são as principais figuras no círculo de poder do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL). O núcleo duro do governo, como verão, é o mesmo que comandou a campanha e inclui os familiares do capitão reformado.
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Os economistas da Escola de Chicago, ou Chicago’s Boys, dominam a área econômica. Querem privatizar tudo, até o próprio Estado. Quem vai controlá-los? Já os militares ocupam postos chaves, alguns com patente de general, que mesmo de hierarquia superior, deverão servir e bater continência a Bolsonaro. “Muito bizarro”, diria meu avô.
Agência Brasil
É preocupante o certo deslumbramento com relação aos Estados Unidos, evidenciado pelo próprio presidente eleito, seus filhos e auxiliares diretos que ocuparão postos estratégicos no governo, entre eles, o mais importante, o futuro ministro de relações exteriores, o “brilhante intelectual” Ernesto Araújo, sênior na diplomacia, indicado pelo filósofo e guru da direita Olavo de Carvalho.
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Do lado estadunidense, a satisfação manifestada pelo presidente Donald Trump, que antes mesmo da posse mandou seu conselheiro, John Robert Bolton visitar o presidente, além das manifestações de Steve Bannon, que já dá como favas contadas a presença do Brasil de Bolsonaro em seu Moviment, uma espécie de liga mundial neofascista.
Corroborando com tudo isso, no início de dezembro, Eduardo Bolsonaro, filho mais velho, ninguém sabe com que autoridade, reuniu-se com empresários latinos residentes nos Estados Unidos no resort de propriedade de Trump, onde o milionário presidente gosta realizar suas reuniões com visitantes.
Os ministérios
Temer deixa o governo com 29 ministérios, seu sucessor vai governar com 22, sendo alguns super-ministérios, como a Fazenda e a Justiça.
Onyx Lorenzoni, na Casa Civil, terá que dividir tarefas com o general Cruz, que se encarregará das relações com o Congresso. Para a Secretaria Executiva da Casa Civil, assumirá Abraham Weintraub, autor da proposta de reforma da Previdência do governo Bolsonaro.
O pastor e advogado, André Luís assumirá a Advocacia Geral da União (AGU), que perde a hierarquia de ministério, juntamente com o Banco Central.
O super-ministério da Justiça acumula a Segurança Pública, a Transparência, a Controladoria Geral da União e o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). E a pasta será ocupada pelo ex-juiz de segunda instância de Curitiba, condutor da Lava Jato Sergio Moro. Aquele que manteve o ex-presidente Lula preso para que o adversário pudesse ganhar. O que esperar disso?
Moro deixou a magistratura em 17 de novembro, depois de já nomeado superministro e de estar na equipe da transição. Justificou que saía “para evitar surpresas”, como se isso o isentasse da vergonha de ter atuado como político para impor sua vontade.
O super-ministério da Economia incorpora as pastas da Fazenda, Planejamento e da Indústria e Comércio Exterior. Paulo Guedes, ungido para a gestão, esclarece o porquê dessa concentração:
“é justamente para existir uma mesma orientação em tudo isso. Não adianta a turma da receita ir baixando os impostos devagar se a turma da indústria e comércio abrir muito rápido. Isso tudo tem que ser sincronizado. Uma orientação única”.
Desaparecem sete ministérios: Trabalho, repartido em três outras pastas: Justiça, para licença sindical; Economia, para emprego, e Cidadania, para as demais atribuições. Extintos também foram os seguinte ministérios: Cidade; Comunicação; Cultura; Esporte; Transporte, Planejamento e Reforma Agrária.
A Secretaria de Comunicação Social (Secom), poderosa e cobiçada, pois maneja os milhões destinados à publicidade do governo, almejada por Carlos Bolsonaro, chegou a ser destinada para um general especializado, mas voltou ao comando da Casa Civil e será desdobrada: haverá uma Assessoria Especial de Comunicação da Presidência para cuidar exclusivamente das redes sociais. e haverá um porta-voz da Presidência, “com certeza”, segundo o próprio eleito.
Um jogo com cartas marcadas
Jair Messias Bolsonaro nasceu em Eldorado, antiga aldeia indígena de Xiririca, no Vale do rio Ribeira de Iguape. A região montanhosa e de selva servia de pouso na rota dos buscadores de ouro. Agora, é rota turística para visita às cavernas do Petar. Na infância e adolescência do Bolsonaro, a região foi cenário da guerrilha da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), comandada pelo capitão do Exército Carlos Lamarca.
