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Companheiro de lutas de Luther King, John Lewis é homenageado em funeral nos EUA

Em artigo publicado no New York Times no dia de seu funeral, ícone da luta pelos direitos civis deixou palavras póstumas celebrando a nova geração de resistência
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

John Lewis, líder de direitos civis desde os anos 60 ao lado de Martin Luther King e legislador batizado como “a consciência do Congresso” foi homenageado em seu funeral por ex-presidentes, colegas e companheiros, mas teve a última palavra ao deixar uma mensagem póstuma às novas gerações da resistência do Black Lives Matter.

Feroz guerreiro não violento pela justiça racial, Lewis marchou com o Dr. King pelo sul, e como parte desse movimento foi golpeado repetidamente e encarcerado por policiais e racistas, mas nunca perdeu seu otimismo. Foi o orador mais jovem – 23 anos de idade – na histórica Marcha em Washington por Empregos e Liberdade de 1963, onde King pronunciou seu discurso “Eu tenho um sonho”.  

Encabeçou uma das marchas mais famosas da história do país, com 600 ativistas exigindo o direito ao voto que havia sido negado aos afro-estadunidenses no sul. Ao cruzar uma ponte em Selma, Alabama, desafiando ordens de  dispersar sua marcha, policiais estatais com equipamento anti motins atacaram com gases, paus e chicotes; Lewis teve o crânio fraturado. Mas as imagens da repressão brutal nos meios aceleraram a aprovação do Lei Federal de Direito ao Voto, uma das conquistas fundamentais desse movimento.

Em 1986, principalmente pelo voto afro-estadunidenses que havia ajudado a proteger mais de 20 anos antes, foi eleito deputado federal por Atlanta.

Expressou sua fúria e alegria com o surgimento do novo movimento de direitos civis, Black Lives Matter, mostrando que suas dimensões e maior inclusão o faziam diferente dos que havia nos anos sessenta, “não haverá passos para trás”.

Em artigo publicado no New York Times no dia de seu funeral, ícone da luta pelos direitos civis deixou palavras póstumas celebrando a nova geração de resistência

Wikimedia Commons
“Gente simples com visão extraordinária pode redimir a alma dos EUA ao se meter no que eu chamo de boas encrencas, encrencas necessárias"

Obama, Bush e Clinton

Depois de ser sido velado no Capitólio em Washington no início da semana, seu corpo foi trasladado para o funeral na Igreja Batista Ebenezer em Atlanta onde King exerceu como reverendo e ofereceu sermões que inspiraram, entre outros, a um adolescente Lewis.  

Três ex-presidentes lhe ofereceram tributo em Atlanta. Barack Obama declarou que quando os Estados Unidos “lograr uma união mais perfeita… John Lewis será um pai fundador dessa América mais plena, mais justa e melhor”. George W. Bush e Bill Clinton enfatizaram suas contribuições e inspiração a este país

Porém Lewis teve a última palavra. Pouco antes de morrer em 17 de julho, aos seus 80 anos de idade escreveu um artigo de opinião para ser publicado no dia de seu funeral pelo New York Times.  

Sob o título de “Juntos, vocês podem redimir a alma dos Estados Unidos”, Lewis escreveu que em seus últimos dias de vida “vocês me encheram de esperança para o próximo capítulo da grande história estadunidense ao usar seu poder para marcar uma diferença em nossa sociedade. Milhões de pessoas motivadas simplesmente pela compaixão humana depuseram o lastro da divisão. Em torno do país e do mundo, vocês puseram de lado a raça, a classe, a idade, o idioma e a nacionalidade para exigir respeito à dignidade humana”.

Lewis recorda que King “disse que cada um de nós tem a obrigação moral de pôr-se em pé, levantar a voz… Quando vejam algo que não está bem, devem dizer algo. Devem fazer algo. A democracia não é um estado. É um ato, e cada geração tem que fazer sua parte para ajudar a construir… uma sociedade mundial e em paz consigo mesma”.

“Gente ordinária com visão extraordinária podem redimir a alma dos Estados Unidos ao se meter no que eu chamo de boas encrencas, encrencas necessárias. Votar e participar no processo democrático é chave. O voto é o agente de mudança não violento mais poderoso que se tem em uma sociedade democrática”, aconselha.

Instou a que se estude a história, e que como “a verdade não muda”, as respostas de outros tempos poderiam conter soluções para os desafios contemporâneos.  

Ademais, convidou a que “continuem construindo união entre movimentos que se estendem através do mundo, porque devemos deixar de lado nossa disposição de tirar proveito da exploração dos demais”. 

Concluiu que espera que esta geração seja a que deixe atrás a carga de ódio para que a história reporte que “a paz finalmente triunfou sobre a violência, a agressão e a guerra”.

David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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