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Guerra contra México ganha coro nos EUA e democratas tentam barrar plano trumpista

Se eleito em 2024, Trump já declarou que pretende invadir o país latino-americano sob pretexto de combater tráfico de drogas
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Legisladores democratas apresentaram nesta semana na Câmara Baixa uma resolução na qual – se for aprovada – explicitamente rechaça o uso de força militar estadunidense contra o México e reprova a legisladores e políticos republicanos que continuam apelando a uma intervenção militar na México como parte da guerra contra as drogas e, em particular, o fentanil. 

O deputado federal democrata Joaquin Castro, que redigiu a resolução, comentou ao La Jornada que “ao longo dos últimos meses, estadunidenses viram um incremento alarmante de comentários irresponsáveis que ameaçam normalizar a ideia de invadir o México”. Agregou que uma “guerra com o México causaria uma perda devastadora de vidas e seria desastrosa para milhões de mexicanos e para os estadunidenses que vivem no México, da mesma formas para aqueles nos Estados Unidos cujo sustento depende do comércio transfronteiriço legítimo”. 

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Sublinhou que “esta resolução envia uma mensagem forte de que os Estados Unidos respeitam a soberania do México e que o Congresso não apoia apelos perigosos a uma guerra na nossa fronteira Sul”. Castro repetiu em declarações no Congresso que a ação militar unilateral que é proposta pelos republicanos viola a Carta da Organização das Nações Unidas e a soberania do México. 

A resolução será apresentada em um conjuntura em que quase todos os pré-candidatos presidenciais republicanos – incluindo por ora o favorito, Donald Trump – advogam pelo uso da força militar estadunidense no México. Existe um projeto de lei pendente com 20 copatrocinadores republicanos que autorizaria o presidente a ordenar a intervenção militar contra os cartéis de droga no México. Durante meses, os apelos de republicanos ao uso de força militar – incluindo forças especiais e mísseis – como parte do suposto combate contra o fentanil, se multiplicaram e já fazem parte do discurso eleitoral, a um ano das eleições federais de novembro de 2024.

Leia também: Com forte apoio dos estadunidenses, EUA preparam sua próxima guerra. O alvo? México

Uma ampla reportagem do New York Times esta semana incluiu um texto resumindo que “o esforço republicano para usar força militar no México contra os cartéis de droga começou na Casa Branca de Trump. Ele tem planos para converter essa ideia em realidade em 2025”. 

É nesse contexto que o deputado Castro, junto com seus colegas Nydia Velazquez e Jesus “Chuy” Garcia, elaboraram sua resolução para obrigar o Congresso a explicitamente reconhecer a soberania do México. A resolução também afirma que a Câmara de Representantes “rechaça o uso de força militar por parte dos Estados Unidos contra entidades com sede no México, incluindo organizações criminosas transnacionais, se for conduzida sem o consentimento do governo mexicano e sem a autorização explícita para o uso de força militar aprovada pelo Congresso [dos Estados Unidos]”.

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Se eleito em 2024, Trump já declarou que pretende invadir o país latino-americano sob pretexto de combater tráfico de drogas

Foto: Paige Behringer/Exército dos EUA
A resolução democrata assinala que a ação militar unilateral contra o México seria uma violação da Carta da ONU

Por ora, a resolução é só uma proposta que requer ser aprovada por maioria – e com os republicanos na maioria na Câmara Baixa, não há facilidade para lográ-lo. Mas a introdução da resolução oferece uma contraproposta ante o crescente coro apelando por algum tipo de ação militar unilateral no país vizinho.  

Esse repetido apelo republicano, ante a crise mortal do fentanil nos Estados Unidos, está encontrando eco entre a opinião pública. Segundo uma sondagem da Reuters emitida no mês passado, mais de 50% dos consultados apoiam “enviar tropas militares estadunidenses ao México para combater os cartéis”. Não é surpresa que uma esmagadora maioria dos que se identificam como republicanos apoiem esta ideia, mas 42% dos democratas também o fizeram. 

A resolução democrata assinala que a ação militar unilateral contra o México seria uma violação da Carta da ONU e “reconhece que qualquer ato de agressão sobre o território soberano do México sem seu consentimento poderia ser considerado um ato de guerra e uma violação da lei internacional”.

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Os autores buscam esclarecer que designar uma entidade como uma “organização terrorista internacional” – como desejam fazer alguns republicanos sobre os cartéis – ou descrever o tráfico de fentanil do México aos Estados Unidos como “uma invasão” não outorga de maneira automático ao governo estadunidense o direito de lançar ação militar contra essa entidade em um país estrangeiro.

Leia também: “Guerra às drogas”: republicanos, democratas e jornais apoiam agressão dos EUA ao México

Embora a resolução reconheça “o poder inerente do presidente de repelir ataques repentinos contra pessoas e território dos Estados Unidos”, sublinha que “a manufatura, transporte e venda do fentanil e compostos químicos relacionados não são considerados como uma invasão armada ou ataque repentino por um adversário estrangeiro e não deveria servir como fundamento de empregar a força militar sem autorização do Congresso”.

Além dos três patrocinadores iniciais da resolução, outros 20 deputados se somaram como apoio. Entre eles estão Barbara Lee, Jim McGovern, Raul Grijalva, Adriano Espaillat, Ted Liu, Greg Casar, Sara Jacobs, Eleanor Holmes Norton, André Carson, Juan Vargas, Ilhan Omar, Dina Titus, Teresa Leger Fernández, Jimmy Gomez, Rashida Tlaib, Sheila Cherfilus-McCormick e Delia Ramirez.

David Brooks e Jim Cason | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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