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ToggleTrump declarou em janeiro de 2016 durante sua campanha eleitoral, ao elogiar e burlar-se ao mesmo tempo de suas próprias bases fiéis, que poderia assassinar alguém em plena Quinta Avenida sem perder um só de seus eleitores.
Quatro anos depois, com mais de 130 mil mortes por Covid-19 – 80% preveníveis se houvesse implementado medidas de mitigação duas semanas antes, mais uma recessão relâmpago e devastadora, o presidente continua tendo um taxa de aprovação de pouco mais de 40%.
Mas de repente nem tudo está, como ele insiste, “sob controle”. Trump está perdendo, segundo as pesquisas eleitorais mais recentes. A recessão econômica e seu manejo inepto, enganoso e, por suas consequências desnecessárias, criminoso da Covid-19 está tendo um impacto negativo nas pesquisas.
Trump, como tem feito desde o princípio, tem minimizado a pandemia, acusado a todos os demais – incluindo os chineses e os mexicanos – de serem os responsáveis pelo problema, e insiste na reabertura do país apesar das recomendações dos especialistas (é claro que não tem consultado o maior especialista de seu governo, o Dr. Fauci, em mais de dois meses).
commondreams.org
Trump está perdendo, segundo as pesquisas eleitorais mais recentes
Fora de controle
Com a economia e a saúde pública fora de controle, o presidente “mais perigoso” da história moderna e a “maior ameaça” à democracia estadunidense – apreciação compartilhada por múltiplos ex-colaboradores da Casa Branca, vários proeminentes generais e almirantes, figuras nacionais conservadoras como George Will (que agora o qualificou como o pior presidente de todos os tempos), até pensadores de esquerda como Noam Chomsky – torna-se cada vez mais alarmante.
Sua última façanha não tem precedentes nos atos corruptos de um mandatário: comutar a condenação à prisão de seu amigo Roger Stone, culpado de obstruir a justiça na investigação do próprio presidente. Nem Richard Nixon se atreveu a fazer tal coisa (e isso que Stone é famoso pela enorme tatuagem de Nixon que tem nas suas costas).
Esta barbaridade se soma a todas as demais que têm distinguido esta presidência: as medidas sistematicamente cruéis contra imigrantes (esta por tentar promover a separação e divisão de famílias em troca de ceder sobre DACA), o convite e incitação do ódio racial e xenofóbico, a anulação de normas e medidas de proteção do meio ambiente, a privatização da educação, sua tentativa de reativar as execuções de prisioneiros federais esta semana, sua promessa de tentar derrubar governos desobedientes no hemisfério ocidental e a repressão ao maior movimento de protesto da história do país (o qual proclamou como “inimigo” dos Estados Unidos) e suas acusações de traição ao país de seus opositores políticos, são só algumas.
“É a eleição mais importante da minha vida… As normas democráticas de nossa república que são essenciais para o que é, o que era, e o que tem que ser os Estados Unidos estão em jogo”, comenta David Simon, jornalista, criador de “The Wire” e “Treme” e agora “O complô contra América” (baseado na novela de Phillip Roth sobre se um fascista ganhasse as eleições presidenciais) em entrevista recente a Esquire.
Trump “fez com que haja metástase do temor latente estadunidense que tem sido parte de nosso país desde os anos 1840… que antes se dirigia contra os irlandeses, depois contra os italianos e os judeus… e todo o tempo contra os afro-estadunidenses. Agora é contra os latinos e os muçulmanos em particular – é algo que está ao longo da história estadunidense. Esse trem nunca está atrasado. Trump o usou para chegar até a presidência”. Conclui: “agora não resta mais que a luta” para conseguir evitar a reeleição deste presidente e resgatar o país.
Aí, justamente onde Trump disse que podia descer de seu edifício e assassinar alguém, está recém pintado no meio da Quinta Avenida bem em frente à Torre Trump: “Black Lives Matter”.
David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York
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Tradução: Beatriz Cannabrava
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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