Pesquisar
Pesquisar

Justiça espanhola decide que fazenda presenteada a ditador seja devolvida ao Estado

A decisão judicial ainda não é definitiva, mas pode ser um primeiro passo para o confisco pelo Estado espanhol dos bens imóveis herdados pela família do ditador
Armando G. Tejeda
La Jornada
Madri

Tradução:

Um juiz de primeira instância da Galícia decidiu a favor da demanda interposta pelo governo espanhol, presidido pelo socialista Pedro Sánchez, para que a família da ditador Francisco Franco (1939-1975) devolva uma fazenda de grande valor territorial e econômico na província de La Coruña. 

A decisão judicial ainda não é definitiva, mas pode ser um primeiro passo para o confisco pelo Estado espanhol dos bens imóveis herdados pela família de Franco, que foram adquiridos de forma presumidamente ilegal.

A demanda interposta pelo governo espanhol foi respaldada pelo Ajuntamento de Saída, onde se encontra a propriedade, pela província de La Coruña e a Câmara Legislativa Provincial, além do governo autônomo da Junta de Galícia, governada pelo direitista Partido Popular (PP), com o que tem o respaldo das principais instituições da região. 

A decisão judicial ainda não é definitiva, mas pode ser um primeiro passo para o confisco pelo Estado espanhol dos bens imóveis herdados pela família do ditador

Turismo Galícia
Paço de Meirás

Fazenda foi um “presente” ao Ditador e Generalíssimo dos Exércitos

Na decisão judicial, divulgada ontem, a juíza Marta Canales explica que não é legal a doação da “fazenda denominada Torres ou Paço de Meirás ao autoproclamado chefe do Estado, Francisco Franco Bahamonde, por carecer do requisito essencial de forma”. E esse defeito de forma é a nomenclatura com a qual se decidiu conceder a fazenda ao ditador, que foi decidida em uma junta municipal na qual se acordou, segundo consta em ata, que esse terreno era presenteado “ao caudilho”, “ao Generalíssimo dos Exércitos e Chefe do Estado Nacional”.  

A magistrada explica em seu auto que “seu nome era Francisco Franco Bahamonde, porém a doação não foi feita a Franco por si mesmo, mas sim ao chefe do Estado, com o que as alegações dos demandados em relação à intenção das vendedoras, que queriam que o local fosse dado a Franco a título pessoal, não se comprovam”. 

Além disso, a juíza adverte que a compra e venda de 24 de maio de 1941 foi uma “simulação”, pelo que é nula, ao explicar que “nenhuma operação existe entre as partes, mesmo que se dissimule os efeitos que defendem os demandados

O Paço de Meirás havia sido entregue a Junta Pró Paço do caudilho na primavera de 1938, comprado em escritura pública pela Junta em 5 de agosto de 1938 e a Junta Pró Paço fez entrega formal ao caudilho em 5 de dezembro de 1938. Em 24 de maio de 1941 não se entrega a Franco o paço e Franco nada paga”. 

A fazenda em disputa se converteu em um dos lugares preferidos do ditador para passar as férias de verão; de fato durante o longo período histórico de seu regime ditatorial foram celebradas ali numerosas reuniões do conselho de ministros e de seu governo. Um fato que a magistrada assumiu como um argumento mais a favor de sua devolução, ao entender que “a presença administrativa no Paço era evidente, albergava escritórios permanentes da Casa Civil e Militar, fundamentalmente, na antiga granja de Merás e na Casa de Guarda”. O que contribui para confirmar que a propriedade do imóvel é do Estado e não da família do ditador.

Armando G. Tejeda Correspondente de La Jornada em Madri.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

Veja também

 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Armando G. Tejeda Mestre em Jornalismo pela Jornalismo na Universidade Autónoma de Madrid, foi colaborador do jornal El País, na seção Economia e Sociedade. Atualmente é correspondente do La Jornada na Espanha e membro do conselho editorial da revista Babab.

LEIA tAMBÉM

Cidades “santuário” para imigrantes se preparam para barrar ofensivas de Trump
Cidades “santuário” para imigrantes se preparam para barrar ofensivas de Trump
Putin Mais do que trégua, precisamos de uma paz duradoura (1)
Putin: Mais do que trégua, precisamos de uma paz duradoura
Ucrânia teria prometido US$ 100 mil e passaporte europeu a autor de atentado na Rússia
Ucrânia teria prometido US$ 100 mil e passaporte europeu a autor de atentado na Rússia
A esperança das crianças em Gaza A guerra tirou tudo de nós, mas nunca vai tirar nosso sonho
A esperança das crianças em Gaza: "A guerra tirou tudo de nós, mas nunca vai tirar nosso sonho"