Pesquisar
Pesquisar
Fotos: Reprodução Facebook

Crise diplomática entre Chile e Venezuela dificulta políticas migratórias e investigações

Afastamento começou com ataques de Piñera em 2019 e segue com Boric, que recentemente declarou que o estado de direito na Venezuela, comparado ao do Chile, está "deteriorado"
Aldo Anfossi
La Jornada
Santiago del Chile

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Desde que em fevereiro de 2019 o finado ex-presidente chileno Sebastián Piñera se apresentou em Cúcuta, Colômbia, para incentivar a derrubada do governo de Nicolás Maduro, as relações entre esse país e a Venezuela têm decaído e não param de piorar. Naquela visita à fronteira colombo-venezuelana, enganado pelo governante Iván Duque e que resultou em fracasso, Piñera proferiu palavras mencionando Maduro que acenderam o rancor.

“Não deixo de me perguntar: como uma pessoa pode ter tanta ambição, estar disposta a causar tanta dor e sofrimento ao seu povo, pelo afã de se agarrar a um poder que não lhe pertence?”

Leia também | “Trem de Aragua”: debate sobre suposta facção gera climática entre Chile e Venezuela

Essas e outras palavras ditas anteriormente – “vamos continuar recebendo venezuelanos” – levaram 500 mil venezuelanos a residir no Chile, dos quais cerca de 150 mil irregulares, a colônia estrangeira mais numerosa. Nessa diáspora ingressaram também pessoas apontadas como criminosos, estima-se que cerca de 20 mil, incluindo a máfia conhecida como “Trem de Aragua” – alguns dos quais foram condenados recentemente a 99 anos de prisão –, autora de uma série de execuções e sequestros.

A deterioração dos vínculos prejudica o Chile na sua intenção de expulsar indocumentados e delinquentes porque a Venezuela não colabora, por exemplo, em coordenar voos com repatriados. Em janeiro de 2024, o subsecretário do Interior, Manuel Monsalve, viajou a Caracas para assinar um acordo de colaboração que permitisse “seguir trabalhando para desarticular as organizações criminosas de caráter transnacional”.

O assassinato de Ronald Ojeda Moreno

Mas esses objetivos fracassaram na madrugada de 21 de fevereiro, quando quatro sujeitos, fingindo ser policiais, tiraram à força do seu apartamento em Santiago o dissidente e refugiado ex-tenente venezuelano Ronald Ojeda Moreno.

Dez dias depois, seu cadáver foi encontrado sob um bloco de cimento a 1,4 metros de profundidade, em uma área precária a oeste de Santiago; a polícia prendeu um menor de 17 anos, venezuelano, indocumentado no país, por sua conexão com o homicídio, e judicializava outros dois como autores materiais, que fugiram sorrateiramente para a Venezuela, sobre os quais o Ministério Público solicitou informações.

Leia também | Diálogos do Sul lança livro digital “Chile: Anatomia de um Golpe”; garanta já o seu

Em abril, o fiscal chileno responsável pelo caso, Héctor Barros, afirmou que o sequestro e posterior homicídio foram organizados a partir da Venezuela, pelo “Trem de Aragua”.

Reação venezuelana

A Venezuela reagiu por meio do seu fisca-geral Tarek William Saab, que denunciou a participação de agentes chilenos em “uma operação de bandeira falsa, um falso positivo (…) Trata-se de uma operação (…) que tinha como objetivo obscurecer as relações entre Chile e Venezuela”.

O crescente impasse envolve também o atual presidente chileno Gabriel Boric, que em várias ocasiões criticou o governo de Maduro, a mais recente há alguns dias, quando disse que “na Venezuela, as instituições, pelo menos no âmbito do estado de direito que temos no Chile, estão claramente deterioradas”.

Assine nossa newsletter e receba este e outros conteúdos direto no seu e-mail.

“Me parece absolutamente evidente, 7 milhões de venezuelanos deixaram sua pátria. Quem não quiser reconhecer isso, na verdade, não me parece que haja muito mais a discutir a esse respeito”, acrescentou.

De Caracas, a resposta veio pelo deputado Diosdado Cabello, que afirmou: “este bobo se mete com a Venezuela e é incapaz de governar seu próprio país. (…). Não tem nada a fazer, não tem trabalho em seu país, porque é um preguiçoso, respeite a Venezuela, não se meta nos assuntos internos da Venezuela”.

Recriminações vão e vêm, enquanto a controvérsia paralisa a investigação daquele assassinato.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Aldo Anfossi

LEIA tAMBÉM

Retrocesso inadmissível” especialistas rebatem Milei após classificação de PcDs como “idiotas”
“Retrocesso inadmissível”: especialistas rebatem Milei após classificação de PcDs como “idiotas”
Libertinagem econômica de Milei enriquece corporações enquanto argentinos passam fome
Libertinagem econômica de Milei enriquece corporações enquanto argentinos passam fome
CIA, terrorismo de estado e o rastro de crimes dos EUA em Porto Rico
CIA, terrorismo de estado e o rastro de crimes dos EUA em Porto Rico
Pacto pela Terra e pela Vida Colômbia assina acordo histórico em prol da reforma agrária (1)
"Pacto pela Terra e pela Vida": Colômbia assina acordo histórico em prol da reforma agrária