Dois dias depois de ocorrida a tragédia – como só se pode chamar o demolidor impacto de um míssil em um edifício multifamiliar na cidade ucraniana de Dnipró que, até a tarde desta segunda-feira (16) deixou um cruento balanço de pelo menos 40 mortos e dezenas de feridos, sem contar os numerosos desaparecidos que poderiam se encontrar debaixo dos escombros – as autoridades russas e ucranianas seguem culpando-se da morte dos civis.
“O exército russo não ataca moradias nem infraestruturas sociais, ataca alvos militares evidentes ou camuflados”, defendeu-se nesta segunda-feira Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin, e endossou a responsabilidade às forças antiaéreas da Ucrânia ao agregar: “Vocês mesmos – comentou aos jornalistas – viram que conclusão tiraram alguns representantes de Kiev, que sustentam que, de fato, esta tragédia foi consequência da ação de mísseis antiaéreos”.
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Peskov se referia ao dito por Aleksei Arestovich, conselheiro da Presidência ucraniana, o qual após presumir que as forças de defesa antiaérea puderam ter derrubado um míssil russo e… este teria caído sobre o edifício, pouco depois se desculpou por dar uma informação inexata devido a que – disse – estava exausto, sem dormir nem ter tempo para comprovar a veracidade da notícia.
No entanto, com só essa frase hipotética, em uma entrevista por Internet, Arestovich provocou, no interior da Ucrânia, um escândalo que obrigou ao Porta-voz das forças de defesa antiaérea do país, Yuri Ignat, a participar da polêmica ao revelar que seu país não tem recursos técnicos para derrubar o tipo de míssil que impactou na cidade de Dnipró, identificado já como X-22.
Governo da Ucrânia – Twitter
Apesar da possível responsabilidade confirmada pela Ucrânia, versões extraoficiais endossam toda a culpa à Rússia
Esta confissão de Ignat – e nos onze meses desde que começou a guerra, segundo cálculos dos especialistas que levam uma contagem aproximada, a Rússia lançou na Ucrânia 210 mísseis X-22 – não influiu na opinião de Peskov nem na dos comentaristas habituais da televisão russa que informaram, no passado fim de semana, responsabilizando o exército ucraniano das mortes dos seus próprios civis, reservando para a Rússia – isso sim – a prerrogativa de bombardear qualquer objetivo no território de outro país.
De acordo com o que dão a entender Peskov e a televisão russa, o míssil se dirigia para a central termoelétrica de Pridnieprovsk quando o interceptaram e isso causou a tragédia ao cair sobre o edifício os fragmentos do artefato e sua carga explosiva.
Circulam outras versões extraoficiais que endossam toda a culpa à Rússia ao sugerir que, na realidade, a destruição desse segmento multifamiliar em Dnipró não se deveu a X-22, mas sim a outro tipo de míssil.
Especula-se que pode se tratar de um foguete do sistema S-300, que embora se utilize sobretudo para defesa antiaérea, pode ser usado contra objetivos em terra. Se bem que a pontaria deixa muito a desejar. Aqueles que acreditam nisto asseguram que a Rússia tem poucos mísseis X-22, de alta precisão, e muitos S-300 armazenados e de produção soviética.
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E no outro extremo, as autoridades ucranianas insistem que não podem derrubar mísseis como o X-22, o que para outros analistas russos é um simples pretexto para pressionar o Ocidente a proporcionar sistemas modernos de defesa antiaérea Patriot PAC-3 ou SAMP-T.
Até agora, a único questão evidente – desde que o general Valery Gerasimov, após substituir Serguei Surovikin, se encarregou das tropas russas na Ucrânia –, é que os ataques com mísseis – já não tão massivos como antes e com a novidade de que alguns foguetes vão “vazios” – buscam esgotar de todas as formas os recursos de defesa ucranianos que têm que derrubar todos os artefatos, levem ou não carga explosiva.
Juan Pablo Duch | Correspondente do La Jornada em Moscou.
Tradução: Beatriz Cannabrava.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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