NULL
NULL
Por Michel Chossudovsky
Por mais que Trump tenha montado um gabinete de direita, de “reacionários” que em grande medida correspondem à base do Partido Republicano, a “entente cordiale” do bipartidarismo norte-americano está em crise. Os poderosos interesses corporativos que apoiaram a candidatura Clinton permanecem ativos, decididos a impedir que Trump chegue à Casa Branca.
O capitalismo global absolutamente não é monolítico. O que está em cena são rivalidades fundamentais dentro do establishment dos EUA, marcado pelas disputas entre grupos empresariais rivais, cada um deles vitalmente interessado em controlar a próxima Casa Branca. Nesse sentido, Trump não está integralmente no bolso dos grupos de lobby. Como membro do establishment, Trump tem seus próprios patrocinadores. A política externa já divulgada de Trump, que inclui a promessa de reexaminar o relacionamento de Washington e Moscou, não se encaixa absolutamente nos interesses das grandes empresas que fornecem serviços e armas para a Defesa do país.
Por outro lado, Hillary recebe ordens de um grande bando de lobbies mantidos por grupos de empresas, entre os quais o establishment da Defesa, as petroleiras, os fundos hedge de Wall Street, etc. para não falar da Monsanto-Bayer, que contribuiu fartamente para sua campanha eleitoral.
Divisões dentro da mídia-empresa
Em linhas gerais, pode-se dizer que, apesar da persistente campanha jornalístico-midiática contra Trump, puxada por grandes empresas de notícias dos EUA (WP, NYT, LA Times, etc.) e por redes de TV, o presidente eleito tem o apoio de um grupo concorrente, controlado por Rupert Murdoch e que inclui The Wall Street Journal, Fox News e o New York Post.
Desnecessário dizer que os cidadãos norte-americanos são as vítimas sem voz e vez desse confronto entre facções capitalistas. Ambos, Trump e Clinton, servem aos interesses das elites, contra o desejo e as necessidades dos eleitores nos EUA. Por sua vez, uma muito significativa oposição de base contra a agenda de política social de direita racista de Trump foi “sequestrada” por um movimento de protesto arquitetado, financiado e controlado por poderosos interesses econômicos.
Propaganda
Está em curso uma operação atentamente coordenada. O golpe de propaganda que emana do governo agonizante de Obama e da facção pró-Clinton da grande mídia consiste em acusar Moscou de ter interferido na campanha eleitoral em favor de Donald Trump. A iniciativa é apoiada pelos grandes grupos de empresas e empresários lobistas (que incluem fornecedores da Defesa e as majors do petróleo) que estão por trás da agenda de Hillary, de política exterior de linha duríssima.
No auge da campanha eleitoral, Trump foi retratado na mídia-empresa dos EUA como “agente” do Kremlin, uma espécie de candidato da Manchúria (8/10/2016, The Atlantic).
O governo Obama chegou a acusar oficialmente a Rússia de tentar interferir nas eleições de 2016, inclusive de ter hackeado os computadores do Comitê Nacional Democrata e outras organizações políticas.
A denúncia, apresentada pelo Gabinete do Diretor da Inteligência Nacional e pelo Departamento de Segurança Nacional [ing. Office of the Director of National Intelligence e Department of Homeland Security], veio num momento em que cresciam as pressões dentro do governo e vinda de deputados e senadores, no sentido de Moscou ser acusada e declarada culpada de ações que aparentemente visariam a semear a discórdia em torno da eleição.
“A Comunidade de Inteligência dos EUA não tem dúvidas de que o governo russo dirigiu o recente assalto contra e-mails de pessoas e instituições dos EUA, inclusive organizações políticas dos EUA” – dizia uma declaração conjunta das duas agências. “Esses assaltos e invasões visavam a interferir no processo eleitoral nos EUA (7/10/2016, Washington Post).
Ex-secretário da Defesa e diretor da CIA Leo Panetta declarou que Trump é uma ameaça à Segurança Nacional (1/11/2016, Vanity Fair)
Trump está “na cama com o inimigo”?
São acusações muito graves, supostamente apoiadas pela inteligência dos EUA que não pode ser apagada.
Serão esquecidas depois da posse de Trump como presidente dos EUA?
Nos primeiros dias depois da eleição de 8/11, a mídia moderou seu discurso na direção de ‘provar’ que Trump, como candidato manobrado pelos russos, estaria sob o domínio do mal. Mas mesmo assim continuou a acusar Moscou de ter interferido nas eleições nos EUA a favor de Trump, para não mencionar a campanha contra “notícias falsas” que a mídia independente estaria publicando nos EUA, supostamente em apoio a Trump.
