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Opositores de Xiomara Castro tentam golpe para controlar Congresso em Honduras

Projeto político da presidente recém eleita, construído com apoio dos movimentos sociais, afeta interesses de grupos neoliberais e oligarquias do país
Danay Galletti Hernández
Prensa Latina
Tegucigalpa

Tradução:

Segundo analistas entrevistados pela Prensa Latina, uma vez conhecidos os resultados das eleições gerais de 28 de novembro, pelo menos vinte parlamentares eleitos da organização política de esquerda não reconheceram o acordo assinado com membros da aliança de oposição.

O Acordo Bicentenário, assinado em outubro passado entre os partidos Libertad y Refundación (Libre), Salvador de Honduras (PSH) e Innovación y Unidad Social Demócrata (PINU), estabeleceu que Salvador Nasralla renunciaria a suas aspirações presidenciais e apoiaria a candidatura de Xiomara Castro.

Com Xiomara Castro, Honduras renasce após anos de violações, humilhação e violência institucional

Em troca, a candidata, uma vez vencida as eleições, concederia ao PSH a eleição para o mais alto cargo no Congresso Nacional para o período 2022-2026, um pacto que foi bloqueado após a moção apresentada por Beatriz Valle durante a primeira sessão da legislatura em 21 de janeiro, em apoio a Jorge Cálix.

“Eles traíram um projeto político e de reconstrução, nascido da base e concebido a partir da voz dos próprios movimentos sociais. Castro tem sido transparente e ética ao cumprir sua palavra, daí o juramento de Luis Redondo neste domingo”, disse o analista político Luis Méndez ao Prensa Latina.

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Sob estes argumentos, 18 deputados liberais foram expulsos de suas fileiras após expressarem seu apoio à Cálix, que também foi ratificada pelos 44 representantes do Partido Nacional, 15 do Partido Liberal e um do Partido Anticorrupção, em uma sessão paralela organizada no clube Bosques de Zambrano, em Tegucigalpa.

“Estes eventos não são espontâneos, nem são um caso de última hora. O grupo pró-governamental e os grupos econômicos, presumivelmente afetados pela possível revogação das leis que lhes são benéficas, estabeleceram um pacto para o controle do Congresso”, revelou o educador acadêmico e popular.

Da sede parlamentar, assumida na noite de sábado 22 por apoiadores da Libre, 96 proprietários e substitutos adotaram a moção de Luis Redondo como presidente, Hugo Noé como vice-presidente e Carlos Zelaya como secretário, posições reconhecidas por Castro em seu perfil no Twitter.

Méndez aludiu à mobilização dos cidadãos e seu papel de liderança em uma vigília realizada em razão da Câmara contra o crime organizado, a corrupção e as empresas de tráfico de drogas que representam o atual presidente Juan Orlando Hernández.

“Cálix tornou-se presidente do Congresso com o apoio de todos os deputados nacionalistas e não com a maioria dos deputados de seu partido anterior. Até se falou que alguns deputados da Libre receberam três milhões de lempiras e um carro blindado para seu voto”, disse o especialista René Hernández ao Prensa Latina.

Projeto político da presidente recém eleita, construído com apoio dos movimentos sociais, afeta interesses de grupos neoliberais e oligarquias do país

Reprodução/Twitter
Xiomara Castro recebeu propostas de movimentos sociais, povos indígenas, sindicatos, mulheres, comunidade LGTBIQ+, jovens e migrantes

Golpe parlamentar?

Para Giorgio Trucchi, jornalista italiano na América Central e analista político, a aliança entre Libre, PSH e PINU resultou em mais de 1,7 milhões de votos para Castro, o maior número de votos na história recente de Honduras, e demonstrou a vontade popular de pôr fim aos governos corruptos.

Em sua opinião, os cidadãos, protegidos pelo caminho democrático, também exerceram seu direito de voto contra os chamados poderes de facto, que incluem grupos econômicos e grandes famílias por trás de decisões políticas, controle do país e a promoção de um modelo neoliberal profundamente extrativista.

Chegada de Xiomara Castro à presidência de Honduras faz parte da nova onda da esquerda latino-americana

Após vencer a eleição, Xiomara Castro criou várias comissões encarregadas da entrega do poder, das secretarias e ministérios, e de receber as propostas e demandas dos movimentos sociais, povos indígenas, sindicatos, mulheres, comunidade LGTBIQ+, jovens, migrantes, entre outros.

A análise nessas mesas de trabalho também incluiu o estudo da parte legal para aprovação, decretos legislativos e presidenciais e a modificação ou revogação de leis no Congresso, medidas que irão afetar os interesses dos grupos hegemônicos.

“O que aconteceu no hemiciclo hondurenho não deve nos surpreender”, disse Trucchi ao Prensa Latina, pois representa “a busca de formas de evitar a perda de poder comprando consciências e votos e, consequentemente, traindo seu partido e seus eleitores”.

O analista lembrou os argumentos dos 18 deputados em apoio a Cálix e Beatriz Valle, protagonistas da tentativa de golpe parlamentar, que justificaram seu comportamento com suposto apoio a Castro no futuro, mas, na prática, “é mentira”.

Seu objetivo, ele reconheceu, é evitar mudanças reais, democratização e refundação em Honduras, e impedir que os interesses das esferas de poder responsáveis pela destruição do território centro-americano sejam derrubados, e constitui uma estratégia de contenção do plano de governo do presidente eleito.

As reações da Polícia Nacional e das Forças Armadas também continuam por ver, já que esta última foi basicamente cúmplice do golpe de Estado de 2009 contra Manuel Zelaya, com uma postura agressiva e repressiva em relação aos protestos sociais, embora ambas as autoridades já tenham expressado seu apoio a Xiomara Castro.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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