Ele diz que foi deste fato que nasceu sua admiração pelo Exército e pelas armas. Mas ele não foi um bom oficial nas Forças Armadas. Liderou algumas tentativas de atentados para conseguir aumento e, sem futuro na força, deixou a corporação e se lançou na política.
Em 12 de maio de 2016, enquanto no Senado se votava o impedimento da presidenta Dilma Rousseff (2110-2016), o então deputado federal pelo PSC do Rio de Janeiro foi levado pelo bispo Everaldo, presidente de seu partido, para ser batizado nas águas do rio Jordão, em Israel. Embora já não sejam as mesmas águas e sequer o mesmo rio que hoje corre em terras usurpadas por sionistas europeus, a simbologia é forte: ser batizado “nas mesmas águas” em que João Batista batizou o Cristo.
Desde 2017, ele afirmava pra todo mundo ouvir que as urnas eletrônicas favorecem a fraude e que o Lula tinha como plano fraudar a vitória. Era como respondia à palavra de ordem do PT: Eleição sem Lula é fraude.
Jair Bolsonaro, eleito presidente, está há 27 anos na política e disse no programa Silvio Santos, do SBT, que chegou pra ficar 16 anos no poder.
A Família
Michelle de Paula Firmo Reinaldo Bolsonaro – a esposa. Será a primeira-dama; é técnica em Libras, a língua brasileira de sinais, e faz parte do Ministério de Surdos e Mudos da Igreja Batista Atitude. Antes, frequentava a igreja neopentecostal Assembleia de Deus Vitória em Cristo, ambas na Barra da Tijuca, no Rio, do pastor Silas Lima Malafaia, que foi quem fez a cerimônia de casamento do casal.
Tal pai, tal filho
Os três filhos do primeiro casamento participaram da coordenação da campanha e estão o tempo todo ao lado do pai, como se assessores fossem.
Carlos, 36 anos, vereador no Rio de Janeiro, eleito para o quinto mandato, cuidou da comunicação da campanha nas redes sociais. É o mais próximo ao pai e estava na equipe de transição, mas saiu por não concordar com os métodos de comunicação do restante da equipe. Votou para a Câmara Municipal carioca, mas, seguramente, continuará tendo influência, pois os métodos adotados na campanha serão mantidos.
Flávio, 37 anos, deputado estadual por quatro mandatos, foi eleito senador pelo Rio de Janeiro, batendo todos os recordes de voto. Foi ele que divulgou pelas redes, a partir do Instagram, um vídeo mostrando uma urna eletrônica que supostamente fraudava voto em favor do ex-candidato Fernando Haddad (PT). A justiça eleitoral confirmou que foi montagem para confundir o público. O pior é que confundiu.
Eduardo, 34 anos, escrivão da Polícia Federal, foi reeleito deputado federal por São Paulo com a maior votação da história: 1,8 milhão de votos. Junto com Joice Hasselmann, eleita pelo mesmo partido com mais de 1 milhão de votos, arrastou outros 14 deputados, formando a maior bancada na Assembleia Legislativa de São Paulo. Os Jornalistas estão um tanto confusos com relação a seu papel, pois ora atua como se fosse o próprio presidente, outras como se fosse chanceler ou porta-voz do pai.
Disse, por exemplo, que bastariam um cabo e um soldado para acabar com o STF e não aconteceu nada. Anunciou que queria ser presidente da Mesa da Câmara, recebeu um cala-boca do pai, que sabe que isso terá que ser negociado para garantir a maioria parlamentar. Para conduzir os carneirinhos do baixo clero, tem que ser pastor muito hábil.
Em agosto, viajou para os Estados Unidos para se encontrar-se com Steve Bannon, estrategista que foi assessor de segurança na Casa Branca e comanda o Moviment, um movimento mundial de líderes da direita, para aprender a fazer o Foro de São Paulo da direita latino-americana.
O Moviment abriga nomes como Matteo Salvini, ministro do Interior da Itália; Viktor Orbán, premiê da Hungria, a francesa Marine Le Pen, o holandês Geert Wilders, além de políticos da Alemanha, Bélgica e, provavelmente, o Brasil de Bolsonaro.
