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ToggleO presidente da Ucrânia, Volodymir Zelensky, nomeou no último dia 8 o general Oleksandr Syrskyi, ex-titular das forças terrestres, como novo comandante em chefe do exército ucraniano, em substituição ao general Valery Zaluzhny, com quem manteve, de um tempo para cá, sérias divergências ventiladas em público a respeito da situação no front.
Enquanto o mandatário insistiu, como político, em enviar uma invariável mensagem de otimismo, o militar se permitiu pôr em entredito o chefe de Estado ao afirmar que o conflito se empantanou em uma guerra de posições na qual ninguém pode avançar e, para fazê-lo, Ucrânia necessitaria de mais armamento ocidental, sobretudo aviões que não recebe.
O ponto mais álgido de seu distanciamento se produziu ao chocar suas propostas sobre a necessidade e o procedimento para recrutar reforços para o exército. Com um índice de popularidade mais alto que o de Zelensky, o general Zalushny, ao ser destituído, iniciou no mesmo dia um incerto caminho que pode levá-lo acima na política… ou à prisão.
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Foto: Ministério da Defesa da Ucrânia
Valery Zaluzhny, comandante ucraniano demitido por Zelensky
Prisão de pensador marxista
Uma corte militar de apelação condenou nesta terça-feira (13) o pensador marxista Boris Kagarlitsky a cinco anos de prisão, em uma colônia penitenciária, substituindo, dessa forma, a multa de 600 mil rublos imposta pela instância judicial anterior.
A promotoria argumentou sua solicitação de revisar a sentença anterior, afirmando que a multa não correspondia com “a gravidade do delito cometido”. Ou seja, emitir uma opinião sobre as consequências que traria o atentado ucraniano com bomba na ponte de Kerch – que une a península de Crimeia coma a região russa de Krasnodar – em outubro de 2022.
Figuras da esquerda de muitos países protestaram ante o Kremlin, o que, na opinião de analistas como Nikolai Podosokorsky ou Iván Preobrazhensky, pode ter influenciado em uma primeira sentença leve. No entanto, Kagarlitsky – após declarar reiteradamente que não tinha intenção de ir embora da Rússia – não escutou o sinal e agora, estimam, está pagando pela ousadia.
“A promotoria apresentou uma curiosa apelação. Diz mais ou menos como não posso pagar a multa, há que me prender. Trataram de me apresentar como um morto de fome, não conseguiram. Os espectadores (do canal de vídeo) Rabkor (acrônimo de correspondente operário) arrecadaram com suas doações um milhão e 400 mil rublos. Estou preparado para qualquer desfecho. Creio que vamos ganhar o julgamento. Mas se não for assim, terão que voltar a lutar por minha libertação…” comentou Kagarlitsky à imprensa antes de começar a sessão.
A justiça castrense deu razão à promotoria, embora defensores incondicionais do Kremlin, como o politólogo Serguei Markov – assíduo participante dos programas de televisão que justificam qualquer decisão das autoridades – acreditam que a nova condenação de Kagarlitsky é um erro.
“Trata-se de um duro golpe às posições da Rússia no mundo. Kagarlitsky é muito conhecido no nível internacional entre os amigos da Rússia, é considerado um dos poucos marxistas que há em nosso país. E os marxistas em sua maioria apoiam a Rússia em dezenas de países. Por isso, esta condenação a Kagarlitsky vai reduzir drasticamente o respaldo a Rússia no Sul global, África do Sul, os BRICS+ e inclusive na União Europeia (…). Como qualquer pessoa inteligente, [Kagarlitsky] pode ter dito alguma estupidez, mas não é nenhum terrorista, nenhum extremista”, lamentou em La Lógica de Markov, nome de seu canal de Telegram.
O próprio Kagarlitsky, em uma mensagem gravada que difundiu Rabkor, tratou de animar seus familiares e seguidores: “Nos veremos de novo em liberdade e tudo vai sair bem. Só temos que sobreviver a este período lúgubre para nosso país, aguentar um pouco e tudo vai se acertar…”, conseguiu dizer antes que fosse levado pelos guardas.
Seu advogado, Serguei Yerejov, afirmou que vai apresentar, ante a instância superior, um recurso de apelação diante “das numerosas irregularidades do processo que saltam à vista”.
Candidatura de Boris Nadezhdin
A Comissão Central Eleitoral (CCE), instância superior responsável pelas eleições na Rússia, negou, no último dia 8, o registro de candidatura do político Boris Nadezhdin às eleições presidenciais do mês seguinte. Tal decisão foi tomada sob a alegação de que as assinaturas de apoio à sua candidatura superaram o máximo permitido de irregularidades (erratas nos nomes ou endereços, por exemplo) ou não foram reconhecidas como legais por não terem sido apresentadas conforme o formato estabelecido.
Nadezhdin – por pura casualidade cujo sobrenome significa, traduzido do russo, “aquele que traz esperança” –, sem ser aberto opositor ao Kremlin, hasteou pouco a pouco um discurso que contrastou com a versão oficial do que se denomina “operação militar especial” da Rússia na Ucrânia, e pôs o acento, com as reservas e cuidados que lhe permitia a lei, em promover como meta de sua eventual gestão alcançar a paz com o vizinho povo eslavo, por século irmão dos russos e agora inimigo irreconciliável.
Dados seus antecedentes como assessor de Serguei Kiriyenko, atual encarregado da política interna no Escritório da Presidência russa, desde onde se movem todos os fios que se necessita para reeleger Putin, a postulação de Nadezhdin foi percebida como mais do mesmo, até que ele levou a sério a possibilidade de disputar a liderança do país com propostas que muitos compartilham e não se atrevem a dizer além das quatro paredes de sua casa.
Nadezhin chegou, por exemplo, a qualificar de “catástrofe” o conflito com a Ucrânia e ofereceu “libertar os presos políticos”, em alusão àqueles que as autoridades consideram “delinquentes” por fazer públicas opiniões diferentes à versão oficial, o que – na sua opinião – “difama o exército russo ao difundir mentiras”.
A equipe do bloqueado aspirante à presidência russa, que apelará ante a Suprema Corte, conseguiu cerca de 200 mil assinaturas em apoio à sua candidatura, respeitando a regra de que estivesse representando o mínimo de eleitores de cada uma das entidades da Federação. Nadezhdin levou à CCE 105 mil firmas, 5 mil a mais que as necessárias, enquanto os “especialistas” da Comissão concluíram que só valiam 95.500 firmas.
Segundo a CCE, 9.147 firmas não reúnem as condições para serem válidas e tampouco se podem ser substituídas por outros, apesar de que Nadezhdin conta com 95 mil firmas adicionais. O vice-presidente da Comissão, Nikolai Baluyev, assegurou que “houve inclusive onze assinantes que já faleceram”, o qual – em sua opinião – “é uma mostra de cinismo que teria o mérito de anular toda a relação de firmas”.
Em suma, 2.500 firmas foram recusadas, já que a data não foi escrita de punho e letra dos próprios assinantes; 1.767 firmas não foram reconhecidas porque as coletadas não figuram na lista de pessoas autorizadas para isso. 995, porque os dados de quem conseguiu as firmas não correspondiam com quem as entregou; e tudo isso, sem somar as anulações por simples erratas ao escrever um sobrenome ou um endereço, óbvias demais.
Juan Pablo Duch – La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados
Tradução: Beatriz Cannabrava
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