O regime de Donald Trump propôs sua “solução” para a Venezuela para conseguir seu até agora fracassado objetivo de troca de governo no país sul-americano através de um governo de transição formado pela oposição e pelo partido no poder – mas sem o presidente Nicolás Maduro ou o líder opositor Juan Guaidó – que se encarregaria de levar o país a novas eleições presidenciais e legislativas em um prazo entre nove e doze meses.
Embora Trump afirme que “aceitaria” qualquer resultado de eleições “livres e imparciais” sob seu esquema, não ocultou que tem um favorito. “É razoável pensar que ele [Guaidó] se lançaria para a presidência”, indicou Elliot Abrams, o representante especial sobre Venezuela do regime Trump, “já que as pesquisas demonstram que é a figura política mais popular no país”. Por sua parte, o secretário de Estado Michael Pompeo declarou que “Maduro nunca governará a Venezuela”.
Não ficou claro se Maduro seria excluído de uma suposta eleição, já que, ao mesmo tempo, é “homem procurado” pelas autoridades estadunidenses depois de ser acusado de “narcoterrorismo” na semana passada pelo Departamento de Justiça com uma recompensa de 15 milhões de dólares por sua cabeça.
“Estados Unidos propôs uma rota para resolver a crise da Venezuela através de uma transição democrática pacífica”, declarou Pompeo, ao apresentar o que chamou de “marco” para estabelecer um governo “transitório amplamente aceito” dedicado a “administrar eleições presidenciais livres e imparciais”, processo que por sua vez levaria ao levantamento das sanções estadunidenses contra o país.
Foi curioso que no meio de uma crise de saúde que está obrigando o fechamento de grande parte dos Estados Unidos como resultado de graves falhas e falta de preparo do governo Trump, segundo quase todos os especialistas e a liderança democrata, Pompeo manifestou que agora há maior urgência para conseguir a solução política na Venezuela como resultado do “fracasso do regime de Maduro de preparar-se adequadamente para abordar a pandemia global do Covid-19”.
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A iniciativa é mais uma manobra de Trump para fingir que Washington quer uma saída
O Marco de Transição Democrática proposto pelo regime de Trump inclui o retorno de todos os integrantes da Assembleia Nacional, a liberação dos prisioneiros políticos, a expulsão de todas as forças de segurança estrangeiras, e a aprovação pela Assembleia Nacional de uma novo “Conselho de Estado” formado por dois postos para o partido no poder, dois para a coalisão de Guaidó, e esses quatro elegeriam um quinta elemento, que funcionaria como presidente interino.
O Conselho de Estado estabeleceria o calendário para eleições simultâneas para presidente e Assembleia Nacional. Depois de ratificadas as eleições, as sanções dos Estados Unidos seriam anuladas.
O plano também propõe que o alto mando militar permaneceria como está durante o período do governo de transição, da mesma forma que autoridades estatais e locais.
Abrams, o representante especial para Venezuela, que entrou como encarregado de “direitos humanos” no Departamento de Estado em 1981 encobrindo o massacre de El Mozote em El Salvador e que em 1991 foi obrigado a se declarar culpado de ocultar informação ao Congresso sobre o escândalo Irã-Contras nos anos 1980, entre outras façanhas diplomáticas, escreveu nesta terça-feira que o “marco” apresentado hoje é “uma rota para que a Venezuela saia de anos de repressão e conflito político”.
Abrams, em um artigo publicado no Wall Street Journal, informou que se propõe que tanto o ex-presidente Maduro como “o presidente interino” Guaidó se retirem para que os integrantes eleitos da Assembleia Nacional estabeleçam o Conselho de Estado como governo transitório; no entanto, diz que Guaidó permanecerá como presidente da Assembleia Nacional nesse período. Abrams afirma que Washington “reconhecerá os resultados de uma eleição livre e imparcial, sem importar qual partido ganhe…”.
Sublinhou que “os militares desempenharão um papel essencial” para levar a cabo a “mudança pacífica e dar forma ao futuro da Venezuela” , mas que devem cessar de cumprir o papel repressivo que lhes foi assinado por Maduro, como também “expulsar os agentes de inteligência cubanos” que os espiam.
Esta proposta foi anunciada uma semana depois que Washington acusou de “narcoterrorismo” a Maduro e mais de uma dezena de altos funcionários de seu governo.
Mas o plano apresentado hoje, interpretado por alguns como uma mudança na política de Washington após meses de frustração – às vezes explícita – de Trump e seu governo diante do fracasso da mudança de regime que eles têm buscado na Venezuela durante meses, não esclarece o que é oferecido a Maduro e seus aliados.
Para alguns, a iniciativa carece de sentido. O deputado democrata de maior posto no Comitê de Assuntos Exteriores da câmara baixa comentou que “por um lado se está dizendo aos funcionários do regime de Maduro que não podem fazer nada para frear que o Departamento de Justiça dos Estados Unidos os acuse, enquanto por outro, lhes solicita que aceitem um governo de transição em troca de suspensão de sanções não relacionadas”.
Para outros observadores, essa iniciativa é mais que tudo uma manobra para fingir que Washington quer uma saída, quando, na verdade, não apoiou esforços para tentar alcançar soluções políticas anteriores.
David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York
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Tradução: Beatriz Cannabrava
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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