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Foto: Kremlin

Aliança Rússia-Coreia do Norte reconfigura geopolítica e devora hegemonia dos EUA na Ásia

Simples fato de que a Rússia esteja apoiando a Coreia do Norte em meio à guerra na Ucrânia, dá a este país um novo status e uma importância na geopolítica mundial
Isabella Arria
Estratégia.la
Buenos Aires

Tradução:

Ana Corbesier

A assinatura de um acordo estratégico entre a Rússia e a Coreia do Norte, com um importante e novo componente militar, disparou os alarmes no Ocidente e o Extremo Oriente, enquanto se expande a dimensão internacional da guerra da Ucrânia e se reforça a presença russa na região Ásia Pacífico.

Em sua primeira visita à Coreia do Norte em 24 anos , o presidente russo Vladimir Putin, selou o acordo com o líder norte-coreano, Kim Jong-un que prevê, entre outras coisas, assistência mútua em caso de agressão contra uma das partes deste acordo. Putin acabava de assumir seu cargo como presidente quando foi pela primeira vez à Coreia do Norte, em julho do ano 2000, quando governava Kim Jong-il, pai do atual mandatário norte-coreano, que faleceu em 2011.

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Desde então as relações entre os dois países estiveram tranquilas e não preocuparam nem os chineses, que conservavam o monopólio dos laços de segurança e alimentação com o regime norte-coreano, nem os estadunidenses, que com o ex-presidente Donald Trump chegaram a realizar algumas cúpulas entre os dois líderes. Ainda que preocupassem a Coreia do Sul e o Japão, para os quais esta aproximação se concretizou graças à guerra na Ucrânia e os alinhamentos subsequentes.

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Para os analistas europeus, a Coreia do Norte, condenada por décadas ao ostracismo mundial, tornou-se não só o principal fornecedor externo de munição de artilharia e mísseis para a Rússia na guerra na Ucrânia, como pode ser alavanca para que Moscou lance uma de suas imprevisíveis “respostas assimétricas” à ajuda com dinheiro e armas que o Ocidente está prestando a Kiev nesta contenda em solo europeu.

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Além do tema de segurança, os dois líderes abordaram a possibilidade de criar um “sistema comercial e de pagamentos recíprocos” que esquivasse as normas econômicas mundiais impostas pela Ocidente. Putin criticou as pressões do Ocidente, especialmente dos Estados Unidos, aos países que não aceitam o sistema capitalista ocidental. Esta rede de pagamentos independente tentará evadir as sanções para “fazer as relações internacionais mais democráticas e flexíveis”.

O novo tratado de associação integral substitui os que tinham assinado Moscou e Pyongyang em 1961, 2000 e 2001. Segundo o assessor do Kremlin em política internacional Yuri Ushakov, este acordo “não terá nenhum caráter de confronto, não estará dirigido contra nenhum país e estará orientado a garantir uma maior estabilidade na região da Ásia Norte-oriental”.

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Ushakov enfatizou que se trata de amoldar as relações entre os dois países às mudanças ocorridas no panorama geopolítico internacional, especialmente depois da invasão russa da Ucrânia, respaldada desde o primeiro momento pela Coreia do Norte.

Nesta viagem de Putin ficou evidente que o mapa traçado pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), com os Estados Unidos à frente, para o leste da Ásia e o Pacífico Ocidental nas últimas duas cúpulas da Aliança, em Vilna e Madri, já está caduco.

Putin moveu o tabuleiro geopolítico

Putin moveu o tabuleiro. Se até agora o principal desafio para Washington e seu hegemonismo na região da Ásia Pacífico, onde conta com o até agora irrestrito respaldo da OTAN e de seus aliados asiáticos, Japão e Coreia do Sul, era a China, agora, com a aliança estratégica entre a Coreia do Norte e a Rússia abre-se outra frente de confronto geopolítico.

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Enquanto isso, a associação entre a Rússia e a China vai muito bem: o petróleo e o gás russos fluem para a China e deste país são enviados à Rússia os componentes eletrônicos de duplo uso que, segundo o Ocidente, estão sendo utilizados para a fabricação russa de mísseis e outras armas empregadas nas batalhas na Ucrânia.

