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Sanders ganha força como líder democrata ao consolidar primeiro lugar em New Hampshire

A cúpula política e econômica dos EUA se surpreendeu com a notícia de que o senador está pela primeira vez em primeiro lugar em enquetes nacionais
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

No segundo concurso interno para decidir a candidatura presidencial do Partido Democrata, projetou-se o triunfo do socialista democrático e afundou mais o abandeirado da cúpula do partido, ao intensificar-se a disputa entre as filas progressistas e as centristas no início deste ciclo de eleições primárias.

O senador Bernie Sanders, por agora, consolidou sua posição e criou força como o líder entre os aspirantes democratas, com o apoio vital dos jovens que são fundamentais para o futuro do candidato mais velho em torno a sua mensagem de uma “revolução política”.  

Mas sua margem de triunfo em New Hampshire foi muito mais reduzida do que o esperado diante do ex-prefeito Pete Buttigieg, um centrista, que também disputou o triunfo em Iowa, provocando preocupação entre as filas de Sanders que esperavam uma vitória mais definitiva. 

Por seu lado, Joe Biden nem esperou os resultados no estado e viajou a Carolina do Sul obviamente já supondo que não gozaria os resultados. O ex-vice-presidente, que está dependendo da memória política de Barack Obama para sua campanha, afundou ainda mais do que o previsto para acabar em um longínquo quinto lugar. 

As senadoras Amy Klobuchar (centrista) e Elizabeth Warren (progressista, mas marcando distância com a etiqueta “socialista”) acabaram nessa ordem depois de Sanders e Buttigieg. Biden e Warren surpreenderam por sua inesperada debilidade nestes dois primeiros concursos (em Iowa na semana passada). 

A cúpula política e econômica dos EUA se surpreendeu com a notícia de que o senador está pela primeira vez em primeiro lugar em enquetes nacionais

Bernie Sanders Facebook Oficial / Reprodução
O Senador Bernie Sanders comemora sua vitória nas prim´árias de New Hampshire

New Hampshire é um estado microscópico e pouco representativo dos Estados Unidos em termos demográficos, e só outorga 24 delegados (são requeridos 1.991 para ganhar a nominação), mas costuma ter um impacto político exagerado a cada quatro anos por ser o segundo concurso para determinação da nominação do candidato dos dois partidos nas convenções nacionais (no caso dos republicanos, já se sabe que Donald Trump, que ganhou aqui hoje, será o nominado). Nenhum democrata ganhou a nominação presidencial de seu partido sem acabar em primeiro ou segundo lugar em New Hampshire.

New Hampshire, depois de Iowa –  onde a contagem final ainda está em disputa – costumam ser as primeiras provas para a “viabilidade” dos candidatos, e para reduzir o número de aspirantes. Hoje se retiraram dois mais, Andrew Yang e o senador Michael Bennett, deixando nove na disputa. 

A batalha eleitoral continua em Nevada no próximo 22 de fevereiro, o primeiro estado onde há um amplo setor de eleitores latinos, e na Carolina do Sul no dia 29, seguido pela chamada Super Terça-feira, em 3 de março, quando 13 estados realizam suas eleições primárias e se determina aproximadamente um terço dos delegados para a convenção nacional. 

Biden era apresentado pelo “establishment” como o candidato mais “elegível”. Mas agora que está sofrendo derrotas o tabuleiro está em dúvida. Biden está apostando quase tudo na Carolina do Sul e em alguns estados chaves da Super Terça-feira para resgatar sua campanha.  

Mas será a partir destes próximos concursos quando também figurará por primeiro vez o ex-prefeito de Nova York e multimilionário Michael Bloomberg, que em troca de dezenas de milhões em gastos publicitários já duplicou seu nível de apoio nas pesquisas – em parte por um provável traslado de simpatizantes de Biden para a sua causa. Bloomberg fez seu cálculo para ingressar na última hora nesta competição justamente por avaliar que Biden não estava respondendo às expectativas. E mais ainda, Bloomberg tem dito que está disposto a investir mais um bilhão de dólares de sua fortuna – é seu único doador – em sua campanha e para derrotar Trump. 

Ao mesmo tempo, a campanha de Sanders, a qual não deixa de assombrar, e melhor assustar, a cúpula política e econômica do país, surpreendeu esta semana com a notícia de que o senador democrático socialista, já está por primeira vez em primeiro lugar em algumas enquetes nacionais. 

Diante disso, alguns já jogam com cenários onde, se as tendências continuarem, o candidato do 99% cuja mensagem gira sobre a necessidade de uma “revolução política” para resgatar esta democracia do controle dos mais ricos, poderia disputar a coroa do partido contra um dos representantes do 1% que, alguns acusam, está literalmente tentando comprar a indicação.  

De fato, um dos temas centrais da campanha de Sanders é “De qual lado você está?’, em parte para ressaltar essas diferenças, e sua agenda progressista continua gerando um dos movimento eleitorais de base mais dinâmicos em tempos recentes. 

Vale recordar que Iowa e New Hampshire representam menos de 2% dos delegados em jogo, faltam 98%. Com a competição prosseguindo para o oeste e outros estados com muito mais diversidade (afro estadunidenses e latinos), o voto jovem, e bases mais liberais, alguns prognosticam maior força para Sanders diante de seus opositores.  

Enquanto isso, hoje, em Washington, a equipe de quatro fiscais federais que lideraram o caso contra Roger Stone, amigo e conselheiro de Trump, renunciaram ao caso em aparente protesto contra a intervenção política de Trump e o procurador-geral William Barr para reduzir a pena que recomendava, algo que os legisladores democratas prometeram investigar. O Departamento de Justiça, supostamente, atua sem intervenção política em casos criminais.

*David Brooks correspondente de La Jornada em Nova York

**La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

***Tradução: Beatriz Cannabrava

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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