O projeto subjacente para impedir a presidência de Trump consiste de vários processos inter-relacionados e coordenados, dentre os quais:
– campanha de calúnia e difamação contra Trump;
– movimentos e manifestações de rua arquitetados contra Trump em todo o país, coordenados com cobertura pelos jornais e petições supostamente legais apresentadas ao Judiciário, com o objetivo de provocar distúrbios;
– recontagem de votos em três estados nos quais a votação é tradicionalmente apertada (chamados swing states, lit. “estados que balançam”);
– aprovação do projeto da Câmara de Representantes “Lei de Autorização da Inteligência para o Ano Fiscal de 2017” [H.R 6393: Intelligence Authorization Act for Fiscal Year 2017], que inclui uma cláusula dirigida especificadamente contra a chamada “mídia independente pró-Moscou”, em resposta à suposta interferência de Moscou nas eleições nos EUA em apoio a Donald Trump;
– ação na votação do Colégio Eleitoral, dia 19/12, que inclui um processo de cooptação de Super Eleitores Republicanos, com vistas a disparar a eleição de Hillary Clinton à Casa Branca;
– se o Colégio Eleitoral não impedir a eleição de Trump, continuarão os protestos de rua e os ataques de calúnia e difamação pelos veículos da mídia-empresa que se opõe a Trump, mesmo depois da posse do novo presidente;
– considera-se inclusive algum tipo de ação que interrompa a Cerimônia de Posse do Presidente, dia 20/1/2017;
– considera-se também a possibilidade de um procedimento de impeachment do presidente eleito, no primeiro ano de mandato, se chegar à Casa Branca.
Toda essa iniciativa depende agora de implantar na opinião pública a ideia de que Moscou teria interferido nas eleições nos EUA; que para isso teria hackeado computadores do Comitê Central Democrata, CCD. Verdade é que – além de Moscou nada ter tido a ver com o hacking, e-mails do CCD distribuídos por Wikileaks revelaram extensa fraude na condução das primárias dos Democratas, com o CCD ostensivamente contra Bernie Sanders e a favor da candidata Clinton.
Essa ação midiática de propaganda para implantar na opinião pública a ideia de que Trump seria fantoche russo, emana, quase com certeza, de setores da inteligência dos EUA que apoiam o grupo Clinton. O que está em jogo é o conflito entre duas facções concorrentes dentro do establishment industrial-comercial-militar.
As empresas que produzem informação de massa e seus veículos têm papel crucial nesse plano de propaganda. Elas garantem cobertura pró-Hillary para a recontagem dos votos, intimidam os Super Eleitores Republicanos, fazendo-os crer que, para defenderem a democracia, não podem votar em candidato ligado ao Kremlin. A loucura é total. Essa campanha ‘jornalística’ implica que uma inexistente relação de Trump com Moscou seria ‘suficientemente real’ (?!) para condenar Trump em crime de traição.
E Lady Gaga aplaude.
Políticas sujas
Ao mesmo tempo, “Traição” já é ‘tendência’ nas mídias sociais e a senadora Barbara Boxers da Califórnia lançou uma petição em Change.org, uma das organizações envolvidas na arquitetura dos movimentos de protesto.
Todas são alegações e acusações seríssimas, que levarão a um dos seguintes resultados possíveis:
A campanha de propaganda associada às demais ações que compõem essa operação (recontagem dos votos, Colégio Eleitoral, movimentos de protesto de rua, petições anti-Trump) é usada como meio para desacreditar Trump e o plano que deve impedir que ele chegue à Casa Branca.
Por mais que a recontagem dificilmente produza resultado diferente do já sabido, a gangue de Hillary trabalha para mudar o voto dos Super Eleitores.
Se essa estratégia fracassar e se o colégio eleitoral confirmar a eleição de Trump, prosseguirá a campanha para pintá-lo como instrumento da Rússia dentro do governo dos EUA?
Ou a campanha é enfrentada, rejeitada e esquecida, ou o presidente será alvo de pedido de impeachment por traição.
Em outras palavras, a facção dominante da elite que apoia Hillary trabalha para ou interromper o processo de posse de Donald Trump antes do dia 20/1 ou, se ele tomar posse, iniciará depois um procedimento de impeachment.
Simultaneamente e na mesma direção está em andamento também um movimento de protesto arquitetado longe das ruas contra Trump, ativo desde 8/11. De fato, começou na noite de 8/11, antes de anunciados os resultados eleitorais. Os organizadores desse movimento agem a serviço de poderosos interesses de parte da elite. As pessoas são induzidas a erro: os protestos nada têm a ver com qualquer programa legítimo de alguma parte da direita ou de norte-americanos que se opõem à agenda racista de direita de Trump.