Putin pôs a Coreia do Norte novamente no tabuleiro geopolítico: o simples fato de que Putin, enfrentado a todo o Ocidente por sua invasão na Ucrânia, esteja apoiando a Coreia do Norte, dá a este país um novo status e uma importância na geopolítica mundial.

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O que menos convinha ao Ocidente e ao Japão e à Coreia do Sul é que agora essas amizades perigosas tornaram-se uma ameaça regional e mundial pela mão destes indubitáveis vínculos militares.

Armas para a Rússia

As declarações de Putin em Pyongyang não deixaram lugar a dúvidas: o documento assinado pelos dois líderes em Pyongyang, inclui uma cláusula de defesa mútua que contempla “a assistência em caso de que um dos dois países seja agredido”. É um reconhecimento internacional de fato ao fornecimento pela Coreia do Norte de armas à Rússia, que permitiu manter a iniciativa de seu exército em toda a frente ucraniana.

O ministro de Defesa da Coreia do Sul, Shin Won-shik, afirmou à imprensa estadunidense que os serviços de inteligência militar sul-coreanos detectaram pelo menos 10 mil contêineres norte-coreanos enviados à Rússia, o que suporia pelo menos 4,8 milhões de projéteis de artilharia para ser – potencialmente – utilizadas na Ucrânia. A Casa Branca calculou em 11 mil os contêineres de munição enviados já desde a Coreia do Norte para a Rússia.

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Shin acrescentou que a Coreia do Norte enviou ainda “dezenas de mísseis balísticos” para a Rússia. Segundo o The New York Times foram encontrados fragmentos do míssil balístico de curto alcance norte-coreano Hwasong-11A depois dos ataques aéreos russos contra cidades ucranianas, especialmente em Kharkiv.

A imprensa estadunidense diz também que a Coreia do Norte também poderia estar fornecendo à Rússia munição antitanque e mísseis portáteis terra-ar, assim como lança-foguetes e morteiros. Acrescenta que em troca deste armamento, a Rússia teria entregue à Coreia do Norte tecnologia para lançar uma rede de satélites espiões, carros de combate e aviões, que violariam as sanções estabelecidas pelas Nações Unidas contra a Coreia do Norte.

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Há uns meses, os meios de comunicação russos falaram da possibilidade de que a Rússia levasse centenas de milhares de soldados norte-coreanos para a Ucrânia se ocorresse ao presidente francês, Emanuel Macron. pôr em prática sua sugestão de mandar tropas europeias para a frente ou a retaguarda ucraniana.

O assistente da Presidência ucraniana, Mykhailo Podolyak disse que este acordo de associação anula unilateralmente as sanções e restrições impostas à Coreia do Norte pela comunidade internacional e denunciou a “absoluta incapacidade” das sanções internacionais para dobrar a Coreia do Norte e a Rússia, que, com esta nova aliança, poderão abrir canais de intercâmbio bilateral intocáveis.

A OTAN preocupada

Jens Stoltenberg, secretário-geral da OTAN, mostrou também sua preocupação com o acordo entre a Rússia e a Coreia do Norte, associando esta nova associação às que o Kremlin mantém com a China e o Irã, países que, segundo o político norueguês, apostam na queda da Aliança Atlântica.

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Indicou que este acordo e o apoio chinês à economia russa, evadindo as sanções ocidentais, mostra como estão ligados os interesses europeus à Ásia. Stoltenberg adiantou que na cúpula da OTAN em Washington em julho será abordado o fortalecimento das relações da Aliança com os países aliados da região, isto é, Austrália, Nova Zelândia, Japão e Coreia do Sul.

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E lançou uma grave acusação contra a China: “Não pode manter relações comerciais normais com países da Europa e, ao mesmo tempo, alimentar a maior guerra que vimos na Europa desde a Segunda Guerra Mundial“. “Continuar como fazemos hoje, não é viável”, disse Stoltenberg, sem citar os mais de 100 bilhões de euros que os países da Aliança entregaram já à Ucrânia para que combata os russos, em armas e em assistência econômica.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Isabella Arria Jornalista chilena residente na Europa, analista associada ao Centro Latino-americano de Análise Estratégica (CLAE, estrategia.la)

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