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O presidente da Colômbia, Gustavo Petro (Foto: Presidência da Colômbia / Flickr)

Mídia, oligarquia e lawfare: a Colômbia de Petro na mira do Plano Condor

Direita colombiana repete golpismo contra figuras como Lula, Dilma e Obrador, a fim de derrubar Petro e impedir reformas sociais favoráveis ao povo
Carmen Parejo Rendón
Russia Today
Sevilha

Tradução:

Guilherme Ribeiro

Desde a vitória de Gustavo Petro na Colômbia, o caminho de seu governo não tem sido fácil. Praticamente todas as reformas sociais apresentadas pelo presidente, que estavam em seu programa eleitoral, foram derrubadas pelas demais forças políticas. Entre suas propostas, destaca-se a reforma da saúde, tão necessária em um país como a Colômbia, onde o acesso à medicina faz parte da geografia social da desigualdade, especialmente entre as zonas urbanas e rurais.

Esses obstáculos contrastam com a esperança que cercou a inédita chegada ao poder de um político de esquerda, celebrada em um país que sofre com altos índices de violência e profundas desigualdades em todos os âmbitos.

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Contra o presidente Petro, não apenas se iniciou uma guerra política, mas também uma guerra midiática. A concentração dos meios de comunicação colombianos em poucas mãos — a maioria deles pertencentes à oligarquia e até mesmo a transnacionais da comunicação, como o Grupo Prisa (Espanha), dono da Caracol e de outros meios —, temendo perder o controle sobre os recursos do país, ativou uma intensa campanha de difamação contra o presidente.

Na guerra aberta contra Petro, destacam-se jornalistas colombianos como Vicky Dávila, da Revista Semana, e Néstor Morales, da Blu Radio, que, seguindo a linha da mídia de extrema-direita internacional, há dois anos disseminam boatos e campanhas contra o presidente, não apenas sem apresentar provas, mas sem retratar-se quando as mentiras são descobertas.

Esses jornalistas chegaram a criar cenários de confusão que ocultam os verdadeiros escândalos da política colombiana, incluindo os interesses e irregularidades administrativas que envolvem esses grandes veículos de comunicação.

Nesse cenário, chegamos finalmente à decisão do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) de apresentar acusações contra a campanha presidencial de Petro, em 8 de outubro passado. A constituição colombiana estabelece que o CNE só tem um mês após as eleições para iniciar uma investigação sobre qualquer anomalia que considere ter ocorrido durante o período eleitoral, tanto na campanha quanto nas votações. Nesse caso, já se passaram dois anos.

Colômbia Humana

As contribuições financeiras pelas quais o CNE instaura uma investigação não se referem, de fato, à campanha, mas aos recursos recebidos por um dos partidos, o Colômbia Humana, que fazia parte da coalizão eleitoral. Nesse sentido, não haveria nenhuma irregularidade, conforme as leis colombianas de financiamento de partidos políticos, já que o valor recebido pelo Colômbia Humana foi utilizado para a festa de celebração da vitória eleitoral, ou seja, fatos alheios ao financiamento da campanha, como esclareceu o próprio Petro, que defende sua inocência.

Uma das contradições do CNE é que o órgão não tem competência para abrir qualquer tipo de investigação, muito menos dois anos após as eleições. A Câmara dos Representantes seria a única que poderia autorizar uma investigação contra o presidente, algo que, até o momento, não ocorreu.

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Diante desses fatos, podemos inferir que o lawfare (guerra judicial) é o próximo passo da direita colombiana em sua campanha para derrubar Petro e impedir qualquer reforma social no país. Embora esse mecanismo de guerra judicial para derrubar políticos que representam alternativas não seja exclusivo da América Latina, é necessário considerar que é neste território que, nos últimos anos, ele se desenvolveu de forma mais eficaz.

Petro, Dilma, Lula, Obrador…

Fazendo uma rápida retrospectiva, podemos lembrar outros casos, como o lawfare contra López Obrador, quando era prefeito da Cidade do México; a destituição de Dilma Rousseff e a prisão de Lula no Brasil; os ataques judiciais contra Cristina Fernández na Argentina; o cerco contra Rafael Correa no Equador; ou o uso dessa ferramenta para “legalizar” golpes de Estado, como ocorreu em Honduras, Paraguai e Bolívia.

Além disso, as ações contra Petro ocorrem em um cenário regional específico. Em 9 de outubro, o Departamento de Estado dos EUA incluiu o ex-presidente Correa, sua esposa e seus filhos (algo inédito) na lista de pessoas não elegíveis para obtenção de visto nos Estados Unidos. Da mesma forma, aplicaram essa medida ao ex-vice-presidente Jorge Glas, que atualmente está sequestrado pelo Estado equatoriano, que até impediu o contato com sua equipe jurídica após a invasão ilegal da força pública — sob comando de Daniel Noboa — na embaixada mexicana, onde estava asilado.

Igualmente, todas as estratégias de desestabilização contra a República Bolivariana da Venezuela continuam ativas desde a tentativa de golpe, utilizando as eleições presidenciais de julho deste ano. A ofensiva contra Petro é construída como uma pirâmide. Na base, está a oligarquia colombiana, que se recusa a qualquer reforma social que questione seus privilégios. Sobre isso, repousa o temor à integração latino-americana, como um elemento que garantiria a soberania política diante dos ataques das oligarquias nacionais e de seus amos internacionais. Por fim, o topo da pirâmide é a necessidade dos EUA de manter sob controle o que considera seu “quintal”, ainda mais em um cenário global que questiona cada vez mais profundamente sua hegemonia internacional.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Carmen Parejo Rendón

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