No último dia 30, o presidente do governo espanhol, o socialista Pedro Sánchez, expressou “dúvidas” sobre o respeito do Estado de Israel ao direito internacional humanitário, diante das evidências de bombardeios indiscriminados contra a população civil na Faixa de Gaza.
Em resposta a essas declarações, durante sua primeira entrevista após a investidura, o governo do primeiro-ministro israelense, o ultranacionalista Benjamin Netanyahu, convocou sua embaixadora na Espanha para consultas e chamou a representante espanhola em Israel para uma “reprimenda“.
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Sánchez concedeu a entrevista à Rádio Televisão Espanhola (RTVE) depois da reeleição, respondendo a perguntas sobre a polêmica gerada com o governo israelense após sua visita ao país. Durante a visita, ele condenou os bombardeios indiscriminados e anunciou o reconhecimento unilateral, por parte da Espanha, do Estado Palestino como a via mais eficiente para alcançar um processo de paz.
Nessa ocasião, o mandatário espanhol foi além e expressou “dúvidas” sobre a estratégia bélica do exército israelense. “Pensamos que Israel deve sustentar suas ações com base no direito internacional humanitário e, diante das imagens que estamos vendo e do crescente número de vítimas, principalmente crianças, tenho francas dúvidas de que estejam cumprindo com esse direito internacional humanitário“.
Essas declarações causaram mal-estar no governo israelense, uma vez que o presidente espanhol detém atualmente a presidência de turno da União Europeia (UE). O ministro de Assuntos Exteriores, Eli Cohen, reagiu imediatamente, chamando para consultas a embaixadora em Madri, Rodica Radian-Gordon, e convocando novamente a embaixadora espanhola em Tel Aviv, Ana Sálomon, para uma “reprimenda”.
Cohen acrescentou que “após as indignantes palavras do presidente do governo da Espanha, que repete acusações infundadas, decidiu chamar o embaixador de Israel na Espanha para que retornasse a consultas em Jerusalém. Israel age e continuará agindo segundo o direito internacional, e prosseguiremos na guerra até a libertação de todos os sequestrados e a eliminação do Hamas em Gaza”.
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RTVE
Direita e a extrema-direita continuam encolerizadas pelos acordos entre o PSOE e os partidos nacionalistas bascos, catalães e galegos
Protesto contra Lei de Anistia
Pela sexta semana consecutiva, o direitista Partido Popular encabeçou um protesto nas ruas de Madri para rechaçar a iminente aprovação da lei geral de anistia, com a qual se pretende passar a página do conflito aberto com o independentismo catalão.
Cerca oito mil pessoas, segundo a Delegação do Governo, e 15 mil, de acordo com o PP, menos que nos protestos prévios, se concentraram nas imediações do Templo de Debod, da capital espanhola, onde escutaram o líder nacional do PP, Alberto Núñez Feijóo chamar de “despropósito” que o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) e Junts per Catalunya (JxCat) estejam negociando na Suíça e com a intermediação de um cidadão salvadorense o cumprimento do acordo que alcançaram para a sessão de investidura do presidente de governo, o socialista Pedro Sánchez.
A direita e a extrema-direita continuam encolerizadas pelos acordos entre o PSOE e os partidos nacionalistas bascos, catalães e galegos. Graças a esses pactos, o atual presidente do governo, Pedro Sánchez, conseguiu sua investidura, apesar do PP ser o partido mais votado.
Em torno do projeto de Sánchez, se congregaram até sete partidos políticos de tendências e ideologias diversas que têm em comum a prioridade de fechar passagem à extrema-direita representada por Vox.
O PP tornou a apelar aos seus simpatizantes e militantes para comparecerem a uma manifestação em Madri, em uma praça próxima à sede central do PSOE, e compareceram milhares de pessoas com bandeiras e cartazes com mensagens contra o presidente Sánchez e contra o líder de JxCat e ex-presidente da Catalunha, Carles Puigdemont, com mensagens como “Não ao golpe de Estado”, “Sánchez traidor e ditador” ou “Este governo pactua com a ETA”.
Núñez Feijóo criticou diante de seus seguidores o fato de “que Sánchez coloque um cidadão de El Salvador a decidir o futuro da Espanha é uma humilhação”, em referência ao diplomata salvadorense Francisco Galindo Vélez, que será o coordenador do “mecanismo internacional” de mediação acordado por ambas as partes e que se reunirá na Suíça uma vez por mês, pelo menos.
Para o líder do PP, “este governo não está com a Constituição. Não vamos aceitar a opacidade com a qual Sánchez se reúne e negocia. Não se negocia na clandestinidade a dignidade e a democracia da Espanha. Exijo em nome da Espanha que cesse esse despropósito”.
A partir das redes sociais, Puigdemont lançou uma mensagem: “Associam pactuar com o adversário a um ato de debilidade, covardia ou traição. O pacto não tem o prestígio social que, lamentavelmente, tem a testosterona daqueles que prometem derramar o sangue para salvar a pátria”.
Armando G. Tejeda | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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