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Entenda o conflito armado entre Armênios e Azeris, o maior já registrado em Cáucaso do Sul

Distante das estratégias de propaganda, população civil de ambos os lados é quem paga o preço das consequências consideradas como “danos colaterais”
Juan Pablo Duch
La Jornada
Moscou

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Armênios e azeris continuam se matando e tal situação permanecerá até que um dos dois países – à margem da disputa territorial pelo enclave de Nagorno-Karabakh – renuncie de reivindicar o que considera justo ou consiga uma vantagem significativa acerca da linha de delimitação entre ambos, imposta pelos mediadores internacionais para estabelecer um cessar fogo em 1994, após trinta mil mortes.

Nisto coincidem aqueles que acompanham de perto a controvérsia entre a Armênia e o Azerbaijão, que assinalam que apesar dos numerosos tiroteios, escaramuças e choques ocasionais – alguns de grande escala como os ocorridos em 2016 – nunca antes havia explodido um conflito armado como o atual no Cáucaso do Sul.

Distante das estratégias de propaganda, população civil de ambos os lados é quem paga o preço das consequências consideradas como “danos colaterais”

Al Jazzerah
Os bombardeios são indiscriminados nesta disputa pelo enclave de Nagorno-Karabakh

Rússia

A Rússia – na qualidade de copresidente do Grupo de Minsk que criou a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa para Mediação entre Armênios e Azeris em 1991 — exortou nesta segunda-feira, mais uma vez que as partes decretem um cessar fogo, como primeiro passo o estabelecimento de negociações sobre suas diferenças.

O porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov, afirmou que a Rússia – através de seu chanceler, Serguei Lavrov, em constante contato com seus colegas armênio e azeri – trata de convencer a Armênia e o Azerbaijão da necessidade de mostrar a máxima moderação e de renunciar ao uso do força, assim como de empreender passos que possam agravar a situação, que já tem estes países ao beira da guerra.

Segundo Arkady Dubnov e outros especialistas russos, o Kremlin não pode fazer mais do que o que tem feito. Por um lado, em vista de que o enclave montanhoso de Nagorno-Karabakh não é reconhecido internacionalmente como parte da Armênia, não pode invocar os tratados de assistência mútua em caso de agressão e, por outro, não está em condições de desconhecer esse requisito formal e de envolver-se em um novo e desgastante front de guerra, tendo como rival um país para o qual vende armas e, que para além disso, conta com a proteção da Turquia, membro da Aliança do Atlântico Norte.

O presidente turco Recep Tayyip Erdogan, principal aliado do mandatário do Azerbaijão, Ilham Aliyev, colocou mais lenha na fogueira ao voltar a exigir que a Armênia “abandone o território ocupado de Nagorno-Karabakh”, como condição para restabelecer a paz e a tranquilidade” na região.

Do outro lado, Yereván denunciou que Ancara está prestando ajuda a Baku através do fornecimento de equipamentos bélicos modernos, como por exemplo, de aviões F-16, e que até enviou à zona de combates um contingente de quatro mil mercenários que estavam na Síria. Uma grave acusação contestada pelos azeris que replicam afirmando que na verdade são os armênios que “importam” mercenários do país árabe. 

Em meio à habitual confusão que geram as narrativas das partes em guerra, espera-se que armênios e azeris seguirão reportando seus êxitos e as baixas causadas ao inimigo, sem que haja qualquer possibilidade de corroborar a veracidade das cifras. 

Neste cenário, o Azerbaijão diz que a ofensiva de seu exército deixou nas últimas 24 horas um saldo de 550 militares entre mortos e feridos, enquanto a Armênia desmente e diz que seu exército infligiu 200 baixas mortais aos inimigos.

Entretanto, a população civil de ambos os lados é quem, distante das estratégias de propaganda de seus governos, paga em vidas o preço das consequências consideradas como inevitáveis “danos colaterais” dos bombardeios indiscriminados nesta disputa pelo enclave de Nagorno-Karabakh.

Juan Pablo Duch, correspondente de La Jornada em Moscou

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Juan Pablo Duch Correspondente do La Jornada em Moscou.

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