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"Tenho que inventar coisas para EUA manterem Venezuela na cabeça’" diz embaixador

Entrevista do chanceler colombiano em Washington revelando as estratégias da Colômbia para interferir na Venezuela causa turbulência em Bogotá
Redação Sputnik Brasil
Sputnik Brasil
Rio de Janeiro (RJ)

Tradução:

O embaixador da Colômbia em Washington foi chamado de volta para sua capital, a fim de prestar esclarecimentos sobre áudio de 24 minutos, publicado pelo jornal colombiano Publimetro. No áudio o embaixador da Colômbia em Washington, Francisco Santos, conversa com a recém-nomeada ministra das Relações Exteriores da Colômbia, Claudia Blum, sobre a Venezuela.

O embaixador diz que “Trump não vai entrar na Venezuela” e que, se Nicolás Maduro não se retirar do poder “a nossa vida vai ficar impossível”.

“Tenho que inventar coisas para que eles [os EUA] mantenham a Venezuela na cabeça”, disse, resumindo: “Essa é a tarefa que eu tenho em relação à Venezuela”.

Para manter o assunto Venezuela no topo da agenda dos estadunidenses, o embaixador revelou que iria organizar uma viagem de congressistas dos EUA à Colômbia, para que eles “vejam as fronteiras, vejam drogas”.

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“Vamos fazer isso para que Washington não perca de vista a importância da Venezuela”, explicou, reclamando do déficit de atenção dos norte-americanos: “Aqui não se tem memória. Ficam incomodados com algo por dez minutos, depois passam para outro tema”.

Entrevista do chanceler colombiano em Washington revelando as estratégias da Colômbia para interferir na Venezuela causa turbulência em Bogotá

Sputnik / Mikhail Alaeddin
Militares venezuelanos fazem cordão de isolamento na ponte Simón Bolívar, que conecta a Venezuela com a Colômbia

Apoio a Juan Guaidó

O embaixador relata à sua nova chefe que “a história do Guaidó está parada” e expressou esperança de “que isso volte a se mover”.

“É importantíssimo construir uma coisa estratégica com a Venezuela a partir do nosso trabalho, com as embaixadas que o governo [sic] de Guaidó já está montando. Lá tem gente que eu conheço, eu trabalho muito em conjunto e te ajudo em tudo que você precisar”, revelou o embaixador colombiano.

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“O Departamento de Estado está destruído”

O embaixador se queixa reiteradamente da falta de coordenação, imprevisibilidade e desmonte de alguns dos principais órgãos norte-americanos de condução da política externa. Segundo ele, o Departamento de Estado dos EUA, órgão equivalente ao Itamaraty brasileiro, estaria “destruído” sob Donald Trump.

“O Departamento de Estado, que era importantíssimo, está destruído, não existe”, disse, acrescentando que a única figura de peso na instituição é o secretário Mike Pompeo.

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Santos nota a imprevisibilidade da política norte-americana, usando como exemplo a ocasião na qual foi discutida a possibilidade de invocar o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR) para justificar uma intervenção militar na Venezuela.

“Na questão do TIAR, o Departamento de Estado queria, a Casa Branca não. Eu não sei em que momento a política da Casa Branca foi modificada. Mas aqui [nos EUA], de qualquer forma, eles não conseguem entrar em acordo”, lamentou.

Estratégias de intervenção na Venezuela

A futura ministra colombiana considerou algumas maneiras de interferir na política venezuelana, com o objetivo de desestabilizar o governo:

“Pachito [apelido carinhoso do embaixador Francisco Santos], me ajude a pensar. A solução não é um golpe militar, porque os militares não vão tirar ele [Maduro] do poder. Os Estados Unidos tirarem e, no final, a gente não saber no que vai dar, também não é uma opção”, disse a futura chanceler colombiana.

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Nesse momento, o embaixador responde dizendo que “A CIA não está se metendo. A CIA está pffff…”, disse, sugerindo que a agência de inteligência norte-americana tem pouco interesse pela questão venezuelana.

“A única opção que vejo é fazer ações encobertas lá dentro [da Venezuela], para fazer ruído e apoiar a oposição que está muito isolada”, disse o embaixador.

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“Muito isolada, desgastada!”, concorda a ministra, que lembra com pesar do “fiasco total” da operação que tentou enviar caminhões com “ajuda humanitária” da Colômbia para a Venezuela, em fevereiro do ano passado. Na ocasião, Nicolás Maduro denunciou o comboio como uma estratégia dos EUA para “justificar uma intervenção estrangeira”.

“Então, é preciso pensar em uma estratégia, não sei qual será. Conversei com […] e eles me disseram: ‘Claudia, a única coisa é diálogo, mas um diálogo em que todos se encaixem'”, disse Blum.

“Vou mentir para a chanceler?”

O embaixador foi chamado de volta para Bogotá pelo presidente da Colômbia, Iván Duque, para prestar esclarecimentos. Em entrevista à W Radio, o embaixador lembrou que a conversa se deu em âmbito “privado”.

“O que me preocupa é que o áudio está perfeitamente audível, isso quer dizer que foi gravado do meu telefone”, assegurou.

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Santos também conta que ele e a nova chanceler estavam em um local reservado no hotel Mandarin de Washington: “Estávamos sozinhos”.

O embaixador justificou as suas declarações, notando o objetivo da conversava com a sua chefe, nesse caso a chanceler da Colômbia, era descrever o estado das relações entre os EUA e a Colômbia:

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“Vou mentir para a chanceler? Eu não sou uma pessoa de dizer mentiras, é uma pena, mas eu tenho que dizer-lhe a verdade”, declarou.

Quando questionado sobre a possibilidade de renunciar ao posto, Santos afirmou que não o faria, lembrando que a decisão cabe ao presidente da Colômbia.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
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