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Donald Trump (Foto: Gage Skidmore / Flickr)

Trump será capaz de cumprir suas ameaças? Se pagarem pra ver, será tarde demais

Equipe escolhida por Donald Trump está disposta a executar qualquer ordem, incluindo violar leis, revogar décadas de avanços em direitos e desrespeitar normas internacionais
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Beatriz Cannabrava

O anoitecer estadunidense marca o início de 2025, com todos os conscientes antecipando com enorme preocupação a chegada ao poder de uma direita que, há exatos quatro anos, tentou um golpe de Estado e que agora brinca com a ideia de ser uma ditadura. Promete perseguir todos os seus opositores: desde o presidente que está deixando o cargo, qualquer burocrata que não se submeta, todo jornalista que ouse criticar, todo ativista que vá às ruas protestar – e todo imigrante que não seja multimilionário, como o homem que chamam de “primeiro amigo” do presidente (e o homem mais rico do planeta).

A grande pergunta nos EUA, como no México e em outros países, é até que ponto o que foi ameaçado será implementado. Mas, se todos esperarem para ver, será tarde demais.

Nos últimos dias, surgiram vislumbres do que está por vir. Quando dois estadunidenses, ambos veteranos militares, cometeram separadamente o que inicialmente foi classificado como atos de terrorismo – um em Nova Orleans e outro em Las Vegas – no início do ano, a primeira declaração do presidente eleito foi acusar estrangeiros que entram no país pelas “fronteiras abertas”. (Vale lembrar que, recentemente, o governo de Biden superou tanto o de Trump quanto o recorde de Obama no número de deportações e expulsões de imigrantes). Além disso, enviou uma mensagem sombria: “Os Estados Unidos estão se desintegrando. Uma erosão violenta da segurança, da segurança nacional e da democracia está ocorrendo em nossa nação. Apenas a força e a liderança poderosa poderão detê-la”. É claro que esse “líder poderoso” é o próprio autor da mensagem.

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As biografias de quase todos os indicados para seu gabinete e outros cargos na Casa Branca surpreendem por seus antecedentes ultradireitistas, por seu racismo e misoginia, por seus problemas legais ou profissionais, por seu desprezo pela ciência e pelos fatos, ou por sua disposição em se subordinar ao líder supremo. É uma equipe capaz de cumprir quase qualquer ordem do próximo comandante em chefe, incluindo violações de normas e leis, a revogação de décadas de avanços em direitos e liberdades civis e o desrespeito às leis internacionais. Os Estados Unidos que eles desejam “tornar grandes novamente”, ou seja, para os quais querem voltar, são aqueles que, entre outras coisas, foram racistas e xenofóbicos contra indígenas, afro-estadunidenses, mexicano-estadunidenses e migrantes do sul global. Vale lembrar que os nazistas se inspiraram nas políticas e leis racistas estadunidenses prevalecentes no início do século 20 ao elaborarem suas propostas para “purificar” a Alemanha.

Nesta segunda-feira (6), não se esperava outra tentativa de golpe como a de exatos quatro anos atrás – talvez porque, desta vez, o incitador daquela tentativa afirme que, já que venceu, esta eleição foi livre e justa. De fato, a eleição foi certificada pelo Congresso em uma sessão presidida pela oponente derrotada, Kamala Harris, em sua função de vice-presidente, conforme determina a lei. Com isso, o processo eleitoral foi concluído, e o ex-mandatário recuperará sua coroa no dia 20 de janeiro. Ele terá a distinção de ser o primeiro presidente condenado por cometer um crime penal (o juiz responsável por seu julgamento, relacionado a pagamentos ilegalmente ocultados para silenciar uma estrela pornô sobre uma relação extraconjugal, anunciou que dará sua sentença em 10 de janeiro, em Nova York, mas não haverá pena de prisão). Enquanto isso, o presidente eleito reclamou que as bandeiras estarão hasteadas a meio mastro no dia de sua posse, como parte do tributo oficial tradicional pelo falecimento do ex-presidente Jimmy Carter.

O obsceno só é superado pelo absurdo nesta conjuntura política.

Dizem que, nesta época – segundo uma versão –, alguns reis magos, guiados por uma estrela, trouxeram as sabedorias antigas para uma nova luz recém-nascida. Nos Estados Unidos, neste anoitecer, espera-se ansiosamente, urgentemente, o nascimento de novas luzes e algo como a chegada de magos que possam reconhecê-las e, com a sabedoria coletiva e a história de resistência e rebeldia, oferecer um mapa para outro futuro.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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