Os protestos assemelham-se muito a uma ‘revolução colorida’ dentro dos EUA favorável à entrega da presidência a Hillary. O complexo jornalístico-empresarial-propaganda também garante cobertura enviesada dos protestos nada ‘espontâneos’ tanto dentro dos EUA, como fora (no Iraque, na Síria, na Líbia…). Organizadores e recrutadores servem a interesses empresariais consideráveis, dentre os quais os de fornecedores da Defesa que apostaram pesadamente a favor da agenda belicista de Hillary para a política externa.
A palavra-senha é “Disrupt” [quebre, perturbe]. O objetivo é “Disrupt”
E o website Disruptj20.org convoca para que todos quebrem e perturbem a cerimônia de posse de Donald Trump dia 20/1/2017:
#DisruptJ20 é apoiado pelo trabalho do DC Welcoming Committee, um coletivo de ativistas locais LGBTs desempregados muito experientes, que trabalham com apoio nacional. Estão construindo uma rede indispensável para promover protestos de massa em todo o país e impedir a realização da cerimônia de posse de Donald Trump; além de ação direta muito fortemente disseminada para a mesma finalidade. Oferecemos serviços de hospedagem, alimentação e até assistência de advogados a todos que desejem unir-se a nós.
Michael Moore apoia.
A votação no Colégio Eleitoral, dia 19 de dezembro é crucial:
Hillary precisará de 38 votos dos Super Eleitores Republicanos para vencer. O Partido Democrata e seus advogados já preparam um ‘procedimento’ com vistas a cooptar os Super Eleitores.
Um grupo de Super Eleitores do Colégio Eleitoral construiu uma organização sem finalidades de lucro para financiar uma campanha para impedir que Donald Trump assuma a presidência.
A papelada registrada no Protocolo da Secretaria de Estado do Colorado cria um grupo “527”, que pode levantar doações ilimitadas de indivíduos, empresas e sindicatos para atividades políticas (30/11/2016, Denver Post).
Já circulam petições, planejam-se manifestações de protesto com vasta cobertura jornalística: a petição Change.org, “exige que os Super Eleitores do Colégio Eleitoral votem em Clinton dia 19/12, porque “Trump não é preparado para governar os EUA (…) a secretária Clinton VENCEU NOS VOTOS POPULARES e tem de ser presidente.”
Mesmo com tudo isso, grande parte do que está em planejamento permanece oculto. A imprensa comercial de notícias permanece muda.
Todos sabemos que tudo isso acontece num sistema político corrupto. As apostas são altíssimas.
Os Super Eleitores serão cooptados? Estão sendo subornados?
Alguns Democratas já declararam que aceitam romper com a tradição e votar contra Donald Trump quando o Colégio Eleitoral reunir-se dia 19/12, numa muito improvável tentativa de impedir que Trump chegue à Casa Branca.
Pelo menos meia dúzia de Super Eleitores Democratas preparam-se para agir como lobby sobre Super Eleitores de outros estados, numa tentativa para manter o Republicano fora da Casa Branca mas, mais significativamente, também para enfraquecer a legitimidade da instituição.
Os Super Eleitores, quase todos ex-apoiadores de Bernie Sanders do estado de Washington e do Colorado, trabalham para que outros Eleitores ignorem o juramento e votem contra Trump (22/11/2016, The Independent).
A indústria jornalística de notícias conclama o Colégio Eleitoral a impedir que Trump chegue à Casa Branca:
“Nós, como americanos, podemos usar muitos procedimentos consagrados em nosso sistema constitucional para impedir a posse de um homem que, desde a eleição, deu sobejas provas de que não está preparado para ser presidente dos EUA” (26/11/2016, Huffington Post).
No rumo de profundíssima crise da Constituição dos EUA?
É difícil predizer o que acontecerá: ambos os lados, a facção pró-Trump e a facção pró-Clinton estão acompanhando a votação no Colégio Eleitoral. O que se pode dizer com certeza é que a facção Clinton tem planos perfeitamente elaborados para tentar impedir que Trump assuma a Casa Branca. Conseguirão?
Seja qual for o resultado “antes” ou “depois” da Cerimônia do Juramento dia 20/1/2017, os EUA encaminham-se rumo a profundíssima crise da Constituição dos EUA.
Os dois candidatos são disfuncionais. Ambos, Trump e Clinton, podem ser objeto de processo de impeachment. Se Hillary chegar à Casa Branca, será assombrada desde o primeiro momento pela sua longa ficha corrida de incontáveis crimes, inclusive crimes de guerra, mas não só esses. Ela TAMBÉM, muito provavelmente sofrerá processo de impeachment.
Será que os EUA caminham na direção da implantação de lei marcial, com suspensão do governo constitucional?
Tradução: Vila Vudu
* Publicado originalmente por Global Research, Canadá