À medida que o planeta vai esquentando, os incêndios em grande escala aumentam de frequência e duração, com uma potência incomum que chega a gerar tempestades de fogo, o que, segundo especialistas, criaria um ciclo de retroalimentação positivo muito perigoso que poderia torrar uma terra já seca.
Essas mesmas condições, que provocam incêndios devastadores, ar quente e seco, e vento intenso, são as que produzem tempestades de fogo, que no caso da Austrália começaram em setembro do ano passado com a perda de milhões de animais da fauna endêmica.
Um estudo acadêmico estima que Ultrapassa um bilhão o número de animais mortos por conta dos incêndios avassaladores que castigam a Austrália desde novembro do ano passado. A estimativa é de especialistas da universidade de Sydney.
O consenso científico é que os níveis crescentes de CO2 estão esquentando o planeta, e portanto a Austrália se tornou mais quente nas últimas décadas, o que continuará acontecendo.
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ncêndios em grande escala tem aumentado na Austrália
Portanto, a causa imediata é o clima, especificamente um fenômeno conhecido como dipolo do Oceano Índico ou, também, como El Niño Indiano, que tem propiciado um período de calor e seca forte.
Durante 2019, a Austrália estabeleceu duas vezes um novo recorde de temperatura. No dia 17 de dezembro, uma máxima média de 40,9 graus Celsius, e no dia seguinte 41,9, o que se soma a um prolongado período de seca, além de incêndios provocados de forma deliberada.
Atualmente no país, há 130 focos de incêndios ativos, contra os quais atuam cerca de três mil bombeiros no fortalecimento de barreiras topográficas, quem devem enfrentar o possível agravamento das condições meteorológicas com temperaturas acima dos 40 graus Celcius para as próximas horas.
Os incêndios estão ocorrendo em zonas da costa leste e sul, incluindo os arredores de Sidney e Adelaida, onde vive a maioria das pessoas.
As autoridades dos Serviços de Emergência consideram que os desdobramentos deste desastre continuam sendo perigosos, dinâmicos e voláteis e que poderiam se prolongar em um meio muito turbulento, pois as tempestades criam seu próprio campo de vento porque têm uma corrente crescente muito violenta.
Mike Flannigan, que ensina sobre os fogos em áreas silvestres na Universidade de Alberta, indicou que na medida em que se esquenta o ar sobre um incêndio, cria uma rajada de vento para cima, denominada corrente crescente, que canaliza a fumaça para a atmosfera como uma lareira.
Quando o ar sobre, se esfria, se condensa e forma nuvens, além do fato de que costumam produzir raios com carga positiva, que duram mais e dão tempo para que os impactos dos raios incendeiem o solo, explicou.
Agregou que as tempestades de fogo, chamadas de pirocumulonimbus, raramente produzem as precipitações tão desesperadamente necessárias para sufocar esses vastos incêndios.
Nesse sentido, disse que a Austrália sofre com as repercussões diretas da mudança climática. Desde 2005, o país tem vivido seus 10 anos mais quentes já registrados, e no último ano teve mais tempestades geradas pelo fogo do que nos últimos 20, fenômeno que continuará.
Os efeitos a longo prazo destas tempestades não estão totalmente claros; os cientistas propõem que são capazes de agravar as condições dos incêndios florestais, e consideram que a Austrália só acaba de começar sua temporada de incêndios florestais, que poderiam continuar durante meses.
Perante essa situação, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) já alertou que a fumaça causada pelos incêndios devastadores que afetam a Austrália, detectadas no outro lado do Pacífico na América do Sul, poderia dar a volta ao mundo nas condições atuais.
No entanto, já se alertou sobre a vulnerabilidade do Canadá a esse mesmo tipo de incêndios devastadores como resultado da mudança climática, o crescimento da população e a quantidade de combustível utilizado nas florestas para acabar com pragas, razões mais que suficientes para se preocupar.
Por sua vez, o presidente dos Estados Federados da Micronesia, David Panuelo, descreveu os incêndios florestais como uma crise humanitária, à qual a comunidade mundial deve responder, ao mesmo tempo em que os definiu como um fenômeno equivalente à queima de cada ilha dessa região, mais de 100 vezes cada uma.
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