No meio de uma pandemia e contra as recomendações de especialistas em saúde pública e de alguns líderes democratas, na última terça-feira (7) se realizaram eleições primárias e locais em Wisconsin, o único estado com eleições programadas para este mês que decidiu não as postergar.
Em uma decisão que obviamente beneficia os republicanos já que o efeito da pandemia será suprimir o voto em geral, como aparentemente para a candidatura de Joe Biden, já que ele não se somou ao apelo de seu opositor Bernie Sanders, de as postergar. A primária e várias contendas locais foram realizadas com muitos acusando que foi uma decisão irresponsável que põe em risco a saúde dos cidadãos.
“As pessoas não deveriam ter que decidir entre votar ou ficar doente. Essa não é uma boa opção para ninguém em uma democracia”, declarou a presidenta da câmara baixa do Congresso e a democrata eleita mais poderosa do país, Nancy Pelosi.
A pugna em Wisconsin, estado chave no mapa eleitoral para ambos os partidos, foi decidida no último momento depois que o governador Tony Evers emitiu uma ordem executiva postergando a votação para junho. Mas líderes republicanos conseguiram que a suprema corte estatal emitisse uma decisão anulando a ordem do governador, e na segunda-feira a Suprema Corte, com sua maioria conservadora, votou 5 a 4 a favor do desejo dos republicanos.
TVN24
Winsconsin foi o único estado com eleições programadas para este mês que decidiu não as postergar.
Assim, nesta terça-feira aconteceu a primária com longas filas – em parte por manter a distância sadia – em certos lugares por falta de locais de votação. Por exemplo, na cidade principal de Milwaukee, bastião democrata do estado, só foram abertos cinco em lugar dos 180 que estavam programados.
Em alguns lugares, para os cidadãos do estado o ato de votar implicava uma decisão entre cumprir com um dever cívico e arriscar a saúde pública. Ao chegar aos locais, os trabalhadores e voluntários eleitorais davam as boas-vindas atrás de máscaras, luvas e plástico cobrindo a roupa.
E ainda mais, os resultados não serão conhecidos – por ordem de uma das decisões judiciais de última hora que provocaram um certo grau de caos no processo – antes de 13 de abril. O resultados, pelas condições em que se realizou essa votação, será questionado, se não for qualificado como ilegítimo.
A pandemia colocou de pernas pro ar todo o processo eleitoral deste ano, com vários estados postergando suas primárias enquanto há sérias dúvidas sobre a realização das convenções nacionais dos partidos no verão, e incerteza quanto à culminação do processo em novembro, sem falar de como o tema da pandemia definirá esta eleição.
De fato, as eleições presidenciais que ocuparam as primeiras páginas desapareceram como outra vítima da pandemia e o fechamento das atividades diárias em quase todo o país. De repente, os eventos de campanha pública, as viagens incessantes dos candidatos ao redor do país tiveram que desaparecer, e o foco nacional no momento não está em uma competição, mesmo que o tratamento desastroso dessa pandemia seja um resultado direto da última eleição.
David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York
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Tradução: Beatriz Cannabrava
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