Pesquisar
Pesquisar

Acusação de influência russa em atos pró-Palestina demonstra delírio da política nos EUA

A cumplicidade da cúpula política bipartidária, com algumas exceções, no crime de guerra contra o povo palestino é verdadeiramente incrível.
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Anunciaram que já tinham nos livrado da insanidade estadunidense a partir da derrota de Trump, que marcou um convite a um retorno à “normalidade” e a volta dos “adultos” ao comando. Porém, o resultado foi que só iniciaram uma insanidade maior e bipartidária, onde os internos tomaram o controle, convencidos de que estão sãos.

A cumplicidade da cúpula política bipartidária, com algumas exceções, no crime de guerra contra o povo palestino – enquanto justificam tudo isso com um menu de palavras, incluindo “paz” e “defesa” – é verdadeiramente incrível. Este foi o marco do Dia da Lembrança do Holocausto. Para nutrir o delírio, a democrata e ex-presidente da Câmara Nancy Pelosi acusou, neste domingo (28), que o movimento pelo cessar-fogo nos Estados Unidos é promovido pela Rússia e que pedirá ao FBI para investigar se Putin o está financiando.

Assista na TV Diálogos do Sul

Enquanto isso, o presidente democrata, Joe Biden, decide participar do concurso da direita de quem pode ser “mais duro” contra os migrantes que se atrevem a passar pela fronteira. Diz que, se lhe dessem autoridade, “fecharia a fronteira agora mesmo” para arrumar tudo isso.

Seu competidor, Trump, continua ganhando neste jogo onde as peças são milhares de famílias migrantes, reiterando que não só fechara a fronteira com seu muro, como também conduzirá deportações massivas de imigrantes como “nunca visto”. Adverte também que, se eleito, haverá abordagens policiais massivas contra imigrantes e proibições sobre a entrada de muçulmanos de vários países.

EUA: primárias apontam disputa Biden/Trump, mas 59% não querem nem um, nem outro

O ex-presidente continua declarando que todo ataque e crítica contra ele provêm de um governo controlado por “comunistas”, “socialistas” e “anarquistas”. Afirma que haverá uma limpeza profunda do governo de todos que não foram leais (a ele), e que os julgamentos por seus gravíssimos delitos, incluindo uma tentativa de golpe de Estado e até violação sexual, são politicamente motivados.

Invariavelmente, Trump afirma que um ataque contra ele “é um ataque contra a América”, além de advertir publicamente que, se ganhar novamente a Casa Branca, as Forças Armadas serão usadas para suprimir dissidências e protestos contra ele, e haverá violência política, outra vez, se perder.

Continua após a imagem

A cumplicidade da cúpula política bipartidária, com algumas exceções, no crime de guerra contra o povo palestino é verdadeiramente incrível.

Foto: Flickr
Enquanto políticos republicanos e democratas falam de paz, abrem frentes de guerra não só contra a Rússia, mas também China, Irã e Cuba




Controle de armas e guerras

Ao mesmo tempo, enquanto a Casa Branca realizou na semana passada um evento focado sobre a falta de controle das armas de fogo, ressaltando que as balas são a causa número um das mortes de crianças nos Estados Unidos, o país continua sendo o maior provedor de armas no mundo, com mais de 40% do mercado global.

Enquanto os políticos de ambos os partidos falam de paz, abrem frentes de guerra não só contra a Rússia, mas também China, Irã, Cuba, e até ameaçam intervenções militares no México e em qualquer outro país que não se submeta às diretrizes de Washington.

Assista na TV Diálogos do Sul

Enquanto falam de direitos humanos e da lei internacional, são cúmplices de um genocídio e realizam a execução estatal da pena de morte – agora com nitrogênio – denunciado pela ONU como um castigo cruel.


Restrição de direitos

Enquanto falam de direitos civis e democracia, em mais de 14 estados há novas leis para limitar o voto, e a direita tenta promover medidas para suprimir o direito pleno ao sufrágio em 47 estados; no último ciclo escolar, foram detectados quase 700 tentativas de censura contra um total de 1.915 livros nas bibliotecas e escolas públicas do país.

Em 24 dos 50 estados, foram promulgadas leis anulando ou severamente limitando, e criminalizando, o direito fundamental das mulheres ao controle de seus próprios corpos (em três estão suspensas essas leis por ações judiciais). Isso, sem falar da situação dos direitos civis e econômicos dos afro-estadunidenses, latinos e indígenas do país.

Biden, Blinken, Sullivan, McGurk: o grupo da Casa Branca em busca da 3ª Guerra Mundial

Milhões se recusam a aceitar as condições da insanidade estadunidense, e não deixam que os encarregados continuem adiante sem atos massivos de dissidência, desobediência civil e resistência. É claro que são qualificados de “loucos” pelos encarregados.

Será este o ano em que estes “loucos lúcidos” vão conseguir começar a frear os alucinados do poder e abrir as saídas de emergência?

Bônus Musical

The Animals – We Gotta Get Out of this Place

David Brooks | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

Assista na TV Diálogos do Sul



As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

LEIA tAMBÉM

Cidades “santuário” para imigrantes se preparam para barrar ofensivas de Trump
Cidades “santuário” para imigrantes se preparam para barrar ofensivas de Trump
Putin Mais do que trégua, precisamos de uma paz duradoura (1)
Putin: Mais do que trégua, precisamos de uma paz duradoura
Ucrânia teria prometido US$ 100 mil e passaporte europeu a autor de atentado na Rússia
Ucrânia teria prometido US$ 100 mil e passaporte europeu a autor de atentado na Rússia
A esperança das crianças em Gaza A guerra tirou tudo de nós, mas nunca vai tirar nosso sonho
A esperança das crianças em Gaza: "A guerra tirou tudo de nós, mas nunca vai tirar nosso sonho"