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ToggleO caso dos 43 normalistas de Ayotzinapa está a ponto de entrar em seu terceiro sexênio. Começou durante o governo de Enrique Peña Nieto, continuou sob a administração de Andrés Manuel López Obrador (AMLO), e agora é a vez de Claudia Sheinbaum esclarecer o desaparecimento e suposto assassinato dos estudantes.
Há 10 anos, em 26 de setembro de 2014, os normalistas tomaram vários ônibus como parte de uma manifestação; no entanto, no caminho foram interceptados por integrantes do crime organizado e policiais municipais do estado de Guerrero.
Depois desta fatídica noite, não se soube mais dos estudantes e o Governo de Peña Nieto iniciou uma investigação para esclarecer o que ocorrera em Iguala. Dois meses depois, em 7 de novembro de 2014, foi apresentada em conferência de imprensa a chamada “Verdade Histórica”.
Esta versão dos fatos foi apresentada pelo então procurador Jesús Murillo Karam, que afirmou que os 43 jovens tinham sido sequestrados, assassinados e seus corpos incinerados em um lixão de Cocula por membros do grupo Guerreiros Unidos em colaboração com policiais de Iguala. Os restos carbonizados teriam sido recolhidos em sacos pretos e posteriormente lançados no rio San Juan.
GIEI desmente a “Verdade Histórica”
No entanto, esta versão gerou muitas dúvidas e em 18 de novembro de 2014, o Governo de Peña Nieto aceitou a criação do Grupo Interdisciplinar de Especialistas Independentes (GIEI), composto por peritos e especialistas forenses de diversas partes do mundo.
Em 6 de setembro de 2015, o GIEI apresentou seu primeiro informe, em que indicou que não havia possibilidade de que os 43 normalistas tivessem sido incinerados no lixão de Cocula. Além disso, encontraram provas de que a cena do crime fora alterada e de que os detidos até o momento tinham sido torturados pelo então titular da Agência de Investigação Criminal (AIC), Tomás Zerón.
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Também surgiram as primeiras suspeitas sobre o papel do Exército mexicano nos acontecimentos, dado que se sabe que mantém uma vigilância estrita na zona, além de ter um de seus quartéis nas proximidades.
O desaparecimento dos estudantes e a forma como o governo tratou o caso provocaram uma série de protestos em todo o país e geraram uma forte crise de credibilidade na administração de Peña Nieto, que terminou seu mandato em 1º de dezembro de 2018 sem esclarecer o assunto, deixando uma versão pouco crível dos acontecimentos.
AMLO, Encinas e as novas revelações do caso Ayotzinapa
Com a chegada de López Obrador à Presidência da República, esperava-se que o caso tomasse um novo rumo, o que aconteceu com a nova investigação liderada por Alejandro Encinas, subsecretário de Direitos Humanos da Secretaria de Governo. No entanto, os pais dos normalistas afirmaram que ainda ocultava a verdadeira participação do Exército nos fatos.
Depois de um complicado início da Comissão para a Verdade e Acesso à Justiça no caso Ayotzinapa e o papel do procurador especial Omar Gómez Trejo, Encinas finalmente apresentou novas revelações do caso em 26 de agosto de 2022. Foi confirmado que os estudantes não foram incinerados no lixão, que o Exército soube do desaparecimento em tempo real e que um dos normalistas desaparecidos era um militar disfarçado.
Nesta fase da investigação, determinou-se que o Exército pode ter tido a oportunidade de resgatar alguns dos estudantes, mas decidiu não intervir, o que suscita dúvidas sobre sua responsabilidade, pelo menos no que se refere à negligência.
O papel do Exército
O soldado Julio César López Patolzin se inscrevera na Escola Normal Rural Isidro Burgos com a missão de relatar qualquer ação subversiva por parte dos jovens, conhecidos por seu espírito de luta e protesto social. Informes indicam que López Patolzin estava no ônibus Estrella de Oro 1531, um dos quatro que os normalistas tinham tomado no terminal Estrella Blanca em Iguala.
O soldado informou a seu superior, o tenente de Infantaria Francisco Macías Barbosa do 27° Batalhão de Infantaria, sobre os planos dos normalistas para a noite de 26 de setembro; portanto, o Exército estava ciente da situação. Segundo o informe da Comissão para a Verdade e Acesso à Justiça, o último informe de Julio César López Patolzin foi às 22h daquela fatídica noite.
Não obstante, apesar de que estava ativo no Exército Mexicano realizando ações de informante e de que seu superior hierárquico estava a par de que se encontrava no grupo de estudantes, este não realizou nenhuma ação de proteção a sua integridade, nem busca de sua pessoa, apesar de ser seu dever, como estabelece o Protocolo para Militares Desaparecidos que obriga os comandos a “implementar medidas contundentes, a fim de coadjuvar na busca, localização e se for o caso, resgate do pessoal militar desaparecido”, como se lê no informe.
O mesmo informe indica que um grupo dos normalistas ficou em poder de um coronel do Exército, que ordenou seu desaparecimento e assassinato. “Presume-se que seis dos estudantes estiveram com vida até quatro dias depois dos fatos e que foram executados e desaparecidos por ordens do coronel José Rodríguez Pérez”, revelou Encinas.
Pais dos 43 rompem com AMLO
Apesar destas revelações e da detenção de vários militares implicados no caso, os pais dos 43 normalistas de Ayotzinapa acusam o governo de não ter revelado o verdadeiro papel do Exército, já que é pouco provável que tenham sido simples observadores na noite de 26 de setembro e madrugada de 27.
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AMLO reuniu-se periodicamente com os pais das vítimas, pela primeira vez em 3 de dezembro de 2018, dois dias depois de assumir a Presidência da República. No entanto, a relação se deteriorou devido à lentidão das investigações, levando os pais a transformarem-se em opositores do governo de López Obrador.
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O ponto mais alto deste desencontro ocorreu em 6 de março, quando manifestantes e estudantes da Normal de Ayotzinapa derrubaram com uma caminhonete uma das portas do Palácio Nacional enquanto o presidente dava sua conferência matinal no interior.
López Obrador prometeu que não empreenderia ações legais contra os manifestantes, mas acusou o advogado Vidulfo Rosales de manipular os normalistas e os pais dos 43 para rejeitar qualquer avanço do Governo Federal, e pediu para reunir-se com eles sem a intervenção do defensor jurídico.
A vez de Sheinbaum
O caso atualmente está em uma espécie de pausa política, pois Alejandro Encinas, que conseguiu os maiores avanços na investigação, renunciou a seu cargo no Governo em outubro passado para unir-se à equipe da campanha presidencial de Claudia Sheinbaum.
Agora será a vez de Sheinbaum Pardo continuar esclarecendo o caso e atender as demandas dos pais dos 43 normalistas; estes expressaram sua desconfiança no Governo de López Obrador e afirmam não esperar novas revelações nesta administração.
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