O homem de Trump
Em novembro, Eduardo Bolsonaro anunciou que iria de novo aos Estados Unidos para ver o presidente Donald Trump. Foi, mas no lugar de Trump, reuniu-se com Jared Kushner, genro do presidente e conselheiro na Casa Branca. Respondendo à pergunta sobre a possível mudança da embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, afirmou que “a pergunta não é se, é quando”.
John Bolton, conselheiro de Trump, veio ao Brasil para visitar Bolsonaro e, de volta a Washington, não escondeu seu entusiasmo: “uma oportunidade histórica para o Brasil e Estados Unidos trabalharem juntos em áreas como economia e segurança”.
Nós, brasileiros, sabemos bem o que é esse “trabalhar juntos” com os Estados Unidos. São décadas seguidas de submissão aos interesses do Império.
Flávio e Carlos continuam livremente dizendo besteiras sem que ninguém se importe. As últimas, descaradamente, pedem aos alunos que denunciem professores e colegas que, em sala de aula, falem de política ou de sexo, em acordo com o que propõe o projeto, já derrotado na Câmara dos Deputados, Escola Sem Partido.
O núcleo duro
O núcleo duro é aquele que conduz o Executivo, que toma as decisões e despacha as ordens. Pelo que já está na imprensa, é formado pelo presidente Bolsonaro, o vice-presidente, o general Antônio Hamilton Mourão
Deputado Onyx Dornelles Lorenzoni — Ministro chefe da Casa Civil. Este parecia ser o homem forte do governo, pois tem o apoio de 180 parlamentares da bancada evangélica. Porém, já teve o poder dividido com militares. Veterinário de formação, proprietário do Hospital Veterinário Lorenzoni. Escalado para a Casa Civil, no dia 5 de novembro foi nomeado ministro extraordinário por Temer para coordenar a equipe de transição, ganhando Salário de R$ 16.215,22.
Membro da bancada da bala, foi duas vezes deputado estadual no Rio Grande do Sul (1995 a 2003) e foi reeleito para o quinto mandato como deputado federal, financiado pelas empresas de armas Taurus e CBC. Acusado de Caixa Dois, admitiu ter recebido R$ 100 mil da empresa JBS para pagar dívidas.
Há 16 anos na Câmara Federal, não aprovou nenhum projeto de sua autoria; apenas apôs sua assinatura, junto com 63 colegas, no projeto que criou o Vale Cultura, de iniciativa de partidos que apoiavam o governo Lula e do ministro Juca Ferreira, então no Ministério da Cultura. E um segundo projeto, junto com sete outros deputados, que estabeleceu distribuir o Fundo Partidário proporcional ao tamanho da bancada.
Admitiu também ser um dos impulsionadores do Movimento Brasil Livre (MBL). Como deputado, foi a favor do impedimento da presidenta Dilma e aprovou todas as maldades propostas pelo governo Temer: PEC do Teto do Gasto Público e a reforma trabalhista.
Seguindo o exemplo do chefe, no dia 22 de novembro, Onyx casou-se em cerimônia conduzida pelo bispo Robson Rodovalho e a bispa Lúcia Rodovalho, da Igreja Sara Nossa Terra. A noiva, Denise Verbling, é personal training e trabalhava como assessora parlamentar no Senado. Casamento de gente grande, com a presença do presidente eleito e primeira-dama e um bocado de dirigentes de partidos, parlamentares da velha guarda e recém-eleitos.
Licenciado para assumir a função de ministro, abriu vaga para o suplente, Washington Coração Valente, do PDT, partido que declarou oposição a Bolsonaro.
Gustavo Bebiano — ministro da Secretaria-Geral da Presidência: advogado, lutador de jiu-jitsu, livre atirador em busca de poder, assumiu a presidência do PSL para estar na coordenação da campanha. Cumprida a tarefa, voltou à vice-presidência que já ocupava e devolveu o posto ao empresário Luciano Bivar. Bebiano diz com todas as letras que “é preciso olhar para quem dá certo, como os Estados Unidos, onde há menos direitos trabalhistas e maior oferta de emprego”.
O oportunista estava cotado para o ministério da Justiça. A Secom fica sob seu comando, mas com poder diminuído para só tratar de assuntos de governo. Aparece como um dos coordenadores na transição, mas seu poder está diminuindo, pois ficará restrito à divulgação dos atos de governo. Na transição, seu salário era de R$ 16.215,22.
*Paulo Cannabrava Filho é jornalista e editor da Diálogos do Sul