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Balas de ódio: El Paso foi um atentado terrorista dos supremacistas brancos contra latinos

Os ataques de “ódio” se incrementaram com Trump; mais de 17 por cento no ano passado, segundo o FBI.
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Outro e outro e outro. Dois tiroteios massivos em menos de 24 horas perpetrados por jovens brancos estadunidenses; o saldo de ambos é de pelo menos 29 mortos e dezenas de feridos. Isto, depois de uma semana, outro jovem branco ter assassinado três a tiro e ferido 15 em Gilroy, California. Somam 253 tiroteios massivos (definidos como casos em que quatro ou mais pessoas são feridas ou morrem baleadas), e 32 matanças por armas de fogo (definido como três ou mais fatalidades em um só incidente) nos 216 dias deste ano.

Mas o ataque em El Paso, segundo informação preliminar, não é mais um tiroteio, mas sim um atentados terrorista contra latinos e imigrantes. Um “manifesto” que aparentemente deixou o atacante pouco antes de sair para realizar seu massacre afirma que estava fazendo isso “em resposta à invasão latina”.

O xerife do condado de El Paso. Richard Wiles, escreveu: “Este homem anglo veio até aqui para matar latinos. Estou indignado… e toda a nação deveria estar indignada. É hora de levantar-nos e fazer com que nossos representantes prestem contas em todos os níveis”.

As autoridades estão investigando o tiroteio como um ato de “terrorismo doméstico” e como um “crime de ódio”. Além do manifesto do acusado, que emprega o vocabulário de| Trump, aparentemente também encontraram expressões de admiração ao mandatário republicano, incluindo uma foto de armas colocadas para formar o sobrenome do presidente e o uso do hashtag sobre seu muro fronteiriço.

Os ataques de “ódio” se incrementaram com Trump; mais de 17 por cento no ano passado, segundo o FBI.

Lá Jornada
O xerife do condado de El Paso. Richard Wiles disse que “Este homem anglo veio até aqui para matar latinos"

Os ataques de “ódio” se incrementaram com Trump; mais de 17 por cento no ano passado, segundo o FBI. Os casos de terrorismo doméstico também (a agência informa que desde o 11 de setembro mais estadunidenses morreram em atentados terroristas domésticos do que em internacionais). Em El Paso se combinaram. Não é a primeira vez. O chefe do FBI, Christopher Wray, informou que realizou cerca de 100 detenções relacionadas com “terrorismo doméstico” este ano –cifra superior ao total de 2018– e a maioria deles estão vinculados à supremacia branca.

Crimes de ódio e atos de terrorismo doméstico não são novos, e têm ocorrido com presidentes democratas e |republicanos. Mas em tempos modernos nunca se havia responsabilizado um presidente de alimentá-los como agora.

Organizações de defesa de liberdades civis e direitos humanos, líderes de organizações latinas, afro-estadunidenses, muçulmanas e judaicas têm advertido repetidamente sobre as consequências da retórica presidencial. Este domingo, vários candidatos presidenciais acusaram diretamente a Trump (que estava gozando um fim de semana de golfe durante as mesmas 24 horas de horror em seu país), por fomentar a violência com sua retórica anti-imigrante e racista.

Na terça-feira passada, antes do incidente ocorrido em El Paso, Texas, a liderança da Catedral Nacional em Washington –a catedral de presidentes e de atos político-religiosos nacionais– emitiu uma surpreendente e inusitada reprovação a um mandatário. “Não se equivoquem, as palavras importam. E as palavras do senhor Trump são perigosas… Quando palabras violentas tão desumanizantes provêm do presidente dos Estados Unidos, são um toque de clarim, e um escudo, a supremacistas brancos que consideram as pessoas de cor como uma ‘infestação’ sub-humana nos Estados Unidos. Palavras violentas levam a ações violentas”. A declaração pergunta: Depois de dois anos das palavras e ações do presidente Trump, quando será que os estadunidenses vão dizer basta? Quando o silêncio é cumplicidade?  O que será necessário para que todos digamos, a uma voz, que já basta? A pergunta não é tanto sobre o sentido da decência do presidente, mas sim sobre o nosso”.

Talvez seja o momento indicado para que os governos, inclusive o do México, emitam alertas oficiais a seus cidadãos sobre o perigo de viajar ou residir nos Estados Unidos, dadas as condições violentas e hostis impulsionadas por um regime racista e xenófobo.

Ou será necessário contemplar preparativos para oferecer refúgio a estadunidenses que já temem por suas vidas sob este regime?

*Original de La Jornada. 5 de agosto de 2019.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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