O furor da impugnação que consumiu o Capitólio durante quase um ano se dissipa hoje em meio a uma tormenta muito mais urgente: o surto do novo coronavírus que se propaga nos Estados Unidos sem ser possível detê-lo.
Qualquer rastro do impeachment a que foi submetido o presidente Donald Trump – que concluiu em fevereiro com a absolvição do Senado – desapareceu do Legislativo, das manchetes dos jornais e até da campanha eleitoral.
Tudo indica que a batalha pelo Congresso se redefine e o responsável será o virulento patógeno que se estendeu por todos os estados da União, pulverizando a economia e levando os legisladores a um modo de governo de crise nunca visto desde a Grande Depressão.
Para alguns membros da campanha democrata a dupla ameaça existente: à saúde pública e à economia, faz balançar as eleições de 3 de novembro.
Os republicanos, que esperavam concentrar seus ataques eleitorais na impugnação de Trump, receberam uma mudança nas regras em um abrir e fechar de olhos e terão que lidar com o desastre econômico alimentado pelo vírus, motivo de preocupação para os eleitores.
Segundo uma pesquisa nacional dos democratas na Câmara baixa realizada em meados de março – justo quando as escolas e as empresas começaram a fechar suas portas diante da propagação do surto pandêmico -, 50% dos eleitores entrevistados opinou que a economia dos Estados Unidos está piorando (uma má notícia para Trump).
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Aprovação a Trump foi inferior (45%) e os republicanos, menos ainda (42%)
A pesquisa revelou também que 28% dos interrogados considerou que sua própria perspectiva econômica agravou-se, enquanto 49% aprovou a forma como a força azul estava manejando a resposta à Covid-19 no Congresso.
A pontuação que Trump recebeu nesse quesito foi inferior (45%) e os republicanos, menos ainda (42%).
O novo coronavírus pôs o país em xeque. No momento a campanha eleitoral quase cessou. A arrecadação de fundos diminuiu. Não há eventos proselitistas. O impulso de Joseph Biden depois de vencer em primárias cruciais ficou como o final de uma novela, esperando o próximo capítulo.
A congressista de Illinois Cheri Bustos está consciente que “ninguém sabe quanto tempo isso vai durar”, e que não se trata de “que o coronavírus afete os democratas e não os republicanos”.
No entanto, alguns de seus colegas dizem privadamente que a crise atual desencadeada pelo SARS-Cov-2 servirá para abrir um necessário e acalorado debate sobre o atendimento médico.
O enfoque nacional quanto ao alto custo das provas para a Covid-19, doença provocada pelo vírus, as vacinas e outros assuntos de saúde poderia combinar com a mensagem dos democratas com vistas a novembro, consideram observadores.
Há quem compare a situação atual com a campanha de 2008, quando as primárias presidenciais democratas estavam definidas em grande parte pela guerra do Iraque, até que houve a falência do Lehman Brothers, o gatilho da crise, em 15 de setembro daquele ano.
A quebra ajudou a desencadear um colapso financeiro que rapidamente converteu-se no assunto dos assuntos e teve efeito dois meses depois, nas eleições de novembro, quando ganhou Barack Obama.
Em 2019, o Congresso foi testemunha do fechamento governamental mais longo; também ressoou nos corredores de Washington a investigação de Robert Mueller sobre a Rússia e a votação para destituir o presidente. Agora é o letal coronavírus.
”Vivemos em uma época em que a uma crise seguem-se outras”, disse o representante democrata de Nova Jersey, Tom Malinowski, citado pelo jornal Político.
O congressista, crítico de Trump, afirmou que o comportamento do mandatário em meio à atual emergência sanitária só reforçou sua crença de que tomou a decisão correta ao votar pela impugnação.
Para Malinowski algumas das reações do chefe da Casa Branca e suas frequentes manifestações sobre a pandemia lembram “o presidente que impugnamos. Porque, de novo, pensa no interesse próprio antes do da nação”.
E “isto é o que dominará a vida dos estadunidenses até o dia das eleições”, antecipam estrategistas do partido.
Prensa Latina, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.
Tradução de Ana Corbisier
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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