A visita oficial do Príncipe William e Catherine a Kingston, Jamaica, desencadeou manifestações para exigir da monarquia britânica que se desculpe por seu papel no comércio de escravos nesta antiga colônia. O primeiro-ministro da Jamaica, Andrew Holness, advertiu os duques de Cambridge que sua nação está “avançando” e tem a intenção de livrar-se da monarquia, tal como o fez recentemente Barbados.
As estações de televisão, as rádios e os jornais jamaicanos informam sobre o ‘repúdio real’, também dos ‘vivas e vaias’ e sobre os manifestantes ‘tomando uma posição com relação à dor da escravidão’. Os manifestantes exigiram que a monarquia repare monetariamente e se desculpe por seu papel no comércio de escravos que levou à ilha milhares de africanos em condições inumanas. Holness disse depois ao casal real que, embora os jamaicanos estivessem “muito, muito felizes” por dar-lhes as Boas-vindas, “há problemas aqui que, como sabem, estão por resolver-se”. Acrescentou que sua nação está “avançando” e tem “verdadeiras ambições” de tornar-se um “país independente, desenvolvido e próspero”.
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O Principe Wiliam e a princesa Catherine foram alvos de protestos na Jamaica
Seus comentários seguiram-se a sua declaração do ano passado de que “não havia dúvida” de que seu país se convertiria em uma república. Os políticos estão pressionando para que a medida não tarde mais do que dois anos e esperam que se realize um referendo antes do final de 2022.
Os príncipes tinham previsto percorrer Trench Town, lugar de nascimento do rocksteady e do reggae, onde cresceu Bob Marley. O casal cancelou outra fase de sua visita a Bélice no início de seu tour pelo Caribe devido a queixas de comunidades indígenas.
Os manifestantes levantaram o punho na terça-feira enquanto vestiam camisetas impressas com um par de punhos negros com algemas rodeados pelas frases “¡Seh Yuh Sorry!” e “Desculpe-se agora!” como demonstraram apenas umas horas antes da chegada do Príncipe William e de Kate. “Reis, rainhas, princesas e príncipes pertencem aos contos de fadas, NÃO à Jamaica!” dizia um cartaz erguido por uma jovem.
A manifestação ocorreu um par de dias depois que dezenas de líderes proeminentes na Jamaica publicaram uma carta exigindo que a Grã Bretanha se desculpe e pague reparações pela escravidão a sua ex colônia. Também criticaram a viagem de uma semana pela América Central e o Caribe que o duque e a duquesa de Cambridge iniciaram no sábado, e que coincide com o 60º aniversário da independência da Jamaica e o 70º aniversário da coroação da rainha Elisabeth II.
Maziki Thame, professor da Universidade das Índias Ocidentais, disse que os jamaicanos têm estado buscando reparações durante décadas. “Esta não é uma causa nova”, afirmou em uma entrevista telefônica enquanto se preparava para unir-se à manifestação. «A pergunta é se obterá alguma coisa… se os britânicos estão prontos para lidar com sua história».
O império britânico controlou a Jamaica durante mais de 300 anos e obrigou centenas de milhares de escravos africanos a trabalhar na ilha em condições brutais. O açúcar substituiu o tabaco e o cacau como cultivo principal, com umas 430 fazendas canavieiras registradas em meados do século XVIII, frente às 57 de quase um século antes.
Segundo Londres, a Grã Bretanha e a Jamaica têm uma intensa relação comercial, a ilha exportando bens que incluem rum e açúcar de cana sem refinar ao Reino Unido. Calcula-se que 55.000 cidadãos britânicos vivam na Jamaica, enquanto cerca de 800.000 pessoas de ascendência jamaicana vivem no Reino Unido.
Frente à tentativa de cortejar os jamaicanos durante sua viagem à ilha, o duque e a duquesa de Cambridge foram informados na quarta-feira pelo primeiro ministro Andrew Holness da intenção do país de cortar os laços com a família real e tornar-se uma república.
Durante uma chamada de cortesia com o duque e a duquesa de Cambridge, William e Kate, Holness disse que, em breve, a Jamaica tornar-se-á um país «totalmente independente».
“A Jamaica é, como verão, um país muito orgulhoso de nossa história, muito orgulhoso do que conseguimos, e seguimos adiante”.
O primeiro ministro afirmou que o governo tem a intenção de obter os documentos necessários e participar dos procedimentos pertinentes com o objetivo de «cumprir nossas verdadeiras ambições como um país independente, desenvolvido e próspero».
*Jornalista venezuelana, analista de temas da América Central e do Caribe, associada ao Centro Latinoamericano de Análise Estratégica (CLAE, www.estrategia.la)
Tradução de Ana Corbisier
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